Capítulo 1
- Houve um varão de Ramataim de Zofim, da montanha de Efraim, cujo nome era Elcaná, filho de Jeroão, filho de Eliú, filho de Toú, filho de Zufe, efrateu.
- E este tinha duas mulheres: o nome de uma, Ana, e o nome da outra, Penina. E Penina tinha filhos, porém Ana não tinha filhos.
- Subia, pois, este varão de sua cidade, de ano em ano, a adorar e a sacrificar ao Senhor dos Exércitos em Siló. E estavam ali os sacerdotes do Senhor: Hofni e Fineias, os dois filhos de Eli.
- E foi que, no dia em que Elcaná sacrificava, dava partes a Penina, sua mulher, e a todos seus filhos, e a todas suas filhas.
- Porém a Ana dava uma parte, com indignação; porquanto amava a Ana, porém o Senhor lhe cerrara a madre.
- E sua adversária a irritava continuamente, para a embravecer; porquanto o Senhor lhe cerrara a madre.
- E assim o fazia ele de ano em ano; desde que subia à casa do Senhor, assim a outra a irritava. Pelo que chorava, e não comia.
- Então Elcaná, seu marido, lhe disse: Ana, por que choras? E por que não comes? E por que está mal teu coração? Não te sou eu melhor que dez filhos?
- Então Ana se levantou, assim que comeram e beberam em Siló. E Eli, sacerdote, estava assentado em uma cadeira, junto a um pilar do templo do Senhor.
- Ela pois, com amargura de alma, orou ao Senhor, e chorou abundantemente.
- E fez um voto, dizendo: Senhor dos Exércitos, se benignamente atentares para a aflição de tua serva, e de mim te lembrares, e de tua serva te não esqueceres, mas à tua serve semente de varão deres; ao Senhor o darei, todos os dias de sua vida, e sobre sua cabeça não subirá navalha.
- E foi que, perseverando ela em oração perante a face do Senhor, Eli atentava para sua boca.
- Porquanto Ana em seu coração falava, tão somente seus lábios se moviam; sua voz, porém, se não ouvia. Pelo que Eli a teve por bêbada.
- E disse-lhe Eli: Até quando te estarás bêbada? Aparta de ti teu vinho!
- Porém Ana respondeu, e disse: Não, senhor meu; sou mulher atribulada de espírito; nem vinho nem cidra tenho bebido. Porém tenho derramado minha alma perante a face do Senhor.
- Não tenhas, pois, a tua serva por filha de Belial; que da multidão de meus pensamentos, e de meu desgosto, tenho falado até agora.
- Então respondeu Eli, e disse: Vai em paz. E o Deus de Israel te dê tua petição, que lhe pediste.
- E disse ela: Tua serva ache graça aos teus olhos. Assim a mulher se foi se caminho; e comeu, e sua face não era mais a mesma.
- E levantaram-se de madrugada, e adoraram perante a face do Senhor; e tornaram-se, e vieram à sua casa, a Ramá. E Elcaná conheceu a Ana, sua mulher, e o Senhor se lembrou dela.
- E foi que, passado algum tempo, Ana concebeu, e deu à luz um filho. E chamou seu nome Samuel; porquanto, dizia ela, o tenho pedido ao Senhor.
- E subiu aquele varão, Elcaná, com toda sua casa, a sacrificar ao Senhor o sacrifício anual, e a cumprir seu voto.
- Porém Ana não subiu. Mas disse a seu marido: Sendo o menino já desmamado, então o levarei; para que apareça perante a face do Senhor, e aí se fique para sempre.
- E disse-lhe Elcaná, seu marido: Faze o que bem te parecer aos teus olhos: fica-te até que o desmames; tão somente o Senhor confirme sua palavra. Assim a mulher se ficou, e criou a seu filho, até que o desmamou.
- E havendo-o desmamado, o fez subir consigo, com três bezerros, e um efa de farinha, e um odre de vinho; e trouxe-o à casa do Senhor a Siló. E era o menino ainda muito menino.
- E degolaram um bezerro; e assim trouxeram o menino a Eli.
- E disse ela: Vive tua alma, ó senhor meu! Que eu sou aquela mulher que aqui contigo esteve, para orar ao Senhor.
- Por este menino orava eu; e o Senhor me deu minha petição, que eu pedido lhe tinha.
- Pelo que também ao Senhor eu o entreguei, todos os dias que viver; pois ao Senhor foi pedido. E ele adorou ali ao Senhor.
Capítulo 2
- Então orou Ana, e disse: Meu coração salta de prazer no Senhor, minha força está exaltada no Senhor. Minha boca se dilatou sobre meus inimigos, porquanto me alegro em tua salvação.
- Ninguém há santo como o Senhor, porquanto ninguém há mais que ti; e rocha nenhuma há como nosso Deus
- Não multipliqueis o falar de altíssimas altivezas, nem saiam coisas árduas de vossa boca; porque o Senhor é o Deus das ciências, e seus feitos são retos.
- Quanto ao arco dos fortes, esses são quebrantados; e os que tropeçavam foram cingidos de força.
- Os fartos de pão se alugaram, e os famintos, mais o não são: até a estéril deu à luz sete, e a que muitos filhos tinha, enfraqueceu.
- O Senhor mata, e vivifica: faz descer ao inferno, e faz tornar a subir.
- O Senhor empobrece, e enriquece: abaixa, e também exalta.
- Levanta do pó ao coitado, e desde o esterco exalta ao necessitado, para o fazer assentar com os príncipes; e faz-lhes herdar a cadeira de honra. Porque do Senhor são os alicerces da terra, e assentou sobre eles o mundo.
- Os pés de seus santos guardará, porém os ímpios se calarão na escuridade; porquanto ninguém por força própria tem poder.
- Os que com o Senhor contendem, hão de ser quebrantados: desde os céus sobre eles trovoará, o Senhor julgará aos confins da terra. E dará força a seu rei, e exaltará o esforço do seu ungido.
- Então Elcaná se foi a Ramá, à sua casa. Porém o menino se ficou servindo ao Senhor, perante o sacerdote Eli.
- Eram porém os filhos de Eli, filhos de Belial: não conheciam ao Senhor.
- Porquanto o costume daqueles sacerdotes com o povo era este: que oferecendo alguém algum sacrifício, vinha o moço do sacerdote, estando-se a carne cozendo, com um garfo de três dentes;
- E dava com ele na caldeira, ou na panela, ou no caldeirão, ou no porte; e tudo quanto o garfo tirava, o sacerdote o tomava para si: assim faziam a todo Israel, que vinha lá a Siló.
- Também antes de incensar a gordura, vinha o moço do sacerdote, e dizia ao varão que sacrificava: Dá essa carne para assar ao sacerdote. Porque não tomará de ti carne cozida, senão crua.
- E dizendo-lhe o varão: Incendam primeiro a gordura de hoje, e depois toma para ti como tua alma desejar. Porém ele lhe dizia: Não, agora o hás de dar; e senão, por força o tomarei.
- Assim que mui grande era o pecado destes rapazes perante a face do Senhor, porquanto os homens desprezavam a oferta do Senhor.
- Porém Samuel ministrava perante a face do Senhor: sendo ainda rapaz, vestido com uma roupeta da linho.
- E sua mãe lhe fazia uma túnica pequena, e de ano em ano lha trazia: quando com seu marido subia, a sacrificar o sacrifício anual.
- E Eli abençoava a Elcaná e à sua mulher, e dizia: O Senhor te dê semente desta mulher, pela petição que pediu ao Senhor. E tornavam-se a seu lugar.
- Visitou, pois, o Senhor a Ana, e concebeu; e gerou três filhos, e duas filhas. E o rapaz Samuel crescia para com o Senhor.
- Era porém Eli já mui velho. E ouvia tudo quanto seus filhos faziam a todo Israel; e que dormiam com as mulheres que, em bandos, vinham à porta da tenda do ajuntamento.
- E disse-lhes: Por que fazeis tais coisas? Que ouço de todo este povo vossos malefícios.
- Não, filhos meus. Porque não é boa fama esta que ouço, que fazeis transgredir ao povo do Senhor.
- Pecando homem contra homem, os juízes o julgarão: pecando, porém, o homem contra o Senhor, quem rogará por ele? Mas não ouviram a voz de seu pai, pois o Senhor os queria matar.
- E o rapaz Samuel ia crescendo, e fazia-se agradável: assim para com o Senhor, como também para com os homens.
- E veio um varão de Deus a Eli. E disse-lhe: Assim diz o Senhor: Com efeito, não me manifestei à casa de teu pai, estando eles ainda no Egito, na casa de Faraó?
- E não mo escolhi dentre todas as tribos de Israel por sacerdote, para oferecer sobre meu altar, para incensar o perfume, e para trazer sobre si o éfode perante minha face? E não dei à casa de teu pai todas as ofertas incensadas dos filhos de Israel?
- Por que coiceais contra meu sacrifício, e minha oferta de manjares, que mandei na habitação? E honras a teus filhos mais que a mim, para vos engordar do principal de todas as ofertas de meu povo de Israel?
- Portanto diz o Senhor, Deus de Israel: Em verdade dizia eu que tua casa e a casa de teu pai andariam perante minha face perpetuamente. Agora, porém, diz o Senhor: Nunca tal eu faça! Porque aos que me honram, honrarei; porém os que me desprezam, serão envilecidos.
