Capítulo 1
- No princípio era a Palavra; e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus.
- Esta estava no princípio junto de Deus.
- Por esta foram feitas todas as coisas; e sem ela, não se fez coisa alguma do que está feito.
- Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
- E a luz nas trevas resplandece; porém as trevas não a compreenderam.
- Houve um homem enviado por Deus que tinha por nome João.
- Este veio por testemunho, para que desse testemunho da luz; para que todos por ele cressem.
- Não era ele próprio a luz, mas era enviado para que desse testemunho da luz.
- Este era a luz verdadeira, que a todo homem, que neste mundo vem, ilumina.
- No mundo estava; e por ele foi feito o mundo, e o mundo o não conheceu.
- Ao que era seu próprio veio, e os seus não o receberam.
- Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus, isto é, aos que em seu nome crêem.
- Os quais não são gerados de sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade de varão; mas sim de Deus.
- E aquela Palavra encarnou, e habitou entre nós; e vimos sua glória, glória como do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.
- João deu testemunho dele, e clamou, dizendo: Este é aquele de quem eu dizia: O que após mim vem, antes de mim é; porque é primeiro que eu.
- E de sua plenitude recebemos todos também graça por graça.
- Porque a Lei, por Moisés foi dada; mas a graça, e a verdade também, por Jesus Cristo foi feita.
- A Deus, nunca ninguém o viu; .
- E este é o testemunho de João, quando os judeus mandaram de Jerusalém sacerdotes e levitas que lhe perguntassem: Tu, quem és?
- E confessou, e não negou. E confessou: Eu não sou o Cristo.
- E perguntaram-lhe: Quem então? És tu Elias? E disse: Não sou. És tu o profeta? E respondeu: Não.
- Disseram-lhe, pois: Quem és? Para que demos resposta aos que nos enviaram. Que dizes de ti mesmo?
- Disse: Eu sou a voz do que clama no deserto. Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.
- E os que foram enviados eram dos fariseus.
- E perguntaram-lhe, e disseram-lhe: Por que, pois, batizas, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?
- E João lhes respondeu, dizendo: Eu batizo com água; mas no meio de vós está quem vós outros não conheceis.
- Este é aquele que após mim vem, que já é antes de mim; do qual eu não sou digno de desatar a correia do sapato.
- Estas coisas aconteceram em Betabara, da outra margem do Jordão, lá onde João batizava.
- No seguinte dia, viu João a Jesus, o qual vinha a ele. E disse: Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.
- Este é aquele de quem eu disse: Após mim vem um varão, que já é antes de mim; porque já era primeiro que eu.
- E eu não o conhecia; mas para que a Israel fosse manifesto, por isso é que vim eu batizando com água.
- E João deu testemunho, dizendo: Eu vi o Espírito que, como pomba, descia do céu; e repousou sobre ele.
- E eu não o conhecia. Mas aquele que com água me mandou a batizar, esse mesmo me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito, e sobre o qual ele repousa, esse é o que com Espírito Santo batiza.
- E eu o vi, e tenho dado testemunho de que este é o Filho de Deus.
- No seguinte dia, estava outra vez ali João, e também dois de seus discípulos.
- E vendo por ali andar a Jesus, disse: Eis o cordeiro de Deus.
- E ouviram-no falar os dois discípulos, e seguiram a Jesus.
- E virando-se Jesus, e vendo que o seguiam, disse-lhes: Que buscais? E eles lhe disseram: Rabi – que traduzido quer dizer “mestre” –, onde moras?
- Disse-lhes: Vinde, e vede. Vieram, pois, e viram onde morava; e ficaram com ele aquele dia, porque já era perto das dez horas.
- Era André, o irmão de Simão Pedro, um dos dois que ouviram aquilo de João e o haviam seguido.
- Este achou primeiro ao seu irmão, e disse-lhe: Já achamos o Messias – que traduzido quer dizer “o Cristo”.
- E trouxe-o a Jesus. E vendo-o Jesus, disse: Tu és Simão, filho de Jonas; tu serás chamado Cefas – que quer dizer Pedro.
- No dia seguinte, quis Jesus ir à Galileia. E achou a Filipe, ao qual disse: Segue-me.
- E era Filipe de Betsaida, a mesma cidade de André e de Pedro.
- Filipe achou a Natanael, e disse-lhe: Temos achado aquele de quem Moisés na Lei escreveu, e também os profetas, isto é, a Jesus, o filho de José, de Nazaré.
- E disse-lhe Natanael: Pode de Nazaré haver coisa alguma boa? Disse-lhe Filipe: Vem, e vê-o.
- Viu Jesus vir até si a Natanael. E disse acerca dele: Eis aqui um que é verdadeiramente israelita, em quem engano não há!
- E disse-lhe Natanael: De onde tu me conheces a mim? Respondeu-lhe Jesus, e disse-lhe: Antes que Filipe te chamasse, quando debaixo da figueira estavas, eu te vi a ti.
- Respondeu Natanael, e disse-lhe: Rabi, tu és o Filho de Deus! Tu és o rei de Israel!
- Respondeu Jesus, e disse-lhe: Porque te disse “debaixo da figueira te vi”, crês? Coisas maiores que estas verás.
- E disse-lhe: Em verdade, em verdade vos digo que, daqui em diante, vereis aberto o céu; e os anjos de Deus sobre o Filho do homem subindo e descendo.
Capítulo 2
- E ao terceiro dia, fizeram-se umas bodas em Caná da Galileia; e estava ali a mãe de Jesus.
- E foi também convidado Jesus, com seus discípulos, às bodas.
- E faltando o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não têm mais vinho.
- E disse-lhe Jesus: Que tenho eu contigo, ó mulher? Ainda minha hora não é vinda.
- Disse sua mãe aos servidores: Fazei tudo quanto ele vos disser.
- E estavam ali postas seis tinas de água, feitas de pedra, conforme à purificação dos judeus; de modo que cabiam em cada uma dois ou três almudes.
- Disse-lhes Jesus: Enchei estas tinas de água. E encheram-nas até em cima.
- E disse-lhes: Tirai agora, e apresentai ao mestre-sala. E apresentaram-lha.
- E assim que o mestre-sala provou a água transformada em vinho (e não sabia donde era, porém os servidores que haviam tirado a água o sabiam), chamou o mestre-sala ao esposo.
- E disse-lhe: Todo homem põe primeiro o bom vinho, e quando já beberam bastante, aí então o que é pior. Mas tu guardaste o bom vinho até agora!
- Este princípio de sinais fez Jesus em Caná da Galileia. E manifestou sua glória, e creram nele os seus discípulos.
- Depois disto desceu a Cafarnaum ele, e sua mãe, e seus irmãos, e seus discípulos; e estiveram ali não muitos dias.
- E estava perto a Páscoa dos judeus; e subiu Jesus a Jerusalém.
- E achou no templo os que vendiam bois, e ovelhas, e pombas; e os cambistas ali assentados.
- E havendo feito um açoite de cordéis, lançou-os a todos fora do templo, e às ovelhas, e aos bois; e espalhou o dinheiro dos cambistas, e transtornou as mesas.
- E aos que vendiam as pombas, disse: Tirai daqui isto; e não façais da casa de meu Pai uma casa de venda.
- Então se lembraram seus discípulos de que estava escrito: O zelo de tua casa me devorou
- E responderam os judeus, e disseram-lhe: Que sinal nos mostras tu para tais coisas fazeres?
- Respondeu Jesus, e disse-lhes:
- Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos foi este templo edificado, e levantá-lo-ás tu em três dias?
- Mas ele falava isto do templo do seu corpo.
- Portanto, quando ressuscitou dentre os mortos, lembraram-se seus discípulos de que isto lhes havia dito. E creram na Escritura, e na palavra que Jesus lhes dissera.
- E estando ele em Jerusalém pela Páscoa, no dia da festa, creram muitos em seu nome, vendo os sinais que fazia.
- Mas o próprio Jesus não se confiava a si mesmo a eles, porque a todos os conhecia.
- E não necessitava de que alguém, acerca do homem, lhe desse testemunho; porque bem sabia ele o que no homem havia.
Capítulo 3
- E havia um homem dentre os fariseus que se chamava Nicodemos, príncipe dos judeus.
- Este veio a Jesus de noite, e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que, da parte de Deus, tens vindo como mestre; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus com ele não for.
- Respondeu Jesus, e disse-lhe: Em verdade, em verdade te digo que, aquele que outra vez não nascer, não pode ver o reino de Deus.
- Disse-lhe Nicodemos: Como pode o homem nascer, sendo já velho? Porventura, pode entrar outra vez no ventre de sua mãe, e nascer?
- Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, aquele que da água e do Espírito não nascer, não pode entrar no reino de Deus.
- O que é nascido da carne, carne é; e o que é nascido do Espírito, espírito é.
- Não te maravilhes de que te disse: Necessário vos é nascer outra vez.
- O vento, para onde quer, sopra; e ouves seu som, porém não sabes nem de onde vem, nem para onde vai. Assim é todo aquele que é nascido do Espírito.
- Respondeu Nicodemos, e disse-lhe: Como se pode fazer isto?
- Respondeu Jesus, e disse-lhe: Tu és mestre de Israel, e nem isto sabes?
- Em verdade, em verdade te digo que, o que sabemos, isso falamos; e o que visto temos, isso mesmo testificamos. E vós não recebeis o nosso testemunho.
- Se havendo-vos eu dito coisas terreais, vós as não credes; como crereis, se eu vos disser as celestiais?
- E ninguém ao céu subiu, senão o que do céu desceu: o Filho do homem, que está no céu.
- E tal como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do homem seja levantado.
- Para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.
- Porque de tal maneira amou Deus ao mundo, que deu o seu Filho unigênito; para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.
- Porque não mandou Deus a seu Filho ao mundo para que ao mundo condene; mas para que o mundo seja salvo por ele.
- Quem nele crer, não é condenado; mas quem não crê, já está condenado, porque não creu no nome do unigênito Filho de Deus.
- E esta é a condenação: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque eram más as suas obras.
- Porque todo aquele que pratica o mal, aborrece a luz, e não vem à luz; para que as suas obras não sejam redarguidas.
- Mas quem pratica a verdade, esse vem à luz; para que as suas obras sejam manifestas, visto que são feitas em Deus.
- Passado isto, veio Jesus com seus discípulos à terra da Judeia; e estava ali com eles, e batizava.
- E batizava também João em Enom, junto a Salim; porque havia ali muitas águas, e vinham para ali, e eram batizados.
- Porque João ainda não havia sido levado à prisão.
- E houve uma questão entre os discípulos de João e os judeus, acerca da purificação.
- E vieram a João, e disseram-lhe: Rabi, aquele que contigo estava da outra margem do Jordão, do qual tu deste testemunho, eis que está batizando; e todos vêm a ele.
- Respondeu João, e disse: Não pode o homem coisa alguma receber, se do céu não lhe for dado.
- Vós outros mesmos me sois testemunhas de que disse: Eu não sou o Cristo; mas que diante dele sou enviado.
- Aquele que tem a esposa, é o esposo; mas o amigo do esposo, que lhe assiste e o ouve, regozija-se grandemente pela voz do esposo. Assim, pois, este meu regozijo já está cumprido!
- A ele convém crescer; e a mim, diminuir.
- Aquele que de cima vem, sobre todos está; aquele que é da terra, terreno é, e coisas terrenas fala. Aquele que vem do céu, sobre todos está.
- E aquilo que viu e ouviu, isso mesmo testifica; e ninguém recebe o seu testemunho.
- Aquele que o seu testemunho recebeu, esse selou que Deus é verdadeiro.
- Porque aquele que Deus enviou, as palavras de Deus fala; porque não lhe dá Deus o Espírito por medida.
- O Pai ama ao Filho, e todas as coisas deu em sua mão.
- Aquele que no Filho crê, tem a vida eterna; mas aquele que ao Filho é incrédulo, não verá a vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele.
Capítulo 4
- De maneira que, assim que o Senhor entendeu que os fariseus ouviram que Jesus fazia mais discípulos, e também batizava mais que João
- (Ainda que o próprio Jesus não batizava, mas sim os seus discípulos),
- Deixou a Judeia, e foi-se outra vez à Galileia.
- E era necessário que passasse por Samaria.
- Veio, pois, a uma cidade de Samaria chamada Sicar; junto à herdade que Jacó deu a José, seu filho.
- E estava ali a fonte de Jacó. Jesus, pois, já cansado do caminho, assentou-se assim junto à fonte; era isto quase a hora sexta.
- Veio uma mulher de Samaria a tirar água. E Jesus lhe disse: Dá-me de beber.
- (Porque seus discípulos tinham ido à cidade, para comprar o que comer).
- E a mulher samaritana lhe disse: Como, sendo tu judeu, me pedes a mim de beber, que sou mulher samaritana? (Porque os judeus não convivem com os samaritanos).
- Respondeu Jesus, e disse-lhe: Se tu o dom de Deus conheceras, e quem é o que te diz “dá-me de beber”; tu lhe pedirias a ele, e ele te daria a ti água viva.
- A mulher lhe disse: Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo. De onde, pois, tens a água viva?
- És tu maior que nosso pai, Jacó, que nos deu este poço? Do qual ele mesmo bebeu, e seus filhos, e seus gados?
- Respondeu Jesus, e disse-lhe: Qualquer que desta água beber, há de tornar a ter sede.
- Porém aquele que beber da água que eu lhe der, nunca mais sede há de ter. Mas a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.
- Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me desta água! Para que não tenha mais sede, nem aqui venha a buscá-la.
- Jesus lhe disse: Vai, chama ao teu marido, e vem cá.
- Respondeu a mulher, e disse-lhe: Não tenho marido. Disse-lhe Jesus: Bem disseste “não tenho marido”.
- Porque cinco maridos já tiveste; e o que agora tens, não é teu marido. Isto disseste com verdade.
- Disse-lhe a mulher: Senhor, parece-me que és profeta.
- Nossos pais neste monte adoraram, e vós outros dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se convém adorar.
- Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem quando, nem neste monte, nem em Jerusalém, ao Pai adorareis.
- Vós outros adorais o que não sabeis; nós outros adoramos o que sabemos, porque dos judeus é a salvação.
- Porém a hora vem, e agora é, quando os verdadeiros adoradores ao Pai adorarão em espírito e em verdade; porque também o Pai busca a tais que assim o adorem.
- Deus é espírito; e os que o adoram, em espírito e em verdade é necessário que o adorem.
- Disse-lhe a mulher: Eu sei que há de vir o Messias, o qual se chama “o Cristo”. Quando ele vier, ele mesmo nos declarará todas as coisas.
- Disse-lhe Jesus: Eu o sou, o mesmo que contigo estou falando.
- E nisto vieram seus discípulos; e maravilharam-se de que falava com uma mulher. Mas nenhum deles lhe disse: Que perguntas? Ou, por que com ela estás falando?
- Então deixou a mulher seu cântaro, e foi à cidade; e disse àqueles homens:
- Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito! Não é este o Cristo?
- Então saíram da cidade, e vieram a ele.
- E nesse ínterim, rogavam-lhe os discípulos, dizendo: Rabi, come.
- Porém ele lhes disse: Uma comida tenho que comer, a qual vós outros não sabeis.
- Então os discípulos diziam entre si: Trouxe-lhe alguém algo de comer?
- Disse-lhes Jesus: Minha comida é que eu faça a vontade daquele que me enviou, e que cumpra a sua obra.
- Não dizeis vós outros que ainda há quatro meses até a sega? Eis que vos digo: Levantai vossos olhos, e vede as terras, que já estão brancas para a sega.
- E o que sega, recebe galardão, e ajunta fruto para a vida eterna; para que ambos se regozijem, tanto o que semeia, como também o que sega.
- Porque nisto é o ditado verdadeiro: que um é o que semeia, e outro o que sega.
- Eu vos enviei a segar o que vós outros não lavrastes: outros lavraram, e vós outros entrastes em suas lavouras.
- E muitos dos samaritanos daquela cidade creram nele, pela palavra da mulher, a qual dava testemunho, dizendo: A mim me disse tudo quanto tenho feito!
- Mas vindo os samaritanos a ele, rogaram-lhe que se ficasse com eles; e ficou-se ali por dois dias.
- E creram ainda muitos mais, pela palavra dele.
- E diziam à mulher: Já não cremos só por teu dizer, porque nós mesmos o temos ouvido; e sabemos que verdadeiramente este é o salvador do mundo, o Cristo.
- E dois dias depois, saiu dali e foi-se à Galileia.
- Porque o próprio Jesus deu testemunho de que não tem o profeta honra em sua pátria.
- E ao chegar à Galileia, os galileus o receberam, tendo visto todas as coisas que em Jerusalém, no dia da festa, fizera; porque também eles tinham ido ao dia da festa.
- Veio pois Jesus outra vez à Caná da Galileia, lá onde da água fizera vinho. E estava ali um da corte do rei, cujo filho estava enfermo em Cafarnaum.
- Este, assim que ouviu dizer que Jesus vinha da Judeia à Galileia, foi ter com ele; e rogava-lhe que descesse, e sarasse ao seu filho, porque este já ia morrendo.
- Então Jesus lhe disse: Se sinais e milagres não virdes, de modo algum crereis.
- O que era da corte do rei lhe disse: Senhor, desce, antes que meu filho morra!
- Disse-lhe Jesus: Vai, teu filho vive. Creu o homem na palavra que Jesus lhe disse, e foi-se.
- E indo-se ele já, seus servos lhe saíram ao encontro, e lhe deram novas, dizendo: Teu filho vive!
- Então ele lhes perguntou a que hora começara a estar melhor. E disseram-lhe: Ontem, às sete, a febre o deixou.
- O pai então entendeu que aquela era a mesma hora quando Jesus lhe disse: Teu filho vive. E creu ele, e toda a sua casa.
- Este segundo sinal tornou Jesus a fazer, quando veio da Judeia à Galileia.
Capítulo 5
- Depois destas coisas, era um dia de festa dos judeus; e subiu Jesus a Jerusalém.
- E estava em Jerusalém, junto à Porta das Ovelhas, um tanque que, em hebraico, se chama Betesda; o qual tem cinco alpendres.
- Nestes estava deitada uma grande multidão de enfermos, cegos, mancos, dessecados; os quais estavam esperando o movimento da água.
- Porque um anjo descia a certo tempo ao tanque, e revolvia a água; e o que primeiro descia no tanque depois do movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse.
- E estava ali um homem que havia estado enfermo por trinta e oito anos.
- Vendo Jesus a este deitado, e entendendo que já havia muito tempo que estava deitado, disse-lhe: Queres ser curado?
- E o enfermo lhe respondeu: Senhor, não tenho homem nenhum que, quando a água se revolve, me ponha no tanque; porque enquanto eu vou, outro antes de mim já tem descido.
- Disse-lhe Jesus: Levanta-te, toma teu leito, e anda.
- E logo aquele homem ficou são; e tomou seu leito, e ia-se. E era sábado aquele dia.
- Então os judeus diziam àquele que havia sido curado: É sábado! Não te é lícito levar teu leito!
- Respondeu-lhes ele: Aquele que me sarou, esse mesmo me disse: Toma teu leito, e anda.
- Perguntaram-lhe então: Quem é o que te disse “toma teu leito, e anda”?
- E o que havia sido sarado não sabia quem ele era; porque Jesus tinha se retirado da multidão que estava naquele lugar.
- Depois achou-o Jesus no templo. E disse-lhe: Eis que já estás são; não peques mais, para que não te suceda alguma coisa pior.
- Foi então aquele homem, e deu aviso aos judeus de que era Jesus o que o tinha sarado.
- E por esta causa, perseguiam os judeus a Jesus; e procuravam matá-lo, porque fazia estas coisas em dia de sábado.
- E Jesus lhes respondeu: Meu Pai até agora está obrando, e eu também obro.
- Por isso, tanto mais procuravam ainda os judeus matá-lo; porque não só quebrantava o sábado, mas ainda também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.
- Respondeu pois Jesus, e disse-lhes: Em verdade, em verdade vos digo que não pode o Filho coisa alguma fazer de si mesmo, se não o vir fazer ao Pai. Porque tudo quanto este faz, o faz também semelhantemente o Filho.
- Porque o Pai ama ao Filho; e todas as coisas que faz, lhe mostra. E maiores obras que estas lhe mostrará, para que vós outros vos maravilheis.
- Porque assim como o Pai ressuscita aos mortos e lhes dá vida, assim também o Filho, a quantos quer, dá vida.
- Porque o Pai a ninguém julga; mas todo o juízo deu ao Filho.
- Para que todos honrem ao Filho, tal como honram ao Pai: quem não honra ao Filho, não honra ao Pai que o enviou.
- Em verdade, em verdade vos digo que, quem ouve minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna; e não irá à condenação, mas da morte passou à vida.
- Em verdade, em verdade vos digo que virá a hora, e agora é, quando os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem, viverão.
- Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, assim deu também ao Filho que tivesse vida em si mesmo.
- E também lhe deu poder para fazer juízo, porquanto é o Filho do homem.
- Não vos maravilheis disto; porque virá a hora quando todos os que estão nos sepulcros ouvirão sua voz.
- E os que fizeram o bem, sairão à ressurreição da vida; mas os que fizeram o mal, à ressurreição da condenação.
- Não posso eu, por mim mesmo, fazer coisa alguma: tal como ouço, julgo. E o meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou.
- Se eu dou testemunho de mim mesmo, meu testemunho não é verdadeiro.
- Outro é o que de mim dá testemunho; e sei que o testemunho que ele de mim dá, é verdadeiro.
- Vós outros enviastes homens a João, e ele deu testemunho da verdade.
- Mas eu não recebo testemunho de homem; mas digo-vos isto para que vos salveis.
- Ele era candeia que ardia, e alumiava; e vós outros quisestes, por um pouco de tempo, alegrar-vos em sua luz.
- Mas eu tenho maior testemunho que o de João; porque as obras que o Pai me deu para que eu cumprisse, as mesmas obras que faço dão testemunho de mim, de que o Pai me enviou.
- E o Pai, que me enviou, ele mesmo deu testemunho de mim. Nunca ouvistes sua voz, nem vistes sua aparência.
- Nem tendes sua palavra em vós outros permanecente; porque ao que ele enviou, a esse vós outros não credes.
- Esquadrinhai as Escrituras; porque a vós outros vos parece que nelas tendes a vida eterna, e são elas mesmas as que de mim dão testemunho.
- E não quereis vir a mim, para que tenhais vida.
- Honra de homens não aceito.
- Mas bem vos conheço, que não tendes o amor de Deus em vós mesmos.
- Eu, em nome de meu Pai, vim; e vós outros não me recebeis. Se um outro vier em seu próprio nome, a esse sim recebereis.
- Como podeis crer, vós que aceitais a honra uns dos outros, e não buscais a honra que só de Deus vem?
- Não penseis que diante do Pai eu vos haja de acusar: Moisés, em quem vós outros esperais, é o que vos acusa.
- Porque se vós outros a Moisés crêsseis, também a mim me creríeis; porque acerca de mim ele escreveu.
- E se em seus escritos não credes, como em minhas palavras crereis?
Capítulo 6
- Transcorridas estas coisas, passou-se Jesus para a outra margem do mar da Galileia, que é o mar de Tiberíades.
- E seguia-o grande multidão, porque viam os sinais que fazia nos enfermos.
- Subiu pois Jesus a um monte, e assentou-se ali com seus discípulos.
- E era já perto da Páscoa, o dia da festa dos judeus.
- E levantando Jesus os olhos, e vendo que tinha vindo a ele grande multidão, disse a Filipe: Onde compraremos pão, para que estes comam?
- Mas isto dizia provando-o; porque bem sabia ele o que havia de fazer.
- Respondeu-lhe Filipe: Duzentos denários de pão não lhes bastarão, para que cada um deles tome um pouco.
- Disse-lhe um dos seus discípulos, isto é, André, irmão de Simão Pedro:
- Um menino está aqui, o qual tem cinco pães de cevada, e dois peixinhos; mas que é isto, entre tantos?
- Então Jesus disse: Fazei assentar a gente. E havia muita erva naquele lugar. E assentaram-se cerca de cinco mil varões em número.
- E tomou Jesus aqueles pães e, havendo dado graças, repartiu-os aos discípulos, e os discípulos aos que estavam assentados; assim também dos peixes, tanto quanto queriam.
- E quando já estiveram fartos, disse a seus discípulos: Recolhei os pedaços que têm sobejado, para que nada se perca.
- Recolheram-nos, pois; e encheram doze cestos dos pedaços dos cinco pães de cevada, que sobejaram aos que haviam comido.
- Vendo aqueles homens, então, o sinal que Jesus tinha feito, disseram: Este é verdadeiramente o profeta que ao mundo havia de vir!
- E entendendo Jesus que haviam de vir para arrebatá-lo e fazê-lo rei, tornou ele a retirar-se ao monte sozinho.
- E quando já entardecia, desceram seus discípulos ao mar.
- E entrando num barco, passaram da outra margem do mar até Cafarnaum; e era já escuro, e ainda Jesus não tinha vindo a eles.
- E o mar começou a se levantar com uma grande ventania.
- E havendo já navegado até vinte e cinco ou trinta estádios, viram a Jesus, o qual vinha andando sobre o mar, e se vinha chegando ao barco; e tiveram medo.
- Mas ele lhes disse: Sou eu, não tenhais medo.
- E eles o receberam de boa vontade no barco; e logo o barco chegou à terra aonde iam.