- Eis que dias vêm, em que cortarei teu braço, e o braço da casa de teu pai; de tal modo que não haja mais velho algum em tua casa.
- E verás o aperto da morada de Deus, em lugar de todo o bem que houvera de fazer a Israel; e mais em dia nenhum haverá velho em tua casa.
- O varão, porém, que eu te não desarraigar de meu altar, será para desfazer-te os olhos, e para entristecer-te a alma; e toda a multidão de tua casa, já varões feitos, morrerá.
- E isto te será por sinal, o que sobrevirá a teus dois filhos, a Hofni e a Fineias: ambos morrerão num mesmo dia.
- E eu despertarei para mim um sacerdote fiel, que conforme a meu coração e a minha alma faça; e eu lhe edificarei casa firme, e andará cada dia perante o meu ungido.
- E será que, todo aquele que restar em tua casa, se virá a inclinar perante ele, por uma moeda de prata, e por um bocado de pão. E dirá: Rogo-te que me aceites em algum ministério sacerdotal, para que possa comer um pedaço de pão.
Capítulo 3
- E o rapaz Samuel servia ao Senhor perante Eli. E a palavra do Senhor era de muita valia naqueles dias: não havia visão manifesta.
- E foi que, naquele dia, estando Eli em seu lugar deitado – e já seus olhos se começavam a escurecer, que não podia ver –,
- E estando também Samuel já deitado, antes que a lâmpada de Deus se apagasse, no templo do Senhor, em que a arca de Deus estava,
- O Senhor chamou a Samuel. E disse ele: Eis-me aqui.
- E correu a Eli, e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste; mas ele disse: Não te chamei, torna-te a deitar. E foi-se, e deitou-se.
- E tornou o Senhor a chamar outra vez a Samuel; e Samuel se levantou, e se foi a Eli, e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Mas ele disse: Não te chamei, filho meu; torna-te a deitar.
- Porém Samuel ainda não conhecia ao Senhor; e ainda não lhe fora manifestada a palavra do Senhor.
- Tornou, pois, o Senhor a chamar a Samuel, a terceira vez; e ele se levantou, e se foi a Eli, e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Então entendeu Eli que o Senhor chamava ao rapaz.
- Pelo que disse Eli a Samuel: Vai-te a deitar; e será que, se te chamar, dirás: Fala, Senhor, que teu servo ouve. Então Samuel se foi, e deitou-se em seu lugar.
- Então veio o Senhor, e pôs-se ali, e chamou como as outras vezes: Samuel, Samuel. E disse Samuel: Fala, que teu servo ouve.
- E disse o Senhor a Samuel: Eis que me vou a fazer uma coisa em Israel, que a qualquer que a ouvir, ambas as orelhas lhe retinam.
- Naquele mesmo dia, despertarei sobre Eli tudo quanto tenho falado contra sua casa; e começá-lo-ei, e acabá-lo-ei.
- Porque já eu lhe fiz saber que julgarei sua casa para sempre: pela iniquidade, que bem soube, que seus filhos se fizessem execráveis, e não os reprimiu.
- E portanto jurei à casa de Eli, que nunca mais será expiada a iniquidade da casa de Eli com sacrifício, nem com oferta de manjares.
- E Samuel se ficou deitado até pela manhã; e então abriu as portas da casa do Senhor. Porém temia Samuel de notificar esta visão a Eli.
- Então chamou Eli a Samuel, e disse: Samuel, filho meu. E disse ele: Eis-me aqui.
- E ele disse: Que palavra é a que te falou? Peço-te que ma não encubras. Assim Deus te faça, e assim te acrescente, se me encobrires palavra alguma de todas as palavras que te falou.
- Então Samuel lhe notificou todas aquelas palavras, e nada lhe encobriu. E disse ele: O Senhor é: faça o que bem lhe parecer aos seus olhos.
- E crescia Samuel; e o Senhor era com ele, e nenhuma de todas suas palavras deixou cair em terra.
- E todo Israel, desde Dã até Berseba, reconheceu que Samuel estava confirmado por profeta do Senhor.
- E continuou o Senhor a aparecer em Siló; porquanto o Senhor se manifestava a Samuel em Siló, pela palavra do Senhor.
Capítulo 4
- E sobreveio a palavra de Samuel a todo Israel. E Israel saiu ao encontro à peleja aos filisteus, e puseram-se em campo junto a Ebenézer; e os filisteus acamparam junto a Afeca.
- E os filisteus se puseram em ordem de batalha, para sair de encontro a Israel; e estendendo-se a batalha, Israel foi ferido diante dos filisteus. Porque feriram na batalha, em campo, a quase quatro mil homens.
- E tornando o povo ao arraial, disseram os anciãos de Israel: Por que o Senhor nos feriu hoje diante dos filisteus? De Siló nos tomemos a arca do concerto do Senhor, e venha ao meio de nós, para que nos livre da mão de nossos inimigos.
- Enviou, pois, o povo a Siló, e trouxeram de lá a arca do concerto do Senhor dos Exércitos, que habita entre os querubins; e os dois filhos de Eli – Hofni e Fineias – estavam ali com a arca do concerto de Deus.
- E foi que, vindo a arca do concerto do Senhor ao arraial, todo Israel jubilou, com tão grande júbilo, que a terra estremeceu.
- E ouvindo os filisteus a voz do júbilo, disseram: Que voz de tão grande júbilo é esta no arraial dos hebreus? Então souberam que a arca do Senhor era vinda ao arraial.
- Pelo que os filisteus se atemorizaram, porque diziam: Deus tem vindo ao arraial. Diziam mais: Ai de nós, que tal não sucedeu ontem nem anteontem!
- Ai de nós! Quem nos livrará da mão destes grandiosos deuses? Estes são os deuses que feriram aos egípcios com toda praga, junto ao deserto.
- Esforçai-vos, e sede varões, ó filisteus, para que porventura não venhais a servir aos hebreus, como eles vos têm servido a vós outros! Sede, pois, varões, e pelejai.
- Então pelejaram os filisteus, e Israel foi ferido; e fugiram, cada um a suas tendas; e fez-se grande estrago. E caíram de Israel trinta mil homens de pé.
- E foi tomada a arca de Deus. E os dois filhos de Eli – Hofni e Fineias – morreram.
- Então correu da batalha um varão de Benjamim, e chegou no mesmo dia a Siló; e trazia suas vestes rotas, e terra sobre sua cabeça.
- E chegando ele, eis que Eli estava assentado sobre uma cadeira, atalaiando a uma banda do caminho; porquanto seu coração estava tremendo pela arca de Deus. Entrando, pois, aquele varão a anunciar isto na cidade, toda a cidade gritou.
- E ouvindo Eli a voz do grito, disse: Que voz de alvoroço é esta? Então aquele varão se apressou, e veio, a anunciou-o a Eli.
- (E era Eli de noventa e oito anos de idade; e seus olhos estavam tão escurecidos, que já não podia ver).
- E disse aquele varão a Eli: Eu sou o que venho da batalha; porque eu tenho fugido hoje da batalha. E disse ele: Que coisa sucedeu, filho meu?
- Então respondeu o que as novas trazia, e disse: Israel fugiu de diante dos filisteus, e também grande desfeita houve entre o povo. Além disso, também teus dois filhos, Hofni e Fineias, morreram; e a arca de Deus foi tomada.
- E sucedeu que, fazendo ele menção da arca de Deus, Eli caiu da cadeira para trás, do lado da porta, e o toutiço se lhe quebrou, e morreu; porquanto o varão era velho e pesado. E ele tinha julgado a Israel por quarenta anos.
- E estando sua nora, a mulher de Fineias, grávida, e já perto de dar à luz, e ouvindo estas novas – de que a arca de Deus era tomada, e que seu sogro e seu marido morreram –, encurvou-se, e deu à luz, porquanto as dores lhe sobrevieram.
- E quase ao tempo que se ia morrendo, disseram as mulheres que estavam com ela: Não temas, porque tens dado à luz filho. Porém ela não respondeu, e nisso não pôs o coração.
- E chamou ao menino Icabote, dizendo: De Israel a glória é levada cativa. Porquanto a arca de Deus fora tomada, e por causa de seu sogro, e de seu marido.
- E disse: De Israel a glória é levada cativa. Pois é tomada a arca de Deus.
Capítulo 5
- Os filisteus tomaram, pois, a arca de Deus; e trouxeram-na de Ebenézer a Asdode.
- E tomaram os filisteus a arca de Deus, e meteram-na na casa de Dagom; e puseram-na junto a Dagom.
- Levantando-se, porém, de madrugada os de Asdode no dia seguinte, eis que Dagom estava caído em terra sobre sua face, perante a arca do Senhor. E tomaram a Dagom, e tornaram-no a pôr em seu lugar.
- E levantando-se de madrugada, no dia seguinte, pela manhã, eis que Dagom jazia caído em terra sobre sua face, perante a arca do Senhor; com a cabeça de Dagom, e ambas as palmas de suas mãos, cortadas sobre o umbral, estando Dagom somente sobre ele.
- Pelo que nem os sacerdotes de Dagom, nem ninguém de todos os que entram na casa de Dagom, pisam o umbral de Dagon em Asdode: até o dia de hoje.
- Porém a mão do Senhor se agravou sobre os de Asdode, e os assolou. e os feriu com almorreimas: a Asdode, e a seus termos.