- No dia seguinte, vendo a multidão que estava da outra margem do mar que não havia ali mais que um barquinho, em que seus discípulos haviam entrado; e que Jesus não entrara com seus discípulos naquele barquinho, mas seus discípulos haviam ido sozinhos.
- Mas outros barquinhos arribavam de Tiberíades, perto do lugar onde haviam comido o pão, depois de o Senhor haver dado graças.
- Vendo, pois, a multidão que Jesus não estava ali, nem seus discípulos; entraram também eles nos barquinhos, e vieram a Cafarnaum em busca de Jesus.
- E achando-o da outra margem do mar, disseram-lhe: Rabi, quando chegaste aqui?
- Respondeu-lhes Jesus, e disse: Em verdade, em verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas pelo pão que comestes, e vos fartastes.
- Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que para vida eterna permanece, a qual o Filho do homem vos dará; porque a este assinalou Deus Pai.
- E disseram-lhe: Que faremos para obrarmos as obras de Deus?
- Respondeu Jesus, e disse-lhes: Esta é a obra de Deus: que creiais naquele que ele enviou.
- Disseram-lhe então: Que sinal, pois, fazes tu, para que o vejamos e te creiamos? Que obras fazes?
- Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Pão do céu lhes deu a comer.
- E Jesus lhes disse: Em verdade, em verdade vos digo que não vos deu Moisés o pão do céu; mas o meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu.
- Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu, e dá vida ao mundo.
- E disseram-lhe: Senhor, dá-nos sempre este pão.
- E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida. Quem a mim vier, nunca terá fome; e quem em mim crê, já não terá mais sede.
- Mas já vos tenho dito que me vistes, e não credes.
- Todo aquele que o Pai me dá, virá a mim; e ao que a mim vem, não o lançarei fora.
- Porque eu desci do céu, não para fazer minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.
- E esta é a vontade do Pai que me enviou: que nada perca de tudo quanto me der, mas que no último dia o ressuscite.
- Esta é também a vontade daquele que me enviou: que todo aquele que vê o Filho e nele crê, tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.
- Murmuravam então acerca dele os judeus, porque tinha dito: Eu sou o pão que desceu do céu.
- E diziam: Não é este Jesus o filho de José, cujos pai e mãe nós outros conhecemos? Como, pois, diz este agora: Do céu tenho descido?
- E Jesus respondeu, e disse-lhes: Não murmureis entre vós outros.
- Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o puxar; e no último dia, eu o ressuscitarei.
- Escrito está nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Assim que, todo aquele que do Pai o ouviu e aprendeu, esse vem a mim.
- Não que alguém haja visto ao Pai, senão aquele que é vindo de Deus: esse tem visto ao Pai.
- Em verdade, em verdade vos digo que, aquele que em mim crê, tem vida eterna.
- Eu sou o pão da vida.
- Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram.
- Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra.
- Eu sou o pão vivo que desceu do céu: se alguém deste pão comer, para sempre há de viver. E o pão que eu hei de dar é minha carne, a qual hei de dar pela vida do mundo.
- Então os judeus contendiam entre si, dizendo: Como nos pode este dar de comer sua própria carne?
- E Jesus lhes disse: Em verdade, em verdade vos digo que, se a carne do Filho do homem não comerdes, nem seu sangue beberdes, não tereis vida em vós mesmos.
- Quem come minha carne, e bebe meu sangue, tem a vida eterna; e no último dia, eu o ressuscitarei.
- Porque minha carne verdadeiramente é comida, e meu sangue verdadeiramente é bebida.
- Quem comer minha carne, e beber meu sangue, em mim permanece, e eu nele.
- Assim como o Pai que é vivente me enviou, e eu vivo pelo Pai; assim também quem a mim comer, por mim há de viver.
- Este é o pão que do céu desceu, não como vossos pais que comeram o maná, e morreram; quem deste pão comer, eternamente há de viver.
- Estas coisas disse na sinagoga, ensinando em Cafarnaum.
- E muitos de seus discípulos, ouvindo isto, disseram: Dura é esta palavra. E quem a pode ouvir?
- E sabendo Jesus em si mesmo que seus discípulos acerca disto murmuravam, disse-lhes: Isto vos escandaliza?
- Pois que será se virdes ao Filho do homem subir aonde estava primeiro?
- O espírito é o que dá vida, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos digo, espírito e vida são.
- Mas alguns há, dentre vós outros, que não crêem. Porque bem sabia Jesus, já desde o princípio, quem eram os que não haviam de crer, e quem o havia de entregar.
- E dizia: Por isso vos tenho dito que ninguém a mim pode vir, se por meu Pai não lhe for dado.
- Desde então tornavam-se muitos de seus discípulos atrás, e já não andavam com ele.
- Disse então Jesus aos doze: Não quereis vós outros também ir?
- E respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, a quem iremos? Da vida eterna, tu tens as palavras!
- E já nós outros cremos, e reconhecemos que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente.
- Jesus lhes respondeu: Não vos escolhi eu os doze? E um de vós outros é diabo?
- E falava isto de Judas, filho de Simão Iscariotes; porque este era o que o havia de entregar, o qual também era um dos doze.
Capítulo 7
- E passadas estas coisas, andava Jesus na Galileia; pois já não queria mais andar na Judeia, porquanto os judeus procuravam matá-lo.
- E estava já perto o dia da festa das cabanas dos judeus.
- E disseram-lhe seus irmãos: Passa-te daqui, e vai-te à Judeia; para que também teus discípulos vejam as obras que fazes.
- Pois ninguém que procura ser renomado, faz alguma coisa em secreto. Se estas coisas fazes, manifesta-te ao mundo!
- Porque nem mesmo seus irmãos criam nele.
- Disse-lhes então Jesus: Meu tempo ainda não é vindo; mas vosso tempo sempre está pronto.
- Não vos pode o mundo aborrecer a vós outros; mas a mim me aborrece, porque acerca dele dou testemunho, de que as suas obras são más.
- Podeis vós outros subir a esta festa; eu não subo ainda a esta festa, porque ainda meu tempo não é cumprido.
- E havendo-lhes dito isto, ficou-se na Galileia.
- Mas havendo seus irmãos já subido, então subiu ele também à festa; não manifestamente, mas como em segredo.
- E buscavam-no os judeus no dia da festa, e diziam: Onde está ele?
- E havia grande murmuração por causa dele na multidão. Porque uns diziam: Bom é; mas outros diziam: Não, antes engana às multidões.
- Mas ninguém falava dele abertamente, com medo dos judeus.
- E no meio da festa, subiu Jesus ao templo; e ensinava.
- E maravilhavam-se os judeus, dizendo: Como sabe este letras, não as havendo aprendido?
- Respondeu-lhes Jesus, e disse: Minha doutrina não é minha, mas sim daquele que me enviou.
- Quem quiser fazer sua vontade, da mesma doutrina conhecerá: se ela vem de Deus, ou se eu falo de mim mesmo.
- Quem fala de si mesmo, honra própria busca; mas quem busca a honra daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça.
- Não vos deu Moisés a Lei? E nenhum de vós outros faz a Lei? Por que me procurais matar?
- Respondeu a multidão, e disse: O demônio tens! Quem é que te procura matar?
- Respondeu Jesus, e disse-lhes: Uma só obra fiz, e vós todos vos maravilhais.
- Por isso Moisés vos deu a circuncisão – não porque de Moisés ela seja, mas dos patriarcas –, e no sábado circuncidais ao homem.
- Se o homem, em dia de sábado, recebe a circuncisão, para que a Lei de Moisés não seja quebrantada; indignai-vos comigo porque, num sábado, sarei a todo um homem?
- Não julgueis segundo o que de fora aparece, mas julgai justo juízo.
- Diziam então alguns dentre os de Jerusalém: Não é este aquele que buscam para matá-lo?
- E eis que fala publicamente, e não lhe dizem nada! Quem sabe se verdadeiramente têm entendido os príncipes que este é mesmo o Cristo?
- Mas este, bem sabemos de onde é; porém quando o Cristo vier, ninguém saberá de onde seja.
- Então clamava Jesus no templo, ensinando, e dizendo: E a mim me conheceis, e sabeis de onde sou. Porém eu não tenho vindo de mim mesmo; mas aquele que me enviou é verdadeiro, ao qual vós outros não conheceis.
- Porém eu o conheço; porque dele sou, e ele me enviou.
- Então procuravam prendê-lo; mas ninguém lançou nele a mão, porque ainda sua hora não era vinda.
- E da multidão, foram muitos os creram nele. E diziam: Quando o Cristo vier, fará mais sinais do que os que este fez?
- Ouviram os fariseus que a multidão murmurava acerca dele estas coisas; e mandaram os príncipes dos sacerdotes e os fariseus, oficiais que o prendessem.
- E Jesus lhes disse: Ainda um pouco de tempo, estarei convosco; e então me irei àquele que me enviou.
- Buscar-me-eis, e não me achareis; e lá onde eu estiver, vós outros não podeis ir.
- Então disseram os judeus entre si: Aonde irá este, de modo que não o achemos? Porventura, ir-se-á aos dispersos entre os gregos, e a ensinar aos gregos?
- Que dito é este que ele disse: Buscar-me-eis, e não me achareis? E lá onde eu estiver, vós outros não podeis ir?
- Porém no último dia, o grande dia da festa, pôs-se Jesus em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba!
- Quem crê em mim, como a Escritura diz, rios de água viva correrão do seu ventre.
- E isto disse ele acerca do Espírito que haviam de receber aqueles que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não era vindo, porquanto ainda Jesus não estava glorificado.
- Então muitos da multidão, ouvindo este dito, diziam: Verdadeiramente, este é o profeta.
- Outros diziam: Este é o Cristo. Mas alguns diziam: Da Galileia há de vir o Cristo?
- Não diz a Escritura que da semente de Davi, e da aldeia de Belém, de onde era Davi, há de vir o Cristo?
- Assim que havia divergência na multidão por causa dele.
- E alguns deles queriam prendê-lo, mas ninguém lançou a mão nele.
- E tornaram os oficiais aos pontífices e fariseus. E eles lhes disseram: Por que não o trouxestes?
- Responderam os oficiais: Nunca homem algum falou como este homem.
- Então lhes responderam os fariseus: Também vós outros estais enganados?
- Porventura, creu nele algum dos príncipes, ou dos fariseus?
- Exceto este vulgo, que não sabe a Lei; malditos são!
- Disse-lhes Nicodemos – o mesmo que a ele de noite viera, que era um deles:
- Julga a nossa Lei ao homem, sem primeiro ouvi-lo? E então entender o que ele tem feito?
- Responderam eles, e disseram-lhe: Não és tu também galileu? Esquadrinha, e vê que nunca da Galileia se levantou profeta algum!
- E tornaram-se cada um para sua casa.
Capítulo 8
- E foi-se Jesus ao Monte das Oliveiras.
- E pela manhã tornou ao templo, e todo o povo veio a ele; e assentando-se, os ensinava.
- Então lhe trouxeram os escribas e fariseus uma mulher tomada em adultério.
- E pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi tomada no próprio feito, adulterando.
- E na Lei nos mandou Moisés apedrejar às tais. Tu, pois, que dizes?
- Mas isto diziam eles tentando-o, para o poderem acusar. Mas inclinando-se Jesus para baixo, pôs-se a escrever com o dedo no chão.
- E como perseverassem perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que dentre vós outros sem pecado está, seja o primeiro que pedra alguma contra ela atire.
- E tornando-se a inclinar para baixo, escrevia no chão.
- Ouvindo pois eles isto, e redarguidos por sua própria consciência, foram-se saindo, um a um, começando dos mais velhos, até os últimos; e ficou só Jesus, e a mulher que no meio estava.
- E endireitando-se Jesus, e não vendo a ninguém mais que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?
- E disse ela: Ninguém, Senhor. Então lhe disse Jesus: Nem eu te condeno; vai-te, e não peques mais.
- E falou-lhes Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo. Quem me seguir, não andará em trevas, mas terá a luz da vida.
- Então lhe disseram os fariseus: Tu de ti mesmo dás testemunho; logo, teu testemunho não é verdadeiro.
- Respondeu Jesus, e disse-lhes: Ainda que eu de mim mesmo dou testemunho, meu testemunho é verdadeiro, porque sei de onde vim, e sei para onde vou. Porém vós outros não sabeis nem de onde venho, nem para onde vou.
- Vós outros segundo a carne julgais; eu não julgo a ninguém.
- E se também julgo, meu juízo é verdadeiro, porque não sou só; mas eu, e o Pai que me enviou.
- Porém também em vossa Lei está escrito que o testemunho de dois homens é verdadeiro.
- Eu sou o que de mim mesmo dou testemunho, e dá testemunho de mim o Pai que me enviou.
- Disseram-lhe, pois: Onde está teu Pai? Respondeu Jesus: Nem a mim me conheceis, nem a meu Pai. Se vós a mim me conhecêsseis, também a meu Pai conheceríeis.
- Estas palavras falou Jesus na tesouraria, estando ensinando no templo; e ninguém o prendeu, porque ainda sua hora não era vinda.
- E disse-lhes Jesus outra vez: Eu me vou; e buscar-me-eis, mas em vosso pecado morrereis. Lá onde eu vou, não podeis vós outros ir.
- Diziam então os judeus: Há de se matar a si mesmo? Pois diz: Lá onde eu vou, vós outros não podeis ir.
- E dizia-lhes: Vós sois de baixo, eu sou de cima. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo.
- Por isso vos disse que em vossos pecados morrereis; porque se não crerdes que eu o sou, em vossos pecados morrereis.
- E diziam-lhe: Tu, quem és? Então Jesus lhes disse: O que desde o princípio já também vos tenho dito.
- Muitas coisas tenho que dizer e julgar acerca de vós outros, mas verdadeiro é aquele que me enviou; e eu, o que dele tenho ouvido, isso falo ao mundo.
- Mas não entendiam que lhes falava do Pai.
- Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes ao Filho do homem, então entendereis que eu o sou, e que nada faço de mim mesmo. Mas isto digo, tal como o Pai me ensinou.
- Porque aquele que me enviou, comigo está: não me tem o Pai deixado só, porque sempre faço o que a ele lhe agrada.
- Falando ele estas coisas, creram muitos nele.
- E dizia Jesus aos judeus que nele haviam crido: Se vós outros em minha palavra permanecerdes, sereis verdadeiramente meus discípulos.
- E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.
- E responderam-lhe: Semente de Abraão somos, e nunca a ninguém servimos! Como dizes tu: Livres sereis?
- Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que faz o pecado, é servo do pecado.
- E o servo não fica em casa para sempre; mas o Filho, para sempre fica.
- Assim que, se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.
- Bem sei que sois semente de Abraão; porém procurais matar-me, porque minha palavra não cabe em vós outros.
- Eu, o que junto de meu Pai vi, falo; e vós, o que junto de vosso pai vistes, fazeis.
- Responderam, e disseram-lhe: Nosso pai é Abraão. Disse-lhes Jesus: Se filhos de Abraão fôsseis, as obras de Abraão faríeis.
- Porém agora, procurais matar-me: homem que vos tenho falado a verdade, a qual de Deus tenho ouvido. Tal não fez Abraão.
- Vós outros fazeis as obras do vosso pai. Disseram-lhe, pois: Nós outros não somos nascidos de fornicação: um Pai temos, isto é, Deus.
- Jesus então lhes disse: Se Deus fosse vosso Pai, verdadeiramente me amaríeis. Porque eu de Deus tenho saído e vindo; pois não tenho vindo de mim mesmo, porém ele me enviou.
- Por que não reconheceis minha linguagem? É porquanto não podeis ouvir minha palavra.
- Vós outros, da parte de pai, o diabo sois; e os desejos de vosso pai quereis cumprir. Ele foi homicida desde o princípio, e não permaneceu na verdade, porque não há verdade nele: quando fala mentira, de si próprio fala, porque é mentiroso, e pai da mentira.
- Porém a mim, que vos digo a verdade, não me credes.
- Quem dentre vós me convence de pecado? E se eu vos digo a verdade, por que me não credes?
- Quem é de Deus, as palavras de Deus ouve; portanto, não as ouvis vós outros, porquanto não sois de Deus.
- Responderam então os judeus, e disseram-lhe: Não dizemos nós mui bem que és samaritano, e tens o demônio?
- Respondeu Jesus: Eu não tenho o demônio. Antes, honro a meu Pai, mas vós outros me desonrais a mim.
- Nem tampouco busco minha honra: há quem a busque, e a julgue.
- Em verdade, em verdade vos digo que, quem minha palavra guardar, nunca para todo sempre a morte verá.
- Então lhe disseram os judeus: Agora conhecemos que tens o demônio! Morreu Abraão, e também os profetas; e dizes tu: Quem minha palavra guardar, nunca para todo sempre a morte provará?
- És tu maior que nosso pai Abraão? O qual morreu, e morreram também os profetas. Quem te fazes a ti mesmo?
- Respondeu Jesus: Se eu a mim mesmo me honro, nada minha honra é. Meu Pai, que vós outros dizeis que é o vosso Deus, é o que me honra.
- Porém vós não o conheceis; mas eu o conheço. E se digo que não o conheço, serei como vós outros mentiroso; mas eu o conheço, e guardo a sua palavra.
- Abraão, vosso pai, se alegrou com desejo de ver o meu dia; e viu-o, e alegrou-se.
- Disseram-lhe então os judeus: Ainda não tens cinquenta anos, e viste a Abraão?
- Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que, antes que Abraão fosse, eu sou.
- Tomaram então pedras para lhe atirarem, mas Jesus se encobriu, e saiu do templo; e atravessando assim por meio deles, se passou.
Capítulo 9
- E indo Jesus passando, viu a um homem cego desde o seu nascimento.
- E perguntaram-lhe seus discípulos, dizendo: Rabi, quem pecou? Este, ou seus pais, para que nascesse cego?
- Respondeu Jesus: Nem este pecou, nem seus pais. Mas isto sucedeu para que as obras de Deus nele se manifestem.
- A mim me convém obrar as obras daquele que me enviou, enquanto dura o dia; a noite vem, quando ninguém pode obrar.
- Enquanto eu no mundo estou, do mundo eu a luz sou.
- E dito isto, cuspiu no chão, e fez um lodo do cuspe; e untou com aquele lodo os olhos do cego.
- E disse-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que traduzido significa “Enviado”). Foi, pois, e lavou-se; e tornou vendo.
- Então os vizinhos, e os que dantes haviam visto que era cego, diziam: Não é este aquele que, assentado, estava mendigando?
- Outros diziam: Este é. E outros: Parece-se com ele. Mas ele mesmo dizia: Sou eu!
- E diziam-lhe: Como se te abriram os olhos?
- Respondeu ele, e disse: Aquele homem que se chama Jesus fez um lodo, e me untou os olhos. E disse-me: Vai ao tanque de Siloé, e lava-te; e fui, e lavei-me, e recebi a vista.
- E disseram-lhe: Onde está ele? Disse ele: Não sei.
- Levaram ao que dantes havia sido cego aos fariseus.
- E era sábado quando Jesus fez aquele lodo, e lhe abriu os olhos.
- E tornaram-lhe também os fariseus a perguntar de que maneira recebera a vista. E ele disse: Pôs-me lodo sobre os olhos, e lavei-me; e vejo.
- Então alguns dos fariseus lhe diziam: Este homem não é de Deus, pois não guarda o sábado. E outros diziam: Como pode um homem pecador fazer tais sinais? E havia dissensão entre eles.
- Tornaram, pois, a dizer ao cego: Tu, que dizes daquele que te abriu os olhos? E ele disse: Que é profeta.
- Mas os judeus não criam que ele que havia sido cego, e que houvesse recebido a vista; até que chamaram aos pais do que havia recebido a vista.
- E perguntaram-lhes, dizendo: É este vosso filho, aquele que vós outros dizeis que nasceu cego? Como, pois, vê agora?
- Responderam-lhes seus pais, e disseram: Bem sabemos que este é nosso filho, e que nasceu cego.
- Mas como agora vê, não o sabemos; ou quem lhe haja aberto os olhos, tampouco o sabemos. Idade ele tem: perguntai-lhe a ele mesmo, que ele falará por si.
- Isto disseram seus pais, porque temiam aos judeus; porquanto já os judeus tinham concluído que, se alguém confessasse ser ele o Cristo, fosse lançado fora da sinagoga.
- Por isso disseram seus pais: Idade tem; perguntai-lhe a ele.
- Tornaram, pois, a chamar ao homem que fora cego, e disseram-lhe: Dá glória a Deus! Nós outros sabemos que este homem é pecador.
- Então ele respondeu, e disse: Se é pecador, não sei. Uma coisa sei: que havendo eu sido cego, agora vejo.
- E tornaram-lhe a dizer: Que ele te fez? Como te abriu os olhos?
- Respondeu-lhes: Já vo-lo tenho dito, e ainda o não ouvistes! Por que quereis ainda outra vez ouvir? Porventura, quereis também fazer-vos seus discípulos?
- Então o injuriaram, e disseram: Tu sejas seu discípulo! Que nós outros, discípulos de Moisés somos.
- Bem sabemos nós outros que a Moisés falou Deus. Mas este, nem de onde é sabemos.
- Respondeu-lhes aquele homem, e disse-lhes: Na verdade que maravilhosa coisa é esta, que vós outros não sabeis de onde este seja! E a mim me abriu os olhos!
- Ora, bem sabemos que Deus não ouve os pecadores; mas se alguém é temeroso de Deus, e faz sua vontade, a este ouve.
- Nunca, em tempo algum, se ouviu falar de alguém que abrisse os olhos a um que nasceu cego.
- Se este não fosse vindo de Deus, nada disso poderia fazer.
- Responderam eles, e disseram-lhe: Em pecados és todo nascido, e nos ensinas a nós? E lançaram-no fora.
- Ouviu Jesus que o haviam lançado fora. E achando-o, disse-lhe: Crês tu no Filho de Deus?
- Respondeu ele, e disse: Quem é, Senhor, para que nele creia?
- E disse-lhe Jesus: Já o tens visto; e o que contigo está falando, esse é.
- E ele disse: Creio, Senhor. E o adorou.
- E disse Jesus: Eu para juízo tenho vindo a este mundo, para que os que não vêem, vejam; e os que vêem, ceguem.
- E ouviram isto alguns dos fariseus que com ele estavam, e disseram-lhe: Somos nós outros também cegos?
- Disse-lhes Jesus: Se cegos fôsseis, pecado não teríeis. Mas porquanto agora dizeis “vemos”, portanto vosso pecado permanece.
Capítulo 10
- Em verdade, em verdade vos digo que, aquele que no curral das ovelhas pela porta não entra, mas por outra parte sobe, ladrão é o tal, e roubador.
- Mas aquele que pela porta entra, o pastor das ovelhas é.
- A este abre o porteiro, e as ovelhas ouvem sua voz; e a suas ovelhas chama nome por nome, e as leva para fora.
- E tirando para fora suas ovelhas, vai diante delas; e as ovelhas o seguem, porque reconhecem sua voz.
- Mas ao estranho, não seguirão; antes, dele fugirão, porquanto a voz dos estranhos não reconhecem.
- Esta parábola lhes disse Jesus; porém eles não entenderam o que era o que lhes dizia.
- Tornou-lhes, pois, Jesus a dizer: Em verdade, em verdade vos digo que eu sou a porta das ovelhas.
- Todos quantos antes de mim vieram, ladrões são, e roubadores; mas não os ouviram as ovelhas.
- Eu sou a porta: quem por mim entrar, se há de salvar. E entrará e sairá, e pastos achará.
- O ladrão não vem senão para roubar, e matar, e destruir; eu vim para que tenham vida, e para que tenham abundância.
- Eu sou o bom pastor: o bom pastor, pelas ovelhas, sua própria vida põe.
- Mas o mercenário, e que não é o pastor, cujas ovelhas não são suas próprias, vê vir ao lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo arrebata e dissipa as ovelhas.
- E o mercenário foge; porquanto é mercenário, e das ovelhas não tem cuidado.
- Eu sou o bom pastor; e conheço as minhas, e as minhas me conhecem a mim.
- Como o Pai me conhece a mim, assim conheço eu ao Pai; e minha vida pelas ovelhas ponho.
- Ainda tenho outras ovelhas, que deste curral não são: aquelas também me convém trazer. E ouvirão minha voz, e far-se-á um curral, e um pastor.
- Por isso me ama o Pai; porquanto minha vida ponho, para torná-la a tomar.
- Ninguém ma tira a mim, mas eu de mim mesmo a ponho; porquanto poder tenho para pô-la, e poder tenho para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai.
- E tornou a haver dissensão entre os judeus, por causa destas palavras.
- E muitos deles diziam: O demônio ele tem, e está fora de si! Para que o ouvis?
- Diziam outros: Estas palavras não são de endemoninhados! Pode o demônio abrir os olhos aos cegos?
- E celebrava-se então a renovação do templo em Jerusalém; e era inverno.
- E andava Jesus passeando no templo, no alpendre de Salomão.
- E rodearam-no os judeus, e disseram-lhe: Até quando terás em suspenso a nossa alma? Se tu és o Cristo, dize-no-lo abertamente.
- Respondeu-lhes Jesus: Dito vo-lo tenho já, e não o credes. As obras que eu em nome de meu Pai faço, essas dão testemunho de mim.
- Mas vós outros não credes; porquanto de minhas ovelhas não sois, como já dito vo-lo tenho.