- Vendo então os varões de Asdode que assim o negócio ia, disseram: Não fique conosco a arca do Deus de Israel, pois sua mão é árdua sobre nós, e sobre Dagom, nosso deus.
- Pelo que enviaram, e congregaram a si a todos os príncipes dos filisteus, e disseram: Que faremos com a arca do Deus de Israel? E responderam: A arca do Deus de Israel transporte-se a Gate. Assim, transportaram a arca do Deus de Israel.
- E foi que, desde que a houveram transportado, a mão do Senhor veio contra aquela cidade, com mui grande vexação; pois feriu aos varões daquela cidade, desde o pequeno até o grande. E tinham almorreimas nas partes secretas.
- Então enviaram a arca de Deus a Ecrom. Sucedeu porém que, vinda a arca de Deus a Ecrom, os de Ecrom exclamaram, dizendo: Transportaram a mim a arca do Deus de Israel, para matarem a mim, e a meu povo!
- E enviaram, e congregaram a todos os príncipes dos filisteus, e disseram: Enviai a arca do Deus de Israel, e torne-se a seu lugar, para que não mate nem a mim, nem a meu povo. Porquanto havia mortal vexação em toda a cidade, e a mão de Deus muito se agravara ali.
- E os homens que não morriam eram tão feridos com almorreimas, que o clamor da cidade subia até o céu.
Capítulo 6
- Havendo, pois, estado a arca do Senhor na terra dos filisteus por sete meses,
- Os filisteus chamaram aos sacerdotes e aos adivinhos, dizendo: Que faremos com a arca do Senhor? Fazei-nos saber com que a tornaremos a enviar a seu lugar.
- Os quais disseram: Se enviardes a arca do Deus de Israel, não a envieis vazia; porém de qualquer modo lhe pagareis a expiação da culpa. Então sarareis, e se vos fará saber por que sua mão se não desvia de vós outros.
- Então disseram: Qual é a expiação da culpa que lhe havemos de pagar? E disseram: Segundo o número dos príncipes dos filisteus, cinco almorreimas de ouro, e cinco ratos de ouro; porquanto a praga é uma e a mesma sobre todos vós outros, e sobre vossos príncipes.
- Fazei, pois, as formas de vossas almorreimas, e as formas de vossos ratos, que andam destruindo a terra, e dai glória ao Deus de Israel: porventura aliviará sua mão de sobre vós outros, e de sobre vosso deus, e de sobre vossa terra.
- Por que, pois, endureceríeis vosso coração, como os egípcios e Faraó endureceram seu coração? Porventura, depois de havê-los tratado tão mal, não os deixaram ir, e se foram?
- Agora, pois, mãos à obra, e fazei-vos uma carruagem nova; e tomai duas vacas que criem, sobre as quais não subiu jugo. E ponde as vacas à carruagem, e tornai seus bezerros, desde elas, à casa.
- Então tomai a arca do Senhor, e ponde-a sobre a carruagem; e as obras de ouro, que lhe haveis de pagar em expiação de culpa, metei num cofre, ao seu lado. E assim a enviareis, e se vá.
- Vede então: se subir pelo caminho de seu termo a Bete-Semes, ele é o que nos fez este grande mal; e se não, saberemos que sua mão nos não tocou, e que isto por acaso nos sucedeu.
- E aqueles varões o fizeram assim, e tomaram duas vacas que criavam, e puseram-nas à carruagem; e seus bezerros encerraram em casa.
- E puseram a arca do Senhor sobre a carruagem, como também o cofre com os ratos de ouro e com as formas de suas almorreimas.
- Então se encaminharam as vacas diretamente ao caminho de Bete-Semes, e seguiam um mesmo caminho, indo andando e berrando, sem desviar-se nem à mão direita, nem à esquerda; e os príncipes dos filisteus se foram atrás delas, até o termo de Bete-Semes.
- E os de Bete-Semes andavam segando a sega do trigo no vale. E levantando seus olhos, viram a arca; e vendo-a, se alegraram.
- E a carruagem veio ao campo de Josué, o bete-semita, e parou ali; e ali estava uma grande pedra. E fenderam a madeira da carruagem, e ofereceram as vacas ao Senhor em holocausto.
- E os levitas desceram a arca do Senhor, como também o cofre que estava junto a ela, em que estavam as obras de ouro; e os puseram sobre aquela grande pedra. E os varões de Bete-Semes ofereceram holocaustos, e sacrificaram sacrifícios ao Senhor no mesmo dia.
- E vendo os cinco príncipes dos filisteus aquilo, tornaram-se a Ecrom no mesmo dia.
- Estas, pois, são as almorreimas de ouro que pagaram os filisteus ao Senhor, em expiação da culpa: por Asdode uma, por Gaza outra, por Asquelom outra, por Gate outra, e por Ecrom outra.
- Como também os ratos de ouro, segundo o número de todas as cidades dos filisteus, que estavam sob os cinco príncipes, desde as cidades fortes até às aldeias dos paisanos; e até Abel, a grande pedra, sobre a qual puseram a arca do Senhor, que ainda está até o dia de hoje no campo de Josué, o bete-semita.
- E dentre os varões de Bete-Semes, feriu o Senhor a alguns, porquanto olharam na arca do Senhor; até ferir do povo cinquenta mil e setenta homens. Então o povo se entristeceu, porquanto o Senhor fizera tão grande estrago entre o povo.
- Então disseram os varões de Bete-Semes: Quem poderia subsistir perante a face do Senhor, este Deus santo? E a quem subirá, desde nós outros?
- Enviaram, pois, mensageiros aos moradores de Quiriate-Jearim, dizendo: Os filisteus têm tornado a arca do Senhor. Descei, pois, agora, e fazei-a subir a vós outros.
Capítulo 7
- Então vieram os varões de Quiriate-Jearim, e levaram a arca do Senhor, e trouxeram-na à casa de Abinadabe, no outeiro; e a Eleazar, seu filho, consagraram para que guardasse a arca do Senhor.
- E foi que, desde aquele dia, a arca do Senhor ficou em Quiriate-Jearim; e tantos dias se passaram, que até vinte anos chegaram. E lamentava toda a casa de Israel após o Senhor.
- Então falou Samuel a toda a casa de Israel, dizendo: Se com todo vosso coração vos converterdes ao Senhor, tirai dentre vós outros os deuses estranhos, e os astarotes. E endireitai vosso coração ao Senhor, e servi a ele só; e arrebatar-vos-á da mão dos filisteus.
- Então os filhos de Israel tiraram dentre si aos baalins, e aos astarotes; e serviram só ao Senhor.
- Disse mais Samuel: Congregai a todo Israel em Mispa. E orarei por vós outros ao Senhor.
- E congregaram-se em Mispa; e tiraram água, e derramaram-na perante a face do Senhor; e jejuaram aquele dia, e disseram ali: Pecamos contra o Senhor. E julgava Samuel aos filhos de Israel em Mispa.
- Ouvindo, pois, os filisteus que os filhos de Israel estavam congregados em Mispa, subiram os maiorais dos filisteus contra Israel; o que, ouvindo os filhos de Israel, temeram de diante dos filisteus.
- Pelo que disseram os filhos de Israel a Samuel: Não cesses de clamar ao Senhor, nosso Deus, por nós outros. Para que nos livre da mão dos filisteus.
- Então tomou Samuel um cordeiro de leite, e sacrificou-o inteiro em holocausto ao Senhor; e clamou Samuel ao Senhor por Israel, e o Senhor lhe deu ouvidos.
- E sucedeu que, estando Samuel sacrificando o holocausto, os filisteus chegaram à peleja contra Israel. E trovejou o Senhor aquele dia com grande trovoada sobre os filisteus, e tão ferozmente os assombrou, que foram desfeitos perante os filhos de Israel.
- E os varões de Israel saíram de Mispa, e perseguiram aos filisteus; e os feriram até abaixo de Bete-Car.
- Então tomou Samuel uma pedra, e pô-la entre Mispa e Sem; e chamou seu nome Ebenézer. E disse: Até aqui nos ajudou o Senhor.
- Assim os filisteus foram abatidos, e nunca mais vieram aos termos de Israel; porquanto a mão do Senhor foi contra os filisteus, todos os dias de Samuel.
- E as cidades que os filisteus tinham tomado a Israel, se tornaram a Israel, desde Ecrom até Gate; e até seus termos Israel arrebatou da mão dos filisteus. E houve paz entre Israel e os amorreus.
- E Samuel julgou a Israel todos os dias de sua vida.
- E ia de ano em ano, e rodeava a Betel, e a Gilgal, e a Mispa; e julgava a Israel em todos aqueles lugares.
- Porém tornava-se a Ramá, porquanto estava ali sua casa; e ali julgava a Israel. E edificou ali um altar ao Senhor.
Capítulo 8
- E foi que, sendo Samuel já velho, constituiu a seus filhos por juízes sobre Israel.
- E era o nome de seu filho primogênito Joel, e o nome de seu segundo Abias; e foram juízes em Berseba.
- Seus filhos, porém, não andaram em seus caminhos; antes, se inclinaram à avareza. E tomaram presentes, e perverteram o direito.
- Então todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá.
- E disseram-lhe: Eis que já velho és, e teus filhos não andam em teus caminhos. Pelo que constitui-nos agora rei para julgar-nos, segundo o costume de todas as gentes.
- Porém esta palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos rei, para julgar-nos. E Samuel orou ao Senhor.