- Minhas ovelhas ouvem minha voz; e eu as conheço, e elas me seguem.
- E eu lhes dou a vida eterna; e para todo sempre jamais perecerão, e ninguém as arrebatará de minha mão.
- Meu Pai, o mesmo que mas deu, maior que todos é; e ninguém as pode arrebatar da mão de meu Pai.
- Eu e o Pai, um somos.
- Então tornaram os judeus a tomar pedras, para o apedrejar.
- Respondeu-lhes Jesus: Muitas boas obras da parte de meu Pai vos tenho mostrado; por qual obra destas me apedrejais?
- Responderam-lhe os judeus, dizendo: Pela boa obra não te apedrejamos, senão pela blasfêmia; e porque, sendo tu homem, te fazes Deus.
- Respondeu-lhes Jesus: Não está em vossa Lei escrito: Eu disse, deuses sois?
- Pois se a Lei àqueles chamou deuses, a quem a palavra de Deus era encaminhada – e a Escritura não pode ser quebrantada –,
- A mim, a quem o Pai santificou e ao mundo mandou, dizeis vós outros “blasfemas”, porque eu disse “Filho de Deus sou”?
- Se as obras de meu Pai não faço, então não me creiais.
- Porém se é que as faço, ainda que a mim não me creiais, crede às obras; para que reconheçais e creiais que o Pai está em mim, e eu nele.
- E procuravam outra vez prendê-lo; porém ele se saiu de suas mãos.
- E passou-se outra vez do outro lado do Jordão, àquele lugar onde João primeiro batizava; e ficou-se ali.
- E muitos vinham a ele, e diziam: Em verdade que nenhum sinal fez João. Mas tudo quanto João acerca deste disse, era verdade.
- E muitos ali creram nele.
Capítulo 11
- E estava enfermo um certo homem chamado Lázaro, de Betânia; da aldeia de Maria e de Marta, suas irmãs.
- E era esta Maria a mesma que ao Senhor ungiu com o unguento, e que com seus cabelos lhe limpou os pés; cujo irmão Lázaro era o que enfermo estava.
- Enviaram, pois, suas irmãs a ele, dizendo: Senhor, eis que aquele a quem amas está enfermo!
- E ouvindo-o Jesus, disse: Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus; para que o Filho de Deus por ela seja glorificado.
- E amava Jesus a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro.
- Ouvindo, pois, que estava enfermo, permaneceu contudo ainda dois dias naquele mesmo lugar onde estava.
- Depois disto, disse a seus discípulos: Vamos outra vez à Judeia.
- Disseram-lhe os discípulos: Rabi, ainda agora te procuravam os judeus apedrejar; e ainda te tornas para lá?
- Respondeu Jesus: Não tem doze horas o dia? Quem de dia anda, não tropeça; porquanto vê a luz deste mundo.
- Mas quem de noite anda, tropeça; porquanto nele luz não há.
- Dito isto, disse-lhes depois: Lázaro, nosso amigo, dorme. Mas vou a despertá-lo do sono.
- Disseram-lhe então seus discípulos: Senhor, se dorme, salvo estará.
- Mas isto dizia Jesus a respeito de sua morte; porém eles julgavam que falava do repouso do sono.
- Então, pois, disse-lhes Jesus claramente: Lázaro está morto.
- E contento-me, por causa de vós outros, que eu lá não estivesse, para que creiais. Mas vamos ter com ele.
- Disse então Tomé, chamado o Dídimo, aos condiscípulos: Vamos nós outros também, para que com ele morramos.
- Veio pois Jesus, e achou que já havia quatro dias que na sepultura estava.
- E Betânia estava cerca de quase quinze estádios perto de Jerusalém.
- E muitos dos judeus tinham vindo à Marta e à Maria, a consolá-las acerca de seu irmão.
- Então Marta, ouvindo que Jesus vinha, saiu a recebê-lo; mas Maria ficou em casa.
- E disse Marta a Jesus: Senhor, se tu aqui estiveras, não teria morrido o meu irmão!
- Porém também sei agora que, tudo quanto a Deus pedires, to dará Deus.
- Disse-lhe Jesus: Teu irmão ressuscitará.
- Marta lhe disse: Eu sei que ele há de ressuscitar na ressurreição, no dia derradeiro.
- Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida: quem em mim crê, ainda que morto esteja, viverá.
- E todo aquele que vive e em mim crê, não morrerá eternamente. Crês isto?
- Disse-lhe ela: Sim, Senhor! Já tenho crido que tu és o Cristo, o Filho de Deus que ao mundo havia de vir.
- E tendo dito isto, foi-se, e chamou em segredo a Maria, sua irmã, dizendo: Aqui está o Mestre, e ele te chama.
- E assim como ela o ouviu, logo se levantou, e foi ter com ele.
- Pois ainda não tinha chegado Jesus à aldeia, mas estava naquele lugar onde Marta saíra a recebê-lo.
- Então os judeus que com ela em casa estavam, e a consolavam, vendo que Maria apressadamente se levantara e saíra, seguiram-na, dizendo: À sepultura vai, para lá prantear.
- Mas vindo Maria lá onde Jesus estava, e vendo-o, derribou-se aos seus pés, dizendo-lhe: Senhor, se tu por cá estiveras, não teria meu irmão morrido!
- Jesus então, quando a viu chorando, e aos judeus que, juntamente com ela tinham vindo, também chorando, comoveu-se em espírito, e alvoroçou-se em si mesmo.
- E disse: Onde o pusestes? Disseram-lhe: Senhor, vem e vê-o!
- E chorou Jesus.
- Disseram então os judeus: Vede como o amava!
- E alguns deles disseram: Não podia este, que abriu os olhos ao cego, fazer com que este não houvesse morrido?
- E Jesus embravecendo-se outra vez em si mesmo, veio ao sepulcro; e era este uma espelunca, a qual tinha uma pedra em cima.
- Disse Jesus: Tirai a pedra. Marta, a irmã do defunto, lhe disse: Senhor, já cheira mal, pois está já há quatro dias ali posto.
- Jesus lhe disse: Não te tenho eu dito que, se creres, verás a glória de Deus?
- Então tiraram a pedra de onde o defunto havia sido posto. E levantando Jesus os olhos para cima, disse: Ó Pai, graças te dou, que já me tens ouvido.
- Que bem sabia eu que sempre me ouves. Mas por causa da multidão que está ao redor, o disse; para que creiam que és tu o que me tens enviado.
- E havendo dito isto, clamou em alta voz: Lázaro, vem para fora!
- Então saiu o defunto, estando atados as mãos e os pés com tiras, e com o rosto envolto num sudário. Disse-lhes Jesus: Desatai-o, e deixai-o ir.
- Pelo que muitos dos judeus que a Maria tinham vindo, e haviam visto o que Jesus fizera, creram nele.
- Mas alguns deles foram aos fariseus, e disseram-lhes aquilo que Jesus tinha feito.
- E os pontífices e os fariseus ajuntaram conselho, e diziam: Que faremos? Que este homem faz muitos sinais!
- Se assim o deixamos, todos nele crerão; e virão os romanos, e tomar-nos-ão o lugar e a nação.
- Então Caifás, um deles, sumo-pontífice daquele ano, disse-lhes: Vós outros nada sabeis!
- Nem considerais que nos convém que morra pelo povo um só homem, e não que toda a nação se perca.
- Mas isto ele não disse de si mesmo; senão que, como era o sumo-pontífice daquele ano, profetizou que, pelo povo, havia Jesus de morrer.
- E não somente por aquele povo; mas também para que, em um só, ajuntasse aos filhos de Deus que espalhados andavam.
- Assim que, desde aquele dia, consultavam juntos de o matarem.
- De maneira que já Jesus não andava mais manifestamente entre os judeus, mas foi-se dali à terra que está junto ao deserto, a uma cidade chamada Efraim; e convivia ali com seus discípulos.
- E estava perto a Páscoa dos judeus; e muitos daquela terra subiram a Jerusalém antes da Páscoa, para irem a se purificar.
- E buscavam a Jesus. E estando já no templo, diziam uns aos outros: Que vos parece? Parece-vos a vós que não virá ao dia da festa?
- E os pontífices e os fariseus tinham dado mandamento para que, se alguém soubesse onde estivesse, que o manifestasse; para que pudessem prendê-lo.
Capítulo 12
- Veio então Jesus, seis dias antes da Páscoa, à Betânia; lá onde Lázaro estava, o mesmo que falecera, e a quem Jesus dos mortos ressuscitara.
- E fizeram-lhe ali uma ceia; e Marta servia, e Lázaro era um dos que, juntamente com ele, à mesa estavam assentados.
- Então tomou Maria um arrátel de unguento de nardo puro, de alto preço; e ungiu os pés de Jesus, e limpou-lhe os pés com seus próprios cabelos, e encheu-se a casa do aroma do unguento.
- Então disse Judas, filho de Simão Iscariotes, um de seus discípulos; o qual era o que havia de entregá-lo:
- Por que se não vendeu este unguento por trezentos denários, e deu-se aos pobres?
- Mas isto disse ele, não pelo cuidado que tivesse dos pobres; mas porque era ladrão, e tinha a bolsa, e trazia o que nela se lançava.
- Então disse Jesus: Deixai-a, pois para o dia da minha sepultura ela o tem guardado.
- Porque aos pobres, sempre convosco os tereis; porém a mim, não me tereis sempre.
- Entendeu, pois, grande multidão dos judeus que ele ali estava. E vieram, não somente por causa de Jesus, mas também para ver a Lázaro, a quem dos mortos ressuscitara.
- E consultaram os príncipes dos sacerdotes de matarem também a Lázaro.
- Porque muitos dos judeus iam e criam em Jesus, por causa dele.
- No seguinte dia, ouvindo uma grande multidão que ao dia da festa viera, que Jesus vinha a Jerusalém;
- Tomaram ramos de palmeiras, e saíram a recebê-lo. E clamavam: Hosana! Bendito aquele que vem em o nome do Senhor, o qual é Rei de Israel!
- E achou Jesus um asninho, e assentou-se sobre ele, como está escrito:
- Não temas, ó filha de Sião! Eis que teu Rei vem assentado sobre o burrico de uma jumenta.
- Porém isto não entenderam seus discípulos a princípio; mas estando Jesus já glorificado, então se lembraram que isto acerca dele estava escrito, e que isto lhe fizeram.
- E a multidão que com ele estava dava testemunho de como da sepultura a Lázaro chamara, e dos mortos o ressuscitara.
- Pelo que também a multidão viera a recebê-lo, porquanto ouviram que fizera tal sinal.
- Mas os fariseus disseram entre si: Vedes bem que nada aproveita? Eis que o mundo se vai após ele!
- E havia certos gregos entre os que, no dia da festa, haviam subido para adorar.
- Estes, pois, se chegaram a Filipe, que era de Betsaida da Galileia. E rogaram-lhe, dizendo: Senhor, queríamos ver a Jesus.
- Veio Filipe, e disse-o a André; então André e Filipe o disseram a Jesus.
- Então Jesus lhes respondeu, dizendo: A hora vem, em que o Filho do homem há de ser glorificado.
- Em verdade, em verdade vos digo que, se o grão de trigo que cai na terra não morrer, fica ele só; porém se morrer, traz muito fruto.
- Quem sua vida ama, perdê-la-á; e quem neste mundo sua vida aborrece, para a vida eterna a guardará.
- Quem me serve, siga-me; e lá onde eu estiver, ali estará também meu servidor, e quem me servir, meu Pai o há de honrar.
- Agora está perturbada minha alma; e que direi? Pai, salva-me desta hora? Mas por isto tenho eu vindo nesta hora.
- Ó Pai, glorifica teu nome! Então, sobreveio uma voz do céu, dizendo: Já o tenho glorificado, e também outra vez o glorificarei.
- E a multidão que estava presente, e a havia ouvido, dizia que havia sido um trovão. Outros diziam: Algum anjo lhe tem falado.
- Respondeu Jesus, e disse: Não veio esta voz por minha causa, senão por causa de vós outros.
- Agora é, deste mundo, o juízo: agora será lançado fora o príncipe deste mundo.
- E eu, se da terra levantado for, a todos a mim trarei.
- E isto dizia, dando a entender de que tipo de morte ele havia de morrer.
- Respondeu-lhe a multidão: Da Lei temos ouvido que para sempre o Cristo permanece. Como dizes tu, logo: Convém que o Filho do homem seja levantado? Quem é este Filho do homem?
- Então lhes disse Jesus: Ainda por um pouco, estará entre vós outros a luz. Andai enquanto a luz tiverdes, para que as trevas não vos capturem; porque quem em trevas anda, não sabe para onde vai.
- Enquanto a luz tendes, crede na luz, para que da luz sejais filhos. Estas coisas falou Jesus, e foi-se; e escondeu-se deles.
- E ainda que perante eles tantos sinais tivesse feito, nem por isso nele criam.