- E disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo, em tudo quanto te disserem. Pois não te tem rejeitado a ti: antes, a mim me tem rejeitado, para que não reine sobre eles.
- Conforme a todas as obras que fizeram, desde o dia em que do Egito os tirei até o dia de hoje, e a mim me deixaram, e a outros deuses serviram; assim contigo também o fazem.
- Agora, pois, ouve sua voz; porém, solenemente lhes protestando, notifica-lhes também o costume do rei que houver de reinar sobre eles.
- E falou Samuel todas as palavras do Senhor ao povo que lhe pedia rei.
- E disse: Este será o costume do rei que houver de reinar sobre vós outros: a vossos filhos tomará, e pôr-se-los-á a suas carruagens, e a seus cavalos, para que corram diante de suas carruagens.
- E pôr-se-los-á por maiorais de milhares, e de cinquentenas: e para que lavrem suas lavouras, e seguem suas segas, e façam suas armas de guerra, e os apetrechos de suas carruagens.
- E a vossas filhas tomará: por boticárias, e cozinheiras, e padeiras.
- E vossas terras, e vossas vinhas, e vossos melhores olivais, tomará; e a seus criados os dará.
- E vossas sementes, e vossas vinhas, dizimará; e a seus eunucos, e a seus criados, as dará.
- Também vossos criados, e vossas criadas, e vossos melhores rapazes, e vossos asnos, tomará; e com eles fará sua obra.
- Vosso rebanho dizimará; e vós lhe servireis de criados.
- Então naquele dia clamareis, por causa de vosso rei, que vós houverdes escolhido; mas o Senhor vos não ouvirá naquele dia.
- Porém o povo não quis ouvir a voz de Samuel. E disseram: Não, mas haverá sim rei sobre nós outros!
- E nós também seremos como todas as demais gentes; e nosso rei nos julgará, e sairá diante de nós outros, e fará nossas guerras.
- Ouvindo, pois, Samuel às palavras do povo, falou-as perante os ouvidos do Senhor.
- Então disse o Senhor a Samuel: Dá ouvidos à sua voz, e constitui-lhes rei. Então Samuel disse aos varões de Israel: Vá-se cada qual à sua cidade.
Capítulo 9
- E havia um varão de Benjamim cujo nome era Quis, filho de Abiel, filho de Zeror, filho de Becorate, filho de Afias, filho de um varão de Jemini: varão poderoso.
- Este tinha um filho cujo nome era Saul, rapaz, e tão formoso, que entre os filhos de Israel não havia outro mais formoso que ele: desde os ombros para cima, era mais alto que todo o povo.
- E perderam-se as asnas de Quis, pai de Saul. Pelo que disse Quis a seu filho Saul: Toma agora contigo a um dos moços, e levanta-te, e vai a buscar as asnas.
- Passou, pois, pela montanha de Efraim, e dali passou à terra de Salisa, porém não as acharam; depois passaram à terra de Saalim, porém tampouco ali estavam. Também passou à terra de Jemini, porém tampouco as acharam.
- Vindo eles, então, à terra de Zufe, disse Saul a seu moço, que com ele ia: Vem, e tornemo-nos; para que, porventura, meu pai não deixe o cuidado das asnas, e por nós outros esteja solícito.
- Porém ele lhe disse: Eis que está um varão de Deus nesta cidade, e o varão é honrado: tudo quanto diz, infalivelmente sobrevem. Vamo-nos agora lá: porventura nos mostrará o caminho que devemos seguir.
- Então disse Saul a seu moço: Eis, porém, se lá formos, que levaremos então àquele varão? Porque o pão de nossos alforges se acabou, e presente nenhum temos que levar ao varão de Deus. Que temos?
- E o moço tornou a responder a Saul, e disse: Eis que ainda se acha em minha mão um quarto de siclo de prata; o qual darei ao varão de Deus, para que nos mostre o caminho.
- (Antigamente, cada qual em Israel, indo a consultar a Deus, assim dizia: Vinde, e vamos ao vidente. Porque o que hoje se chama “profeta”, antigamente se chamava “vidente”).
- Então disse Saul a seu moço: Bem dizes; vem, pois, vamos. E foram-se à cidade onde estava o varão de Deus.
- E subindo eles pela ladeira da cidade, acharam umas moças, que saíam a tirar água. E disseram-lhes: Está o vidente aqui?
- E elas lhes responderam, e disseram: Sim, ei-lo aqui perante ti. Apressa-te, pois, porque hoje veio à cidade; porquanto o povo tem hoje sacrifício no alto.
- Entrando vós outros na cidade, logo o achareis, antes que suba ao alto a comer; porquanto o povo não comerá, até que ele não venha; porque ele abençoa ao sacrifício, e só depois os convidados comem. Subi, pois, agora, que hoje o achareis a ele.
- Subiram, pois, à cidade. E vindo eles ao meio da cidade, eis que Samuel lhes saiu ao encontro, para subir ao alto.
- Porquanto o Senhor lho revelara aos ouvidos de Samuel, um dia antes que Saul viesse, dizendo:
- Amanhã a estas horas te enviarei um varão da terra de Benjamim, ao qual ungirás por capitão sobre meu povo de Israel; e ele livrará a meu povo da mão dos filisteus. Porque tenho atentado para meu povo; porquanto seu clamor tem chegado a mim.
- E vendo Samuel a Saul, o Senhor lhe respondeu: Eis aqui o varão de quem já te tenho dito: este dominará sobre meu povo.
- E Saul se achegou a Samuel no meio da porta. E disse: Mostra-me já onde está aqui a casa do vidente.
- E respondeu Samuel a Saul, e disse: Eu sou o vidente; sobe perante mim ao alto, e comei hoje comigo. E pela manhã te despedirei, e tudo quanto está em teu coração, te notificarei.
- Que quanto às asnas que se te perderam, hoje já há três dias, não ponhas nelas teu coração; porque já são achadas. E de quem é todo o desejo que em Israel há? Porventura, não é teu, e de toda a casa de teu pai?
- Então respondeu Saul, e disse: Porventura, não sou filho de Jemini, da mais pequena das tribos de Israel? E minha geração, a mais pequena de todas as gerações da tribo de Benjamim? Por que, pois, me falas com semelhantes palavras?
- Porém Samuel tomou a Saul e a seu moço, e levou-os à câmara; e deu-lhes lugar à cabeceira dos convidados, que eram quase até trinta varões.
- Então disse Samuel ao cozinheiro: Dá cá a porção que te dei; da qual te disse: Põe-na à parte contigo.
- Levantou, pois, o cozinheiro uma espádua, com o que havia nela, e pô-la perante Saul; e disse Samuel: Eis que isto é o sobejo, põe-no diante de ti, e come; porque a seu tempo se guardou para ti, dizendo eu: Ao povo tenho convidado. Assim comeu Saul com Samuel naquele dia.
- Então desceram do alto à cidade; e falou com Saul sobre o terraço.
- E pela manhã se levantaram, de madrugada; e foi que, quase ao subir da alva, chamou Samuel a Saul ao terraço, e disse-lhe: Levanta-te, e despedir-te-ei. Então Saul se levantou, e ambos – ele e Samuel – saíram fora.
- E descendo eles até o cabo da cidade, disse Samuel a Saul: Dize ao moço que passe avante de nós – e passou. Porém tu, espera agora, e te farei ouvir a palavra de Deus.
Capítulo 10
- Então tomou Samuel uma almotolia de azeite, e derramou-a sobre sua cabeça, e beijou-o. E disse: Porventura te não tem ungido o Senhor por capitão sobre sua herdade?
- Partindo-te hoje de mim, acharás a dois varões junto ao sepulcro de Raquel, no termo de Benjamim, em Zelza. Os quais te dirão: Achadas são as asnas que foste a buscar; e eis que já teu pai deixou o negócio das asnas, e anda solícito por vós outros, dizendo: Que farei por meu filho?
- E como dali passares mais adiante, e chegares a Elom-Tabor, ali te acharão três varões, que vão subindo a Deus a Betel: um levando três cabritos, e outro três bolos de pão, e outro um odre de vinho.
- E perguntar-te-ão como estás, e dar-te-ão dois pães, que tomarás de sua mão.
- Então virás ao outeiro de Deus, onde está a guarnição dos filisteus. E será que, entrando ali na cidade, encontrarás um rancho de profetas, que descem do alto, e trazem diante de si alaúdes, e tamboris, e flautas, e harpas; e profetizarão.
- E o Espírito do Senhor possantemente te investirá, e profetizarás com eles; e mudar-te-ás em outro homem.
- E será que, quando estes sinais te vierem, faze o que te vier à mão, porquanto Deus é contigo.
- Tu, porém, descerás diante de mim a Gilgal; e eis que eu a ti descerei, a sacrificar holocaustos, e a oferecer ofertas gratíficas. Ali sete dias esperarás, até que eu venha a ti, e te notifique o que hás de fazer.
- Sucedeu pois que, virando ele as costas, para partir-se de Samuel, Deus lhe mudou o coração em outro; e todos aqueles sinais lhe vieram naquele mesmo dia.
- E chegando eles ao outeiro, eis que um rancho de profetas lhe saiu ao encontro; e o Espírito do Senhor possantemente o investiu, e profetizava entre eles.
- E aconteceu que, como todos os que dantes o conheciam viram, e eis que com os profetas profetizava; então disse o povo, cada qual a seu companheiro: Que é o que sucedeu ao filho de Quis? Também Saul entre os profetas?