- Para que se cumprisse a palavra que disse o profeta Isaías: Senhor, quem deu crédito a nosso dito? E o braço do Senhor, a quem é revelado?
- Por isto não podiam crer; porquanto outra vez disse Isaías:
- Os olhos lhes cegou, e o coração lhes endureceu; para que dos olhos não vejam, nem do coração entendam, e se convertam, e eu os sare.
- Estas coisas disse Isaías quando sua glória viu, e acerca dele falou.
- Contudo, ainda até dentre os príncipes, creram também muitos nele; mas não o confessavam, por causa dos fariseus, para da sinagoga não serem lançados fora.
- Porque amavam mais a honra dos homens, do que a honra de Deus.
- Mas Jesus clamou, e disse: Quem em mim crê, não crê em mim, mas naquele que me enviou.
- E quem a mim vê, vê àquele que me enviou.
- Eu sou a luz que ao mundo vim, para que todo aquele que em mim crer não permaneça em trevas.
- E quem minhas palavras ouvir, e não as crer, não o julgo eu; porque não vim a julgar ao mundo, mas ao mundo salvar.
- Quem a mim me rejeitar, e minhas palavras não receber, já quem o julgue tem: a palavra que falado tenho, essa o há de julgar no último dia.
- Porque não tenho eu falado de mim mesmo; porém o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento do que hei de dizer, e do que hei de falar.
- E sei que seu mandamento é vida eterna; assim que, o que eu falo, como o Pai mo tem dito, assim o falo.
Capítulo 13
- Antes do dia da festa da Páscoa, sabendo Jesus que já sua hora era vinda, para que deste mundo passasse ao Pai; havendo amado aos seus, que no mundo estavam, amou-os até o fim.
- E acabada a ceia, havendo já o diabo posto no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, que o entregasse.
- Sabendo Jesus que já o Pai todas as coisas lhe tinha dado nas mãos; e que de Deus havia saído, e a Deus se ia.
- Levantou-se da ceia e, tirando as vestes e tomando uma toalha, cingiu-se.
- E logo deitou água numa bacia; e começou a lavar os pés aos discípulos, e a limpar-lhos com a toalha com que estava cingido.
- Veio, pois, a Simão Pedro. E Pedro lhe disse: Senhor, tu a mim me lavas os pés?
- Respondeu Jesus, e disse-lhe: O que faço, não o sabes tu agora; mas depois o saberás.
- Disse-lhe Pedro: Nunca jamais a mim os pés me lavarás! Respondeu-lhe Jesus: Se eu a ti não lavar, parte comigo não tens.
- Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não só meus pés, mas até as mãos e a cabeça.
- Disse-lhe Jesus: Aquele que já está lavado, não necessita mais que de lavar os pés, mas está todo limpo. E vós outros, limpos estais; ainda que não todos.
- Porque bem sabia quem era o que havia de entregá-lo. Por isso, disse: Nem todos estais limpos.
- Assim que, havendo-lhes já lavado os pés, e tomando suas vestes; e tornando-se a assentar à mesa, disse-lhes: Sabeis o que vos tenho feito?
- Vós outros me chamais “Mestre” e “Senhor”; e bem dizeis, porque eu o sou.
- Pois se eu, o Senhor e o Mestre, vos tenho lavado os pés, também vós outros vos deveis lavar os pés uns aos outros.
- Porque exemplo vos tenho dado; para que, como eu vos tenho feito, façais vós outros também.
- Em verdade, em verdade vos digo que não é o servo maior do que seu senhor; nem é maior o embaixador do que aquele que o enviou.
- Se estas coisas sabeis, bem-aventurados sereis se as fizerdes.
- Não falo de todos vós, pois bem sei aos que tenho escolhido. Mas isto acontece para que se cumpra a Escritura: “O que comigo pão come, contra mim seu calcanhar levantou”.
- Desde agora, antes que se faça, vo-lo digo; para que, quando se fizer, creiais que eu o sou.
- Em verdade, em verdade vos digo que, quem ao que eu enviar, receber, a mim me recebe; e quem a mim me recebe, recebe àquele que me enviou.
- Havendo Jesus dito isto, comoveu-se em espírito, e protestou, e disse: Em verdade, em verdade vos digo que um dentre vós me há de entregar.
- Então os discípulos se olhavam uns para os outros, questionando acerca de quem tal dizia.
- E um de seus discípulos, a quem Jesus amava, estava assentado à mesa no regaço de Jesus.
- A este, pois, fez sinal Simão Pedro, para que perguntasse quem era aquele de quem dizia.
- Ele então, recostando-se ao peito de Jesus, disse-lhe: Senhor, quem é?
- Respondeu Jesus: É aquele a quem eu der o bocado molhado. E molhando o bocado, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes.
- E após o bocado, entrou nele Satanás. Então Jesus lhe disse: O que fazes, faze-o depressa.
- Mas isto, nenhum dos que estavam à mesa entendeu a que propósito lho dissera.
- Porque uns pensavam que, porquanto Judas tinha a bolsa, lhe dizia Jesus: Compra as coisas que para o dia da festa nos são necessárias. Ou que desse alguma coisa aos pobres.
- Havendo ele, pois, tomado o bocado, logo se saiu; e era já noite.
- E tendo ele saído, disse Jesus: Agora é o Filho do homem glorificado, e Deus é glorificado nele.
- Se Deus nele é glorificado, também Deus o glorificará em si mesmo; e logo há de glorificá-lo.
- Filhinhos, ainda por um pouco estou convosco; buscar-me-eis, mas como aos judeus disse, para onde eu vou, não podeis vós outros ir. Assim vo-lo digo agora também.
- Um mandamento novo eu vos dou: que vos ameis uns aos outros. Tal como eu vos amei, que também vós uns aos outros vos ameis.
- Nisto reconhecerão todos que meus discípulos sois: se uns aos outros vos amardes.
- Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, aonde vais? Respondeu-lhe Jesus: Aonde eu vou, não me podes tu agora seguir. Porém depois, me seguirás.
- Disse-lhe Pedro: Senhor, por que agora não te posso seguir? Por ti, minha vida porei!
- Respondeu-lhe Jesus: Por mim, tua vida porás? Em verdade, em verdade te digo que o galo não cantará, antes que três vezes me negues.
Capítulo 14
- Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.
- Na casa de meu Pai, muitas moradas há; caso contrário, eu vo-lo diria. Eu mesmo vou para vos preparar lugar.
- E se eu me for, e um lugar vos preparar, outra vez virei, e comigo vos tomarei; para que lá onde eu estiver, vós outros também estejais.
- E já sabeis para onde vou, e já o caminho sabeis.
- Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais. Como, pois, o caminho podemos saber?
- Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.
- Se vós a mim me conhecêsseis, também a meu Pai conheceríeis; já desde agora o conheceis, e já o tendes visto.
- Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, e basta-nos.
- Jesus lhe disse: Tanto tempo há que convosco estou, e ainda não me tendes conhecido, Filipe? Quem a mim me tem visto, já tem visto ao Pai. Como dizes tu, logo: Mostra-nos o Pai?
- Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos falo, não as falo de mim mesmo; mas o Pai, que em mim permanece, ele é o que as obras faz.
- Crede-me que no Pai estou, e que o Pai está em mim; e senão, crede-me pelas próprias obras.
- Em verdade, em verdade vos digo que, aquele que em mim crer, as obras que eu faço também ele as fará, e ainda maiores que estas as fará; porquanto eu vou para o Pai.
- E tudo quanto em meu nome pedirdes, eu o farei; para que o Pai no Filho seja glorificado.
- Se coisa alguma em meu nome pedirdes, eu mesmo a farei.
- Se me amais, guardai os meus mandamentos.
- E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador; para que para sempre convosco permaneça:
- O Espírito da verdade, a quem o mundo não pode receber, porquanto nem o vê nem o conhece; mas vós outros o conheceis, porque convosco permanece, e convosco há de estar.
- Nem órfãos vos deixarei; outra vez a vós venho.
- Ainda um pouco, e não mais me verá o mundo, mas vós outros me vereis; porquanto vivo eu, e vós outros vivereis.
- Naquele dia conhecereis que eu em meu Pai estou; e vós em mim, e eu em vós.
- Quem tem meus mandamentos e os guarda, esse é o que a mim me ama; e quem a mim me ama, será amado por meu Pai. E eu o amarei, e a ele me manifestarei.
- Disse-lhe Judas, não o Iscariotes: Senhor, que razão há por que a nós outros te hás de manifestar, e não ao mundo?
- Respondeu Jesus, e disse-lhe: Quem a mim me ama, minha palavra guardará. E meu Pai o amará, e a ele viremos, e com ele morada faremos.
- Quem a mim não me ama, minhas palavras não guarda; e a palavra que ouvis não é minha, mas sim do Pai, que me enviou.
- Estas coisas vos tenho dito, permanecendo ainda convosco.
- Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, o qual o Pai em meu nome há de enviar, esse vos ensinará todas as coisas; e todas as coisas que vos tenho dito, ele vos lembrará.
- A paz vos deixo; minha paz vos dou; não como o mundo a dá, vo-la dou. Não se perturbe nem tema o vosso coração.
- Já ouvistes como vos tenho dito: Vou, e outra vez venho a vós outros. Se me amásseis, vos regozijaríeis porque tenho dito “ao Pai vou”, pois maior é o Pai do que eu.
- E já agora, antes que se faça, vo-lo tenho dito; para que, quando se fizer, o creiais.
- Já não mais falarei muito convosco, pois já o príncipe deste mundo vem; porém ele, nada em mim tem.
- Mas para que o mundo conheça que eu amo ao Pai, e como o Pai me deu mandamento, assim o faço. Levantai-vos, vamo-nos daqui.
Capítulo 15
- Eu sou a verdadeira videira, e meu Pai é o lavrador.
- Todo ramo que em mim fruto não traz, ele a tira; e todo aquele que traz fruto, ele a limpa, para que ainda mais fruto traga.
- Já vós outros estais limpos pela palavra que dito vos tenho.
- Permanecei em mim, e eu em vós outros; como o ramo não pode de si mesmo dar fruto, se na videira não fica, assim tampouco vós outros, se não ficardes em mim.
- Eu sou a videira, vós outros os ramos; o que em mim permanece, e eu nele, esse traz muito fruto, porquanto sem mim nada podeis fazer.
- Quem em mim não permanecer, é lançado fora, como o ramo, e seca-se; e recolhem-nos, e lançam-nos ao fogo, e ardem.
- Se vós em mim permanecerdes, e minhas palavras em vós, tudo o que quiserdes pedireis, e ser-vos-á feito.
- Nisto é glorificado o meu Pai: em que muito fruto deis, e meus discípulos sejais.
- Assim como o Pai a mim me amou, também eu a vós outros vos amei: permanecei no meu amor.
- Se meus mandamentos guardardes, em meu amor permanecereis; como eu também os mandamentos de meu Pai guardado tenho, e em seu amor permaneço.
- Estas coisas vos tenho dito para que meu regozijo em vós permaneça, e vosso regozijo se cumpra.
- Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.
- Ninguém tem maior amor do que este: que por causa de seus amigos, alguém sua própria vida ponha.
- Meus amigos sois vós outros, se as coisas que eu vos mando fizerdes.
- Já vos não chamo mais servos, porquanto o servo não sabe o que é que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porquanto tudo quanto de meu Pai ouvi, vos tenho feito notório.
- Não me elegestes vós outros a mim, porém eu vos elegi a vós outros. E vos tenho posto para que vades, e deis fruto; e vosso fruto permaneça, para que tudo quanto ao Pai em meu nome pedirdes, ele vo-lo dê.
- Isto vos mando: que uns aos outros vos ameis.
- Se o mundo vos aborrece, sabei que, antes que a vós outros, me aborreceu a mim.
- Se vós do mundo fôsseis, o mundo amaria aquilo que é seu; mas porquanto do mundo não sois – antes, eu do mundo vos elegi –, por isso vos aborrece o mundo.
- Lembrai-vos da palavra que vos tenho dito: Não é o servo maior do que seu senhor. Se a mim me perseguiram, também a vós vos perseguirão; se minha palavra guardaram, também a vossa guardarão.
- Mas tudo isto vos farão por causa do meu nome; porquanto não conhecem aquele que me enviou.
- Se eu não viera, nem falado lhes houvera, pecado não teriam; mas já agora, de seu pecado não tem escusa.
- Quem a mim me aborrece, também a meu Pai aborrece.
- Se eu entre eles obras tais não fizera, quais nenhum outro tem feito, pecado não teriam; mas agora já as têm visto, e aborreceram-me a mim, e também a meu Pai.
- Porém isto é para que se cumpra aquela palavra que em sua Lei está escrita: Sem causa me aborreceram.
- Mas quando vier aquele Consolador, que eu, da parte do Pai, vos hei de enviar; aquele Espírito da verdade, o qual procede do Pai, ele mesmo dará testemunho de mim.