- Então um varão dali respondeu, e disse: Pois quem é o pai deles? Pelo que se tornou em provérbio “também Saul entre os profetas?”.
- E acabando de profetizar, veio ao alto.
- E disse-lhe o tio de Saul a ele, e a seu moço: Aonde fostes? E disse ele: A buscar as asnas; e vendo que não apareciam, viemos a Samuel.
- Então disse o tio de Saul: Ora, declara-me, que vos disse Samuel?
- E disse Saul a seu tio: Ao certo nos declarou que as asnas se acharam. Porém o negócio do reino, de que Samuel lhe falara, lhe não declarou.
- Convocou, pois, Samuel o povo ao Senhor em Mispa.
- E disse aos filhos de Israel: Assim disse o Senhor, o Deus de Israel: Eu fiz subir a Israel do Egito, e livrei-vos da mão dos egípcios, e da mão de todos os reinos que vos oprimiam.
- Mas vós outros tendes rejeitado hoje a vosso Deus, que vos livra de todos vossos males e trabalhos, e lhe tendes dito: Põe rei sobre nós outros! Agora, pois, vos ponde perante a face do Senhor, por vossas tribos, e por vossos milhares.
- Fazendo, pois, chegar Samuel a todas as tribos, tomou-se a tribo de Benjamim.
- E fazendo chegar a tribo de Benjamim por suas gerações, tomou-se a geração de Matri. E dela se tomou Saul, filho de Quis; e buscaram-no, porém não se achou.
- Então tornaram a perguntar ao Senhor se aquele varão ainda ali viria. E disse o Senhor: Eis que se escondeu entre a bagagem.
- E correram, e tomaram-no dali; e pôs-se no meio do povo. E desde o ombro para cima, era mais alto que todo o povo.
- Então disse Samuel a todo o povo: Vedes já a quem o Senhor tem eleito? Pois em todo o povo, ninguém há semelhante a ele. Então rejubilou todo o povo, e disse: Viva o rei!
- E disse Samuel ao povo o direito do reino, e escreveu-o num livro, e pô-lo perante a face do Senhor. Então enviou Samuel a todo o povo, cada qual à sua casa.
- E foi-se também Saul à sua casa, a Gibeá. E foram com ele, do exército, aqueles cujos corações Deus tocara.
- Mas os filhos de Belial disseram: É este o que nos há de livrar? E desprezaram-no, e não lhe trouxeram presentes. Porém ele se fez como surdo.
Capítulo 11
- Então subiu Naás, o amonita, e sitiou a Jabes de Gileade. E disseram todos os varões de Jabes a Naás: Faze aliança conosco, e servir-te-emos.
- Porém Naás, o amonita, lhes disse: Com esta condição, farei aliança convosco: que a todos o olho direito vos arranque. E assim ponha esta afronta sobre todo Israel.
- Então os anciãos de Jabes lhe disseram: Deixa-nos por sete dias, para que enviemos mensageiros por todos os termos de Israel. E não havendo ninguém que nos livre, então sairemos a ti.
- E vindo os mensageiros a Gibeá de Saul, falaram estas palavras perante os ouvidos do povo. Então todo o povo levantou sua voz, e chorou.
- E eis que Saul após os bois vinha do campo; e disse Saul: Que tem o povo? Por que choram? E contaram-lhe as palavras dos varões de Jabes.
- Então o Espírito de Deus possantemente investiu a Saul, ouvindo ele estas palavras; e sua ira se acendeu em grande maneira.
- E tomou um pai de bois, e cortou-os em pedaços, e enviou-os a todos os termos de Israel por mãos dos mensageiros, dizendo: Qualquer que não sair após Saul, e após Samuel, assim se fará a seus bois. Então caiu o temor do Senhor sobre o povo, e saíram como se fossem um só varão.
- E contou-os em Bezeque. E houve dos filhos de Israel trezentos mil; e dos varões de Judá, trinta mil.
- Então disseram aos mensageiros que haviam vindo: Assim direis aos varões de Jabes de Gileade: Amanhã, em aquecendo o sol, vos virá livramento. Vindo, pois, os mensageiros, e anunciando-o aos varões de Jabes, alegraram-se.
- E os varões de Jabes disseram aos amonitas: Amanhã sairemos a vós outros. Então nos fareis conforme a tudo o que parecer bem aos vossos olhos.
- E foi que, no dia seguinte, Saul pôs ao povo em três esquadrões, e vieram ao meio do arraial pela vela da manhã; e feriram a Amom, até que o dia aqueceu. E foi que os restantes de tal maneira se derramaram, que não ficaram dois deles juntos.
- Então disse o povo a Samuel: Quem é aquele que dizia: Saul reinaria sobre nós? Dai-nos cá a aqueles varões, e matá-los-emos.
- Porém Saul disse: Não morrerá varão algum neste dia. Pois hoje tem feito o Senhor livramento em Israel.
- E disse Samuel ao povo: Vinde, vamo-nos a Gilgal. E renovemos ali o reino.
- E todo o povo se foi a Gilgal; e levantaram ali a Saul por rei, perante a face do Senhor em Gilgal; e ofereceram ali ofertas gratíficas perante a face do Senhor. E Saul muito se alegrou ali, com todos os varões de Israel.
Capítulo 12
- Então disse Samuel a todo Israel: Eis que ouvi vossa voz, em tudo quanto me disseste. E pus rei sobre vós outros.
- Agora, pois, eis que o rei vai diante de vós outros; e eu já me envelheci, e encaneci, e eis que meus filhos estão convosco. E eu tenho andado perante vós outros, desde minha mocidade, até o dia de hoje.
- Eis-me aqui, testificai contra mim perante o Senhor, e perante seu ungido: de quem boi tomei? E de quem asno tomei? E a quem fiz sem-razão? A quem oprimi? E da mão de quem tomei presente algum, e dele encobri meus olhos? E vo-lo restituirei.
- Então disseram: Nenhuma sem-razão nos fizeste, nem nos oprimiste. Nem da mão de alguém tomaste coisa alguma.
- E ele lhes disse: O Senhor seja testemunha contra vós outros, e seu ungido seja testemunha este dia, de que nada tendes achado em minhas mãos. E disse o povo: Seja testemunha.
- Então disse Samuel ao povo: O Senhor é o que fez a Moisés e a Arão, e tirou a vossos pais da terra do Egito.
- Agora, pois, ponde-vos aqui, e contenderei convosco perante a face do Senhor: sobre todas as justiças do Senhor, que vos fez a vós, e a vossos pais.
- Havendo, pois, entrado Jacó no Egito, vossos pais clamaram ao Senhor, e o Senhor enviou a Moisés e a Arão, os quais tiraram a vossos pais do Egito, e os fizeram habitar neste lugar.
- Porém esqueceram-se do Senhor, seu Deus. Então os vendeu em mão de Sísera, cabeça da armada de Hazor, e em mão dos filisteus, e em mão do rei dos moabitas, que contra eles pelejaram.
- E clamaram ao Senhor, e disseram: Pecamos, pois deixamos ao Senhor, e servimos aos baalins, e aos astarotes. Agora, pois, arrebata-nos da mão de nossos inimigos, e a ti te serviremos.
- E o Senhor enviou a Jerubaal, e a Bedã, e a Jefté, e a Samuel; e vos arrebatou da mão de vossos inimigos do redor, e habitastes seguros.
- E vendo vós outros que Naás, rei dos filhos de Amom, vinha contra vós, dissestes-me: Não, porém rei reinará sobre nós. Sendo, porém, o Senhor, vosso Deus, vosso rei.
- Agora, pois, vedes aí o rei que vós mesmos elegestes, e que pedistes; e eis que o Senhor tem posto rei sobre vós outros.
- Se, pois, temerdes ao Senhor, e o servirdes, e derdes ouvidos à sua voz, e não fordes rebeldes ao dito do Senhor – tanto vós como o rei que reinar sobre vós outros –, andareis após o Senhor, vosso Deus.
- Mas se não derdes ouvidos à voz do Senhor, antes fordes rebeldes ao dito do Senhor; a mão do Senhor será contra vós outros, como contra vossos pais.
- Ponde-vos também agora aqui, e vede esta grande coisa: a que o Senhor agora há de fazer perante vossos olhos.
- Não é hoje a sega dos trigos? Pois clamarei ao Senhor, e dará trovões e chuva. E sabereis, e vereis, que é grande vosso mal, que tendes feito perante a face do Senhor, pedindo rei para vós outros.
- Então invocou Samuel ao Senhor, e o Senhor deu trovões e chuva naquele dia; pelo que todo o povo temeu em grande maneira ao Senhor, e a Samuel.
- E todo o povo disse a Samuel: Roga por teus servos ao Senhor, teu Deus, para que não venhamos a morrer. Porquanto a todos nossos pecados temos acrescentado este mal, pedindo rei para nós outros.
- Então disse Samuel ao povo: Não temais; vós outros tendes cometido todo este mal. Porém não vos desvieis de ir após o Senhor; antes, servi ao Senhor com todo vosso coração.
- E não vos desvieis; pois seguiríeis após as vaidades, que de nada aproveitam, e tampouco livram, porquanto vaidades são.
- Pois o Senhor não desamparará a seu povo, por seu grande nome; porquanto aprouve ao Senhor fazer de vós o seu povo.