- E também vós outros dareis testemunho, porquanto comigo desde o princípio estivestes.
Capítulo 16
- Estas coisas vos tenho dito para que não vos escandalizeis.
- Lançar-vos-ão fora das sinagogas; e ainda a hora vem quando qualquer que vos matar julgará que assim faz um serviço a Deus.
- Estas coisas vos farão, porque nem ao Pai nem a mim me conhecem.
- Porém isto vos tenho dito; para que, quando aquela hora vier, vos lembreis de que já vo-lo tenho dito. Mas isto, eu não vos disse desde o princípio, porquanto convosco estava.
- Mas agora, vou àquele que me enviou. E nenhum de vós outros me pergunta: Aonde vais?
- Antes, porque tais coisas vos tenho dito, de tristeza se encheu o vosso coração.
- Porém a verdade vos digo: que proveitoso vos é que eu me vá. Porquanto se eu não me for, não virá a vós outros o Consolador; porém se eu me for, eu vo-lo hei de enviar.
- E quando ele vier, ao mundo há de convencer do pecado, e da justiça, e do juízo.
- Do pecado, porquanto em mim não crêem.
- E da justiça, porquanto ao Pai vou, e não mais me vereis.
- Mas de juízo, porquanto já o príncipe deste mundo está julgado.
- Ainda tenho muitas coisas que vos dizer; mas agora, ainda as não podeis suportar.
- Porém quando aquele Espírito da verdade vier, ele mesmo vos guiará em toda a verdade; porquanto de si mesmo não há de falar, mas tudo quanto ouvir há de dizer, e as coisas que hão de vir vos há de anunciar.
- Ele me há de glorificar, porquanto há de tomar do que é meu, e vo-lo há de anunciar.
- Tudo quanto o Pai tem, meu é; por isso disse que há de tomar do que é meu, e vo-lo há de anunciar.
- Um pouco, e não me vereis, e outra vez um pouco, e ver-me-eis; porquanto eu vou ao Pai.
- Então disseram alguns dos seus discípulos uns aos outros: Que é isto que nos diz? Um pouco, e não me vereis, e outra vez um pouco, e ver-me-eis; porquanto vou ao Pai?
- De modo que diziam: Que é isto que ele diz? Um pouco? Não sabemos o que diz.
- E reconhecendo Jesus que lhe queriam perguntar, e disse-lhes: Perguntais entre vós outros acerca disto que eu disse? Um pouco, e não me vereis, e outra vez um pouco, e ver-me-eis?
- Em verdade, em verdade vos digo que vós outros chorareis, e vos lamentareis; e o mundo se alegrará, e vós outros estareis tristes. Mas em regozijo se tornará a vossa tristeza.
- A mulher, quando dá a luz, dores tem, porquanto sua hora já é chegada; mas tendo parido a criança, já não se lembra da aflição, pela satisfação que tem de que um homem no mundo haja nascido.
- Também vós, pois, agora na verdade tristeza tendes; mas outra vez vos verei, e regozijar-se-á o vosso coração, e ninguém tirará de vós o vosso regozijo.
- E naquele dia, nada mais me perguntareis. Em verdade, em verdade vos digo que, tudo quanto a meu Pai em meu nome pedirdes, vo-lo há de dar.
- Até agora, nada em meu nome pedistes; pedi, e recebereis, para que vosso regozijo se cumpra.
- Estas coisas vos tenho dito em parábolas; a hora vem quando já por parábolas não vos falarei, mas claramente acerca do Pai vos anunciarei.
- Naquele dia, em meu nome pedireis; e não vos digo que, por vós outros, eu ao Pai rogarei.
- Pois o próprio Pai vos ama; porquanto vós outros me amastes, e que de Deus saí crestes.
- Do Pai saí, e ao mundo vim; outra vez ao mundo deixo, e me vou para o Pai.
- Disseram-lhe seus discípulos: Eis que claramente falas agora, e nenhuma parábola dizes.
- Agora entendemos que sabes todas as coisas, e não tens necessidade de que ninguém te pergunte; por isso, cremos que de Deus saístes.
- Respondeu-lhes Jesus: Agora credes?
- Eis que a hora vem, e já é vinda, quando cada um pelo seu espalhados sereis, e sozinho me deixareis; porém não estou só, pois comigo está o Pai.
- Estas coisas vos tenho dito para que em mim paz tenhais: no mundo tereis aflição, mas tende bom ânimo, já eu venci o mundo.
Capítulo 17
- Estas coisas falou Jesus e, levantando os olhos ao céu, disse: Pai, chegada é a hora. Glorifica a teu Filho, para que também teu Filho te glorifique a ti.
- Como também sobre toda carne lhe tens dado poder; para que a todos aqueles que lhe deste, a vida eterna lhes dê.
- Esta, porém, é a vida eterna: que te conheçam a ti, um só Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem tens enviado.
- Já eu na terra te glorifiquei: acabado tenho a obra que me deste para que eu fizesse.
- Agora, pois, ó Pai, glorifica-me em ti mesmo; com aquela glória que em ti tive antes que o mundo fosse.
- Manifestado tenho o teu nome aos homens que do mundo me deste: teus eram, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra.
- Agora eles têm já conhecido que de ti é tudo quanto me deste.
- Porquanto as palavras que me deste, lhes tenho dado a eles; e já eles as receberam, e verdadeiramente têm conhecido que de ti saído tenho, e creram que me enviaste.
- Eu por eles rogo; não rogo pelo mundo, mas sim por aqueles que me deste, porque teus são.
- E todas minhas coisas são tuas, e tuas coisas são minhas; e eu neles sou glorificado.
- E eu já no mundo não estou; porém estes ainda estão no mundo, e eu a ti venho. Ó Pai santo, guarda em teu nome àqueles que me tens dado, para que um só sejam, como também nós.
- Quando eu no mundo com eles estava, em teu nome eu os guardava; sim, àqueles que tu me deste, guardado os tenho, e nenhum deles se perdeu – exceto o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse.
- Mas agora venho a ti; e falo isto no mundo, para que em si mesmos minha perfeita alegria tenham.
- Tua palavra lhes dei; e o mundo os aborreceu, porquanto do mundo não são, como tampouco eu do mundo sou.
- Não rogo que do mundo os tires, senão que do mal os guardes.
- Não são do mundo, como tampouco eu do mundo sou.
- Santifica-os na tua verdade: a tua palavra é a verdade.
- Como tu ao mundo me enviaste, também eu ao mundo os enviei.
- E por eles a mim mesmo me santifico, para que também eles na verdade sejam santificados.
- Porém não somente por eles eu rogo; mas também por aqueles que em mim, pela palavra deles, ainda hão de crer.
- Para que todos um só sejam: como tu, ó Pai, em mim, e eu em ti, que também eles em nós sejam um só, para que o mundo creia que tu me tens enviado.
- E eu a glória que a mim me deste, lhes tenho dado a eles; para que um só sejam, como também nós somos um.
- Eu neles, e tu em mim; para que perfeitamente em um só sejam, e que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que a eles os tens amado, como tu a mim me amaste.
- Pai, àqueles que me tens dado, quero que, onde eu estou, estejam eles comigo também; para que vejam minha glória, a qual me tens dado, porquanto tu me amaste desde antes da fundação do mundo.
- Ó Pai justo, o mundo não te tem conhecido; mas eu te tenho conhecido, e estes têm conhecido que tu a mim me enviaste.
- E eu lhes fiz saber o teu nome, e lho farei saber; para que o amor com que me amaste neles esteja, e eu neles.
Capítulo 18
- Tendo Jesus dito estas coisas, saiu-se com seus discípulos para além do ribeiro de Cedrom; lá onde estava um jardim, em que entrou ele e seus discípulos.
- E também Judas, o mesmo que o entregava, sabia daquele lugar; porque muitas vezes se reunia ali Jesus com os seus discípulos.
- Judas, pois, tomando um esquadrão de soldados, e alguns ministros dos pontífices e dos fariseus, veio ali com lanternas, e com tochas, e com armas.
- Mas sabendo Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se, e disse-lhes: A quem buscais?
- Responderam-lhe: A Jesus Nazareno. Disse-lhes Jesus: Sou eu. E estava também com eles Judas, aquele que o entregava.
- E assim que lhes disse “sou eu”, tornaram para trás, e caíram por terra.
- Tornou-lhes, pois, a perguntar: A quem buscais? E eles disseram: A Jesus Nazareno.
- Respondeu Jesus: Já vos tenho dito que sou eu. Portanto, se a mim me buscais, deixai ir a estes.
- Para que se cumprisse a palavra que tinha dito: Dos que me deste, a nenhum deles perdi.
- Então Simão Pedro, que tinha uma espada, puxou dela, e feriu a um servo do pontífice; e cortou-lhe a orelha direita. E o servo se chamava Malco.
- Jesus então disse a Pedro: Mete tua espada na bainha! Não beberei eu o cálice que o Pai me deu?
- Então o esquadrão e o tribuno, e os servidores dos judeus, prenderam a Jesus, e o amarraram.
- E trouxeram-no primeiramente a Anás; porque era sogro de Caifás, o qual era pontífice daquele ano.
- E era Caifás o mesmo que havia dado o conselho aos judeus, de que era útil que um só homem morresse pelo povo.
- E a Jesus seguia Simão Pedro, e outro discípulo também; e aquele discípulo era conhecido do pontífice, e entrou com Jesus no pátio do pontífice.
- Mas Pedro estava lá fora, à porta; e saiu aquele discípulo que era conhecido do pontífice, e falou à porteira, e levou para dentro a Pedro.
- Então a criada que era porteira disse a Pedro: Não és tu também um dos discípulos deste homem? Disse ele: Não sou.
- E estavam ali os servos e os criados, os quais haviam feito brasas, porque fazia frio, e aquentavam-se; e estava também com eles Pedro, aquentando-se.
- E o pontífice perguntou a Jesus acerca de seus discípulos, e de sua doutrina.
- Jesus lhe respondeu: Eu manifestamente tenho falado ao mundo: sempre ensinei na sinagoga e no templo, lá onde se reúnem os judeus de todos os lugares, e nada tenho falado em oculto.
- Que me perguntas a mim? Pergunta aos que ouviram, o que é que lhes tenho falado; eis que estes bem sabem o que é que tenho falado.
- E dizendo ele isto, um dos criados que ali estava deu em Jesus uma bofetada, dizendo: Assim respondes ao pontífice!?
- Respondeu-lhe Jesus: Se falei mal, dá testemunho do mal; mas se falei bem, por que me feres?
- Assim, estando amarrado, o mandara Anás ao pontífice Caifás.
- E estando Simão Pedro se aquentando, disseram-lhe: Não és tu um dos seus discípulos? E ele negou, e disse: Não sou.
- Um dos servos do pontífice, parente daquele a quem Pedro havia cortado a orelha, disse-lhe: Não te vi eu no jardim com ele?
- E negou Pedro outra vez, e logo o galo cantou.
- E de Caifás levaram Jesus à audiência; e era pela manhã, e não entraram na audiência, para não serem contaminados, mas para que pudessem comer a Páscoa.
- Então saiu Pilatos a eles lá fora, e disse: Que acusação trazeis contra este homem?
- Responderam, e disseram-lhe: Se este não fosse malfeitor, não to entregaríamos.
- Disse-lhes então Pilatos: Tomai-o vós outros, e segundo a vossa própria Lei julgai-o. E os judeus lhe disseram: A nós não nos é lícito matar ninguém.
- Para que se cumprisse a palavra de Jesus; o qual tinha dito, dando a entender de que tipo de morte havia de morrer.
- Assim que Pilatos tornou a entrar na audiência, e chamou a Jesus, e disse-lhe: És tu o rei dos judeus?
- Respondeu-lhe Jesus: Dizes tu isso de ti mesmo? Ou disseram-to outros acerca de mim?
- Pilatos respondeu: Porventura, sou eu judeu? Tua gente e os pontífices te entregaram a mim. Que fizeste?
- Respondeu Jesus: Meu reino não é deste mundo. Se meu reino deste mundo fosse, meus servidores pelejariam para que eu aos judeus não tivesse sido entregue; agora, pois, meu reino não é daqui.
- Disse-lhe então Pilatos: Logo, rei és tu? Respondeu Jesus: Tu dizes que eu sou rei. Eu para isto sou nascido, e para isto ao mundo vim: para dar testemunho à verdade; todo aquele que é da verdade, ouve a minha voz.
- Disse-lhe Pilatos: Que coisa é a verdade? E havendo dito isto, tornou aos judeus, e disse-lhes: Crime algum acho nele.
- Mas vós outros tendes por costume que eu vos solte um, pela Páscoa. Quereis, pois, que vos solte ao rei dos judeus?
- Então todos bradaram outra vez, dizendo: Não a este, mas sim a Barrabás! E este Barrabás era um salteador.