- E quanto a mim, nunca tal haja em mim: que eu peque contra o Senhor, deixando de orar por vós outros. Antes, vos ensinarei o bom e direito caminho.
- Tão somente temei ao Senhor, e servi-o fielmente, com todo vosso coração. Porque vede quão grandiosas coisas vos fez!
- Porém se perseverardes em fazer o mal, tanto vós como vosso rei perecereis.
Capítulo 13
- Um ano havia estado Saul em seu reinado, e no segundo ano reinou sobre Israel.
- Então Saul escolheu para si três mil varões de Israel; e estavam com Saul dois mil em Micmás e na montanha de Betel, e mil estavam com Jônatas em Gibeá de Benjamim. E ao resto do povo despediu, cada qual para sua casa.
- E Jônatas feriu a guarnição dos filisteus que havia em Gibeá; o que os filisteus ouviram. Pelo que Saul tocou a trombeta por toda a terra, dizendo: Ouçam-no os hebreus!
- Então todo Israel ouviu dizer: Saul feriu a guarnição dos filisteus, e também Israel se fez fétido aos filisteus. Então o povo foi convocado após Saul em Gilgal.
- E ajuntaram-se os filisteus para pelejar contra Israel, com trinta mil carruagens, e seis mil cavaleiros, e o povo em multidão como a areia que está à borda do mar. E subiram, e puseram-se em campo em Micmás, ao oriente de Bete-Áven.
- Vendo, pois, os varões de Israel que estavam em angústia – porquanto o povo estava apertado –, o povo se escondeu pelas cavernas, e pelos espinhais, e pelos penhascos, e pelas fortificações, e pelas covas.
- E os hebreus passaram o Jordão para a terra de Gade e Gileade. E estando Saul ainda em Gilgal, todo o povo veio após ele, tremendo.
- E esperou sete dias, até o tempo que Samuel determinara, não vindo, porém, Samuel a Gilgal; e o povo se lhe espalhava.
- Então disse Saul: Trazei-me aqui um holocausto, e ofertas gratíficas. E ofereceu o holocausto.
- E foi que, acabando ele de oferecer o holocausto, eis que Samuel chegou; e Saul lhe saiu ao encontro, a saudá-lo.
- Então disse Samuel: Que fizeste? E disse Saul: Porquanto via que o povo se me espalhava, e tu não vinhas ao tempo determinado dos dias, e os filisteus já estavam juntos em Micmás,
- Disse eu: Agora descerão os filisteus a mim a Gilgal, e ainda à face do Senhor não tenho orado fervorosamente. E fui forçado, e ofereci o holocausto.
- Então disse Samuel a Saul: Parvamente tens feito. Não guardaste o mandamento que o Senhor, teu Deus, te mandou; pois agora o Senhor houvera confirmado teu reino sobre Israel para sempre.
- Porém agora teu reino não subsistirá: já tem buscado o Senhor para si um varão conforme a seu coração, e já lhe tem mandado o Senhor que seja guia sobre seu povo, porquanto não guardaste o que te mandou o Senhor.
- Então Samuel se levantou, e subiu de Gilgal a Gibeá de Benjamim. E Saul contou ao povo que se achou com ele: quase seiscentos varões.
- E Saul e Jônatas, seu filho, e o povo que se achou com eles, se ficaram em Gibeá de Benjamim. Porém os filisteus se estavam em campo em Micmás.
- E os destruidores saíram do campo dos filisteus em três esquadrões: um dos esquadrões voltou pelo caminho de Ofra à terra de Sual;
- O outro esquadrão voltou pelo caminho de Bete-Horom; e o outro esquadrão voltou pelo caminho do termo que olha para o vale de Zeboim ao deserto.
- E em toda a terra de Israel ferreiro nenhum se achava. Porquanto os filisteus haviam dito: Provejamos que os hebreus não façam espada nem lança.
- Pelo que todo Israel era forçado a descer aos filisteus, a amolar cada um sua relha, e sua enxada, e seu machado, e seu sacho.
- Tinham porém limas dentadas para seus sachos, e para suas enxadas, e para as forquilhas de três dentes, e para os machados; e para pregar o aguilhão.
- E foi que, no dia da peleja, se não achou nem espada nem lança em mão de todo o povo que estava com Saul e com Jônatas; acharam-se porém em mãos de Saul e de Jônatas, seu filho.
- E saiu o arraial dos filisteus à passagem de Micmás.
Capítulo 14
- Sucedeu pois que, um dia, disse Jônatas, filho de Saul, ao moço que trazia suas armas: Vem, passemos à guarnição dos filisteus, que está lá daquela banda – o que, porém, não fez saber a seu pai.
- E estava Saul na fronteira de Gibeá, debaixo da romeira que estava em Migrom; e o povo que havia com ele era de quase seiscentos varões.
- E Aías, filho de Aitube, irmão de Icabote, o filho de Fineias, filho de Eli, sacerdote do Senhor em Siló, trazia o éfode. Não sabia, porém, o povo que Jônatas já havia ido.
- E entre as passagens pelas quais Jônatas procurava passar à guarnição dos filisteus, desta banda havia uma penha aguda, e da outra banda, outra penha aguda. E era o nome de uma Bozez, e o nome da outra Sené.
- Uma penha, ao norte, estava em fronte de Micmás; e a outra, ao sul, em fronte de Gibeá.
- Disse pois Jônatas ao moço que trazia suas armas: Vem, passemos à guarnição destes incircuncisos: porventura obrará o Senhor por nós outros! Pois para com o Senhor impedimento nenhum há, para livrar com muitos, ou com poucos.
- Então seu pajem de armas lhe disse: Faze tudo quanto tens em teu coração. Volta, vês-me aqui contigo à tua vontade.
- Disse, pois, Jônatas: Eis que passaremos a aqueles varões; e revelar-nos-emos a eles.
- Se é que assim nos disserem: Parai-vos, até que a vós outros cheguemos. Então nos estaremos em nosso lugar, e não subiremos a eles.
- Porém dizendo eles assim: Subi a nós outros. Então subiremos, pois o Senhor os tem entregue em nossas mãos. E isto nos será por sinal.
- Revelando-se eles, pois, ambos à guarnição dos filisteus, disseram os filisteus: Eis que já os hebreus se saíram das cavernas em que se tinham escondido.
- E os varões da guarnição responderam a Jônatas, e a seu pajem de armas, e disseram: Subi a nós outros, e nós outros vo-lo ensinaremos. E disse Jônatas a seu pajem de armas: Sobe após mim, que o Senhor os tem entregue na mão de Israel.
- Então trepou Jônatas com seus pés e com suas mãos, e seu pajem de armas após ele. E caíram perante a face de Jônatas; e seu pajem de armas os ia matando após ele.
- E sucedeu esta primeira desfeita, em que Jônatas e seu pajem de armas feriram até quase vinte varões: quase no meio de uma jeira de terra de um par de bois.
- E houve tremor no arraial, no campo e em todo o povo; também a própria guarnição e os destruidores tremeram. E até a terra se alvoroçou, porquanto era tremor de Deus.
- Vendo, pois, as sentinelas de Saul, desde Gibeá de Benjamim, que eis que a multidão se derramava, e se acolhia e espancava,
- Disse então Saul ao povo que estava com ele: Passai logo mostra, e vede quem dos nossos se haja ido. E passaram mostra, e eis que nem Jônatas nem seu pajem de armas ali estavam.
- Então disse Saul a Aías: Traze aqui a arca de Deus – porquanto estava ali naquele dia a arca de Deus, juntamente com os filhos de Israel.
- E foi que, estando Saul ainda falando com o sacerdote, o alvoroço que havia no arraial dos filisteus ia crescendo muito, e se multiplicava. Pelo que disse Saul ao sacerdote: Retira tua mão.
- Então Saul e todo o povo que havia com ele se convocaram, e vieram à peleja; e eis que a espada de um era contra o outro, e houve mui grande tumulto.
- Havia também com os filisteus, como antes, hebreus, os quais subiram com eles ao arraial dos arredores; e também estes se ajuntaram com os israelitas que havia com Saul e com Jônatas.
- Ouvindo, pois, todos os varões de Israel que se esconderam pela montanha de Efraim, que os filisteus fugiam; também eles de perto seguiram na peleja após eles.
- Assim livrou o Senhor a Israel naquele dia; e o arraial passou a Bete-Áven.
- E estavam os varões de Israel já esbaforidos aquele dia. Porquanto Saul conjurara ao povo, dizendo: Maldito o varão que comer pão até à tarde, para que me vingue de meus inimigos; pelo que todo o povo não provara pão algum.
- E toda a terra chegou a um bosque; e havia mel na superfície do campo.
- E chegando o povo ao bosque, eis que havia nele um manancial de mel; porém ninguém chegou sua mão à boca, porquanto o povo temia a conjuração.
- Não ouvira, porém, Jônatas quando seu pai conjurara ao povo; e estendeu a ponta da vara que trazia em sua mão, e molhou-a num favo de mel. E tornando sua mão à boca, seus olhos se aclararam.
- Então respondeu um do povo, e disse: Conjurou teu pai solenemente ao povo, dizendo: Maldito o varão que comer hoje pão algum. Pelo que o povo desfalece.
- Então disse Jônatas: Meu pai tem perturbado a terra. Ora, vede como são aclarados meus olhos, por provar um pouco deste mel.
- Quanto mais se o povo hoje livremente comesse do despojo que achou de seus inimigos! Porém agora, não foi tão grande o estrago dos filisteus.
- Feriram porém naquele dia aos filisteus desde Micmás até Aialom. E o povo se cansou muito.
- Então o povo se lançou ao despojo; e tomaram ovelhas, e vacas, e bezerros, e os degolaram no chão. E o povo os comeu com sangue.
- E denunciaram-no a Saul, dizendo: Eis que o povo peca contra o Senhor, comendo com sangue. E disse ele: Aleivosamente o fizestes: revolvei-me hoje uma grande pedra.
- Disse mais Saul: Derramai-vos entre o povo, e dizei-lhes: Trazei-me cada qual seu boi, e cada qual sua ovelha, e degolai-os aqui, e comei; e não pequeis contra o Senhor, comendo com sangue. Então todo o povo trouxe de noite, cada qual com sua mão, seu boi; e os degolaram ali.
- Então edificou Saul um altar ao Senhor: este foi o primeiro altar que edificou ao Senhor.
- Depois disse Saul: Desçamos de noite após os filisteus, e os saqueemos até que a luz amanheça, e não deixemos de resto varão nenhum deles. E disseram: Tudo quanto parecer bem aos teus olhos, faze. Disse porém o sacerdote: Acheguemo-nos aqui a Deus.
- Então consultou Saul a Deus, dizendo: Descerei após os filisteus? Entregá-los-á em mão de Israel? Porém naquele dia não lhe respondeu.
- Então disse Saul: Chegai-vos para cá de todos os cantos do povo. E informai-vos, e vede, em que se cometeu hoje este pecado.
- Porque vive o Senhor, que salva a Israel: que ainda que fosse em meu filho Jônatas, certamente morrerá! E ninguém de todo o povo lhe respondeu.
- Disse mais a todo Israel: Vós outros estareis a uma banda, e eu e meu filho Jônatas estaremos à outra banda. Então disse o povo a Saul: O que parecer bem aos teus olhos, faze.
- Falou, pois, Saul ao Senhor, Deus de Israel: Mostra ao inocente. Então Jônatas e Saul foram tomados por sorte, e o povo saiu livre.
- Então disse Saul: Lançai a sorte entre mim e meu filho Jônatas. E foi tomado Jônatas.
- Disse então Saul a Jônatas: Declara-me, o que tens feito? E Jônatas lho declarou, e disse: Tão somente provei um pouco de mel com a ponta da vara que trazia em minha mão: eis-me aqui, morrerei?
- Então disse Saul: Assim me faça Deus, e assim me acrescente; que sem dúvida morrerás, Jônatas.
- Porém o povo disse a Saul: Morreria Jônatas, que obrou tão grande salvação em Israel? Nunca tal suceda! Vive o Senhor, que nem um só cabelo de sua cabeça há de cair em terra! Pois com Deus tal fez hoje. Assim o povo livrou a Jônatas, o qual não morreu.
- E Saul deixou de perseguir aos filisteus; e os filisteus se foram a seu lugar.
- Então tomou Saul o reino sobre Israel. E pelejou contra todos seus inimigos do redor: contra Moabe, e contra os filhos de Amom, e contra Edom, e contra os reis de Zobá, e contra os filisteus; e para onde quer que se tornava, executava castigos.
- E houve-se valorosamente, e feriu aos amalequitas; e libertou a Israel da mão dos que o saqueavam.
- E os filhos de Saul eram Jônatas, e Isvi, e Malquisua. E os nomes de suas duas filhas eram estes: o nome da maior, Merabe, e o nome da menor, Mical.
- E o nome da mulher de Saul, Ainoã, filha de Aimaás. E o nome de seu general da milícia, Abner, filho de Ner, tio de Saul.
- E Quis era pai de Saul; e Ner, pai de Abner, era filho de Abiel.
- E houve forte guerra contra os filisteus todos os dias de Saul; pelo que a todos quantos Saul via que eram varões valentes e valorosos, consigo os ajuntava.
Capítulo 15
- Então disse Samuel a Saul: O Senhor a mim me enviou para que te ungisse por rei sobre seu povo, sobre Israel. Ouve, pois, agora a voz das palavras do Senhor.
- Assim diz o Senhor dos Exércitos: Visitado tenho o que fez Amaleque a Israel: como se lhe opôs no caminho, quando subia do Egito.
- Vai, pois, agora, e fere a Amaleque; e consagra à destruição a tudo quanto tiver, e não lhe perdoes. Porém matarás desde o varão até a mulher, desde os meninos até os de peito, desde os bois até as ovelhas, e desde os camelos até os asnos.
- O que Saul anunciou ao povo, e contou-os em Telaim: duzentos mil homens de pé. E dez mil varões de Judá.
- Chegando, pois, Saul à cidade de Amaleque, pôs emboscada no vale.
- E disse Saul aos queneus: Ide-vos, retirai-vos, e saí-vos dentre os amalequitas, para que vos não extermine juntamente com eles; porque vós usastes de misericórdia com todos os filhos de Israel, quando subiram do Egito. Assim, os queneus se retiraram dentre os amalequitas.
- Então feriu Saul aos amalequitas: desde Havilá até vires a Sur, que está em fronte do Egito.
- E tomou vivo a Agague, rei dos amalequitas; porém a todo o povo consagrou à destruição a fio da espada.
- Assim que Saul e o povo perdoaram a Agague, e ao melhor das ovelhas, e das vacas, e ao melhor de após elas, e aos cordeiros, e ao melhor que havia; e não os quiseram destruir. Porém a toda coisa desprezível e dissipável, destruíram totalmente.
- Então foi a palavra do Senhor a Samuel, dizendo:
- Arrependo-me de haver posto a Saul por rei, porquanto se tornou de ir após mim, e não confirmou minhas palavras. Então Samuel se indignou, e toda a noite clamou ao Senhor.
- E madrugou Samuel para encontrar a Saul pela manhã. E foi denunciado a Samuel, dizendo: Já chegou Saul ao Carmelo, e eis que levantou para si uma coluna; então rodeou, e passou, e desceu a Gilgal.
- Veio pois Samuel a Saul. E Saul lhe disse: Bendito tu do Senhor, confirmei a palavra do Senhor.
- Então disse Samuel: Que berro, pois, de ovelhas em meus ouvidos é este? E o berro de vacas que ouço?
- E disse Saul: De Amaleque as trouxeram; porquanto o povo perdoou ao melhor das ovelhas e das vacas, para oferecê-las ao Senhor, teu Deus. O resto, porém, destruímos por completo.
- Então disse Samuel a Saul: Espera, e notificar-te-ei o que o Senhor me disse esta noite. E disse-lhe ele: Dize.
- E disse Samuel: Porventura, sendo tu pequeno aos teus olhos, não foste posto por cabeça das tribos de Israel? E o Senhor te ungiu por rei sobre Israel.
- E enviou-te o Senhor a este caminho. E disse-te: Vai, e consagra à destruição a estes pecadores, os amalequitas, e peleja contra eles, até que os aniquiles.
- Por que, pois, não deste ouvidos à voz do Senhor? Antes, voaste ao despojo, e fizeste o mal aos olhos do Senhor.
- Então disse Saul a Samuel: Antes, dei ouvidos à voz do Senhor, e caminhei o caminho a que o Senhor me enviou. E trouxe a Agague, rei de Amaleque; e aos amalequitas destruí por completo.
- Mas o povo tomou do despojo ovelhas e vacas, o melhor do consagrado à destruição, para oferecer ao Senhor, teu Deus, em Gilgal.
- Porém disse Samuel: Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em obedecer à palavra do Senhor? Eis que obedecer é melhor que sacrifício; e estar atento, melhor que a gordura de carneiros.
- Porque pecado de feitiçaria é a rebelião; e iniquidade de idolatria e culto de imagens, o porfiar. Porquanto rejeitaste a palavra do Senhor, também ele te rejeitou a ti, para que não sejas mais rei.
- Então disse Saul a Samuel: Pequei, porquanto tenho traspassado o dito do Senhor, e tuas palavras. Porque temi ao povo, e dei ouvidos à sua voz.
- Agora, pois, te rogo: perdoa-me meu pecado. E torna-te comigo, para que adore ao Senhor.
- Porém disse Samuel a Saul: Não tornarei contigo. Porquanto rejeitaste a palavra do Senhor, e já te rejeitou o Senhor, para que não sejas mais rei sobre Israel.
- E virando-se Samuel para ir-se, pegou Saul da borda de sua capa, e rasgou-se.
- Então Samuel lhe disse: O Senhor tem rasgado de ti hoje o reino de Israel. E tem-no dado a teu próximo, melhor que tu.
- E também aquele que é a Vitória de Israel não mente, nem se arrepende; porquanto não é homem, para que se arrependa.
- Disse, pois: Pequei; honra-me porém agora perante os anciãos de meu povo, e perante Israel. E torna-te comigo, para que adore ao Senhor, teu Deus.
- Então Samuel se tornou após Saul. E Saul adorou ao Senhor.
- Disse então Samuel: Trazei-me aqui a Agague, rei de Amaleque; e Agague veio a ele melindrosamente. E disse Agague: Em verdade, já se desviou a amargura da morte.
- Disse porém Samuel: Como tua espada desfilhou as mulheres, assim também tua mãe será desfilhada entre as mulheres. Então Samuel despedaçou a Agague perante a face do Senhor em Gilgal.