Capítulo 19
- De modo que então tomou Pilatos a Jesus, e o açoitou.
- E entretecendo os soldados uma coroa de espinhos, puseram-na sobre a sua cabeça, e vestiram-no de um roupão de grã.
- E diziam: Salve, ó rei dos judeus! E davam-lhe bofetadas.
- Então Pilatos saiu outra vez para fora, e disse-lhes: Eis que vo-lo trago cá fora, para que entendais que crime algum acho nele.
- Saiu, pois, Jesus para fora, levando a coroa de espinhos, e o roupão de grã. E Pilatos disse-lhes: Eis aqui o homem!
- E vendo-o os príncipes dos sacerdotes e os servidores, deram brados, dizendo: Crucifica-o! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós outros, e crucificai-o, porque eu não acho nele crime algum.
- Responderam-lhe os judeus: Nós outros temos uma Lei. E segundo a nossa Lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus.
- Tendo, pois, Pilatos ouvido esta palavra, teve ainda mais temor.
- E entrou outra vez na audiência, e disse a Jesus: De onde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta alguma.
- Então lhe disse Pilatos: A mim me não falas? Não sabeis que tenho poder para te crucificar, e que tenho poder para te soltar?
- Respondeu Jesus: Nenhum poder contra mim terias, se de cima não te fosse dado. Portanto, o que a ti me entregou, maior pecado tem.
- Desde então, procurava Pilatos soltá-lo. Mas os judeus bradavam, dizendo: Se a este soltas, de César não és amigo! Qualquer que se faz rei, a César contradiz!
- Ouvindo Pilatos então este dito, levou para fora a Jesus; e assentou-se no tribunal, no lugar que se chama Litóstrotos (e em hebraico, Gabatá).
- E era a véspera da Páscoa, e cerca de seis horas. Então disse aos judeus: Eis aqui o vosso rei!
- Mas eles bradavam: Tira, tira, crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Ao vosso rei, hei eu de crucificar? Responderam os pontífices: Não temos outro rei, senão a César.
- Então lho entregou, para que fosse crucificado; e tomaram a Jesus, e levaram-no.
- E levando ele a sua cruz, veio ao lugar chamado o Calvário (e em hebraico, Gólgota).
- Lá onde o crucificaram, e com ele outros dois: um de cada lado, e Jesus no meio.
- E escreveu também Pilatos um título, o qual pôs em cima da cruz, em que estava escrito: “Jesus Nazareno, rei dos judeus”.
- E leram este título muitos dos judeus, porque o lugar onde Jesus estava crucificado era perto da cidade; e estava escrito em hebraico, e em grego, e em latim.
- E diziam a Pilatos os pontífices dos judeus: Não escrevas “rei dos judeus”, mas sim que ele mesmo disse “sou rei dos judeus”.
- Respondeu Pilatos: O que escrevi, já escrevi.
- E havendo os soldados crucificado a Jesus, tomaram suas vestes – e fizeram dela quatro partes, para cada soldado uma parte –, e a túnica. A túnica era sem costura, toda tecida de cima a baixo.
- E disseram entre si: Não a repartamos, mas lancemos sortes sobre ela, para ver de quem será. E isso para que se cumprisse a Escritura, que diz: Entre si repartiram minhas vestes, e sobre minha túnica lançaram sortes. E os soldados, pois, fizeram isto.
- E estavam junto à cruz de Jesus sua mãe, e a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena.
- E vendo Jesus a sua mãe, e também ao discípulo que ele amava, o qual estava presente, disse à sua mãe: Mulher, vê teu filho.
- E depois disse ao discípulo: Vê tua mãe. E desde aquela hora, a recebeu em sua casa o discípulo.
- Depois, sabendo Jesus que todas as coisas já estavam cumpridas, para que se cumprisse a Escritura, disse: Tenho sede.
- Estava, pois, ali um vaso cheio de vinagre; então encheram uma esponja de vinagre e, envolvendo-a com hissopo, chegaram-lha à boca.
- E assim que Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E abaixando a cabeça, deu o espírito.
- Então os judeus, para que os corpos não ficassem o sábado na cruz – porquanto era então a preparação, porque era o grande dia do sábado –, rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem retirados.
- E vieram os soldados; e na verdade quebraram as pernas ao primeiro, e ao outro que juntamente com ele havia sido crucificado.
- Mas quando vieram a Jesus e o viram já morto, não lhe quebraram as pernas.
- Mas um dos soldados lhe abriu com uma lança o lado; e logo saiu sangue, e água.
- E o que isto viu o testificou, e o seu testemunho é verdadeiro; e sabe que a verdade diz, para que vós outros também creiais.
- Porque estas coisas todas aconteceram para que se cumprisse a Escritura, a qual diz: Nenhum osso dele será quebrado.
- E outra vez diz outra Escritura: Verão àquele a quem traspassaram.
- Passadas estas coisas, rogou a Pilatos José de Arimateia, o qual era um discípulo de Jesus – porém oculto, por medo dos judeus –, que lhe permitisse tirar o corpo de Jesus; o que Pilatos lhe permitiu. Então veio, e tirou o corpo de Jesus.
- Então veio também Nicodemos – aquele mesmo que antes, de noite, a Jesus tinha vindo –, trazendo um composto de mirra e de aloés, como quase cem arráteis.
- Tomaram, pois, o corpo de Jesus; e envolveram-no em lençóis com as especiarias, como é o costume dos judeus sepultar.
- E havia um jardim naquele lugar onde fora crucificado; e no jardim, um sepulcro novo, em que ainda ninguém havia sido posto.
- Ali, pois, por causa da véspera da Páscoa dos judeus, e porque aquele sepulcro estava perto, puseram a Jesus.
Capítulo 20
- E no primeiro dia da semana, veio Maria Madalena, bem de manhãzinha, sendo ainda escuro, ao sepulcro; e viu a pedra já tirada do sepulcro.
- Então correu, e foi a Simão Pedro, e ao outro discípulo, a quem amava Jesus. E disse-lhes: Do sepulcro levaram o Senhor, e não sabemos onde o puseram!
- E saiu Pedro, e também o outro discípulo; e vieram ao sepulcro.
- E corriam ambos juntos; mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro.
- E abaixando-se, viu estarem os lençóis; mas não entrou.
- Veio, pois, Simão Pedro seguindo-o, e entrou no sepulcro; e viu estarem os lençóis.
- E o sudário que sobre sua cabeça fora posto, não viu estar junto com os lençóis; mas sim envolto num outro lugar, à parte.
- Então, pois, entrou também o outro discípulo, que viera primeiro ao sepulcro; e viu, e creu.
- Porque ainda não sabiam a Escritura, que era necessário que dos mortos ele ressuscitasse.
- E tornaram os discípulos aos seus.
- Mas Maria estava lá fora, chorando junto ao sepulcro; e estando assim chorando, abaixou-se ao sepulcro.
- E viu a dois anjos, vestidos de branco; os quais estavam assentados, um à cabeceira e o outro aos pés, lá onde o corpo de Jesus havia sido posto.
- E disseram-lhe: Mulher, por que choras? Disse-lhes ela: Levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram!
- E havendo dito isto, virou-se para trás, e viu a Jesus, que estava ali; porém não sabia que era Jesus.
- Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? A quem buscas? Ela, pensando que era o hortelão, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, que eu o levarei.
- Disse-lhe Jesus: Maria! Virando-se ela, disse-lhe: Raboni! Que quer dizer “Mestre”.
- Disse-lhe Jesus: Não me toques, porque ainda não subi a meu Pai. Porém vai aos meus irmãos, e dize-lhes: Subo a meu Pai, e a vosso Pai; a meu Deus, e a vosso Deus.
- Veio Maria Madalena, dando as novas aos discípulos; que vira ao Senhor, e que estas coisas lhe dissera.
- E como já entardecia aquele dia, que era o primeiro dos sábados; estando trancadas as portas onde os discípulos, por medo dos judeus, se tinham reunido, veio Jesus, e pôs-se no meio. E disse-lhes: A paz seja convosco!
- E dizendo isto, mostrou-lhes suas mãos, e seu lado. Então se regozijaram os discípulos, vendo ao Senhor.
- E disse-lhes outras vez: A paz seja convosco! Como me enviou o Pai, assim vos envio eu também a vós outros.
- E havendo isto dito, assoprou sobre eles, e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo!
- Aos que perdoardes os pecados, lhes são perdoados; e aos que os retiverdes, lhes são retidos.
- Mas Tomé, um dos doze, que se chama o Dídimo, não estava com eles quando Jesus veio.
- Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: Ao Senhor temos visto! E ele lhes disse: Se em suas mãos o sinal dos cravos eu não vir, e se meu próprio dedo no lugar dos cravos não puser, e em seu lado não puser minha mão, de nenhuma maneira hei de crer.
- E oito dias depois, estando outra vez seus discípulos recolhidos, e com eles Tomé, veio Jesus, estando já fechadas as portas. E pôs-se no meio, e disse: A paz seja convosco!
- Depois disse a Tomé: Põe teu dedo aqui, e vê minhas mãos; e chega tua mão, e põe-na em meu lado. E não sejas mais incrédulo, mas crente.
- Então Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu!
- Disse-lhe Jesus: Porque me viste, ó Tomé, creste. Bem-aventurados aqueles que não viram, e creram!
- Outros muitos sinais fez também Jesus na presença de seus discípulos, os quais neste livro não estão escritos.
- Porém estes estão escritos, para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus; e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.
Capítulo 21
- Depois disto, manifestou-se Jesus outra vez aos seus discípulos, no mar de Tiberíades; e manifestou-se desta maneira:
- Estavam juntos Simão Pedro, e Tomé, que se chama o Dídimo, e Natanael, o que era de Caná da Galileia, e os filhos de Zebedeu; e outros dois de seus discípulos.
- Disse-lhes Simão: A pescar vou-me. Disseram-lhe eles: Vamos nós outros também contigo. Foram, e subiram logo num barco; porém àquele noite, nada pegaram.
- E vinda já a manhã, pôs-se Jesus na praia; porém os discípulos não sabiam que era Jesus.
- Assim que Jesus lhes disse: Filhinhos, tendes alguma coisa que comer? Responderam-lhe: Não.
- E ele lhes disse: Lançai a rede à direita do barco, e achareis. Então a lançaram, e de modo algum podiam tirá-la, dada a multidão dos peixes.
- Disse então aquele discípulo a quem Jesus amava a Pedro: É o Senhor! Ouvindo, pois, Simão Pedro que era o Senhor, cingiu-se com o capote, porque estava despido; e lançou-se ao mar.
- E os outros discípulos vieram com o barco, trazendo após si a rede de peixes; porque não estavam senão cerca de duzentos côvados longe de terra.
- E assim que desceram à terra, viram já as brasas postas, e um peixe em cima delas, e também pão.
- Disse-lhes Jesus: Trazei dos peixes que agora tomastes.
- Subiu Simão Pedro, e trouxe a rede à terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes; e mesmo sendo tantos, a rede não se rompeu.
- Disse-lhes Jesus: Vinde, jantai. E nenhum dos discípulos lhe ousava perguntar: Tu, quem és? Sabendo que era o Senhor.
- Assim que veio Jesus, e tomou o pão, e deu-lho; e assim mesmo também do peixe.
- E esta era já a terceira vez que Jesus aos seus discípulos se manifestava, depois de dos mortos ter ressuscitado.
- E havendo já jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me ainda mais que estes? Disse-lhe ele: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta meus cordeiros.
- Tornou-lhe a dizer pela segunda vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta minhas ovelhas.
- Disse-lhe pela terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Entristeceu-se Pedro de que já pela terceira vez lhe disse: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas; tu sabes que eu te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta minhas ovelhas.
- Em verdade, em verdade te digo que, quando eras mais moço, cingias-te, e ias aonde querias. Mas quando já fores velho, estenderás tuas mãos, e um outro te cingirá; e te levará aonde tu não quiseras.
- E isto disse, dando a entender com que tipo de morte a Deus havia de glorificar. E tendo dito isto, disse-lhe: Segue-me.
- E virando-se Pedro, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava; o mesmo que também na ceia a seu peito se recostara, e lhe dissera: Senhor, quem é o que te há de entregar?
- Assim que, vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e quanto a este?
- Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu!
- Saiu, pois, este ditado entre os irmãos: que aquele discípulo não havia de morrer. Porém Jesus não lhe disse que ele não morreria, mas sim: Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa a ti?
- Este é aquele discípulo que destas coisas dá testemunho, e estas coisas escreveu; e sabemos que seu testemunho é verdadeiro.
- Ainda há, porém, outras muitas coisas que Jesus fez; de modo que, se uma a uma fossem escritas, nem mesmo no mundo inteiro julgo que caberiam os livros que acerca delas se haveriam de escrever. Amém.