- Então Samuel se foi a Ramá. E Saul subiu à sua casa, a Gibeá de Saul.
- E nunca mais viu Samuel a Saul, até o dia de sua morte; porque Samuel teve dó de Saul. E o Senhor se arrependeu de que pusera a Saul por rei sobre Israel.
Capítulo 16
- Então disse o Senhor a Samuel: Até quando terás dó de Saul, havendo-o eu rejeitado, para que não reine sobre Israel? Enche teu chifre de azeite, e vem: enviar-te-ei a Jessé, belemita, porque dentre seus filhos me tenho provido de rei.
- Disse porém Samuel: Como iria eu? Pois ouvindo-o Saul, me matará. Então disse o Senhor: Toma contigo uma bezerra das vacas, e dize: Vim a sacrificar ao Senhor.
- E convidarás a Jessé ao sacrifício. E eu te farei saber o que hás de fazer; e urgir-me-ás àquele que eu te disser.
- Fez, pois, Samuel o que o Senhor dissera, e veio a Belém. Então os anciãos da cidade, tremendo, lhe saíram ao encontro, e disseram: É tua vinda de paz?
- E disse ele: É de paz; vim a sacrificar ao Senhor; santificai-vos, e vinde comigo ao sacrifício. E santificou a Jessé e a seus filhos, e convidou-os ao sacrifício.
- E sucedeu que, entrando eles, viu a Eliabe. E disse consigo mesmo: Certamente está perante o Senhor o seu ungido.
- Disse, porém, o Senhor a Samuel: Não atentes para sua aparência, nem para a altura de sua estatura; porque o tenho rejeitado. Porque não é como vê o homem; pois o homem vê o que está perante os olhos; porém o Senhor vê o coração.
- Então chamou Jessé a Abinadabe, e o fez passar perante Samuel. O qual disse: Nem a este tem escolhido o Senhor.
- Então fez Jessé passar a Samá. Porém disse: Tampouco a este tem escolhido o Senhor.
- Assim fez Jessé passar a seus sete filhos perante Samuel. Porém Samuel disse a Jessé: O Senhor não tem escolhido a estes.
- Disse mais Samuel a Jessé: Acabaram-se os rapazes? E disse: Ainda falta o menor; e eis que anda apascentando as ovelhas. Disse, pois, Samuel a Jessé: Envia, e manda-o chamar; porquanto não nos assentaremos em roda à mesa, até que não venha aqui.
- Então mandou em busca dele, e trouxe-o – e era ruivo, e também formoso de olhos, e belo de parecer. E disse o Senhor: Levanta-te, e unge-o, que este é.
- Então Samuel tomou o chifre do azeite, e ungiu-o em meio de seus irmãos; e desde aquele dia em diante, o Espírito do Senhor possantemente investiu a Davi. Então Samuel se levantou, e se tornou a Ramá.
- E o Espírito do Senhor se retirou de Saul. E assombrava-o o espírito mau, da parte do Senhor.
- Então os criados de Saul lhe disseram: Eis que agora o espírito mau, da parte do Senhor, te assombra.
- Diga, pois, nosso senhor a teus servos, que estão perante tua face, que busquem a algum varão que saiba tanger harpa. E será que, quando o espírito mau, da parte do Senhor, vier sobre ti, então tangerá com sua mão, e te acharás melhor.
- Então disse Saul a seus servos: Olhai-me, pois, por algum varão que tanja bem, e trazei-mo.
- Então respondeu um dos rapazes, e disse: Eis que tenho visto a um filho de Jessé, o belemita, que sabe tanger, e é valente e animoso, e varão de guerra, e entendido em negócios, e homem formoso. E o Senhor é com ele.
- E Saul enviou mensageiros a Jessé, dizendo: Envia-me a Davi, teu filho, o que está com as ovelhas.
- Então tomou Jessé um asno com pão, e um odre de vinho, e um cabrito das cabras; e enviou-os a Saul por mão de Davi, seu filho.
- Assim veio Davi a Saul, e esteve perante sua face; e amou-o muito, e foi seu pajem de armas.
- Então Saul mandou dizer a Jessé: Deixa estar a Davi perante minha face, pois achou graça aos meus olhos.
- E era que, quando o espírito mau, da parte de Deus, vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa, e tocava-a com sua mão. Então Saul se alentava, e se achava melhor; e o espírito mau se retirava dele.
Capítulo 17
- E os filisteus ajuntaram seus arraiais para a guerra, e congregaram-se em Socó, que está em Judá. E alojaram-se entre Socó e Azecá, no termo de Damim.
- Porém Saul e os varões de Israel se ajuntaram e alojaram no vale do carvalho; e ordenaram a batalha contra os filisteus.
- E os filisteus estavam num monte, da banda dalém; e os israelitas estavam em outro monte, da banda daquém. E o vale estava entre eles.
- Então saiu do arraial dos filisteus um varão guerreiro cujo nome era Golias, de Gate; o qual tinha de altura seis côvados e um palmo.
- E trazia um capacete de bronze em sua cabeça, e vestia uma couraça de escamas; e era o peso da couraça cinco mil siclos de bronze.
- E grevas de bronze por cima de seus pés, e um escudo de bronze entre seus ombros.
- E a hástea de sua lança era como órgão de tecelão; e o ferro de sua lança, de seiscentos siclos de ferro. E o escudeiro ia diante dele.
- E parou, e clamou aos esquadrões de Israel, e disse-lhes: Para que saireis a ordenar batalha? Não sou eu filisteu, e vós, servos de Saul? Escolhei dentre vós um só varão, que desça a mim!
- Se puder pelejar comigo, e me ferir, a vós vos seremos por servos. Porém, se eu o vencer, e o ferir, então a nós nos sereis por servos, e nos servireis.
- Disse mais o filisteu: Hoje afrontei aos esquadrões de Israel, dizendo: Dai-me um varão, para que ambos pelejemos.
- Ouvindo então Saul e todo Israel estas palavras do filisteu, espantaram-se e temeram muito.
- E aquele Davi era filho de um varão efrateu de Belém de Judá, cujo nome era Jessé, o qual tinha oito filhos. E em dias de Saul, era este varão já velho, e vindo em grande idade entre os homens.
- E os três filhos maiores de Jessé foram, e seguiram a Saul, à guerra. E eram os nomes de seus três filhos que se haviam ido à guerra: Eliabe, o primogênito; e o segundo dele, Abinadabe; e o terceiro, Samá.
- E Davi era o menor. E os três maiores seguiram a Saul.
- Davi porém se foi e se tornou de Saul, para apascentar as ovelhas de seu pai em Belém.
- Chegava-se, pois, o filisteu pela manhã, e à tarde. E apresentou-se assim por quarenta dias.
- E disse Jessé a Davi, seu filho: Toma já para teus irmãos um efa deste grão tostado, e estes dez pães. E correndo, leva-os ao arraial, a teus irmãos.
- Porém estes dez queijos de leite, leva ao maioral de mil. E a teus irmãos visitarás, a ver se lhes vai bem, e tomarás prendas deles.
- E estavam Saul, e eles, e todos os varões de Israel no vale no carvalho, pelejando com os filisteus.
- Davi então de madrugada se levantou, pela manhã, e deixou as ovelhas em guarda ao ovelheiro, e carregou-se daquilo, e partiu-se, como Jessé lhe mandara. E chegou à carruagem, quando já o arraial saía em ordem de batalha, e a gritos chamavam à peleja.
- E os israelitas e filisteus se puseram em ordem, esquadrão contra esquadrão.
- E Davi deixou a carga de sobre si em mão do guarda da bagagem, e correu à batalha. E chegando, perguntou a seus irmãos se bem estavam.
- E estando ele ainda falando com eles, eis que vinha subindo do exército dos filisteus o varão guerreiro cujo nome era Golias, o filisteu, de Gate; e falou conforme àquelas palavras. E Davi as ouviu.
- Porém todos os varões em Israel, vendo a aquele varão, fugiam de diante dele, e temiam grandemente.
- E dizia alguém dos de Israel: Vistes a aquele varão que sobe? Pois sobe para afrontar a Israel. Será, pois, que ao varão que o ferir, o rei o enriquecerá com grandes riquezas, e lhe dará sua filha, e fará franca a casa de seu pai em Israel.
- Então falou Davi aos varões que estavam com ele, dizendo: Que farão a aquele varão que ferir a este filisteu, e tirar a afronta de sobre Israel? Porque quem é este incircunciso filisteu, para afrontar aos esquadrões do Deus vivente?
- E o povo lhe tornou a falar conforme àquela palavra, dizendo: Assim farão ao varão que o ferir.
- E ouvindo Eliabe, seu irmão maior, falar àqueles varões, acendeu-se a ira de Eliabe contra Davi, e disse: Para que desceste aqui? E a quem deixaste aquelas poucas ovelhas no deserto? Bem conheço tua presunção, e a maldade de teu coração, que tens descido para ver a peleja.
- Então disse Davi: Que é o que fiz agora? Porventura, não há razão para isso?
- E desviou-se dele para outro, e falou conforme àquela palavra. E o povo lhe tornou a responder conforme à primeira palavra.
- E sendo ouvidas as palavras que Davi havia falado, denunciaram-nas a Saul, e mandou em busca dele.
- E disse Davi a Saul: A varão nenhum desfaleça o coração por causa dele: teu servo irá, e pelejará contra este filisteu.
- Porém Saul disse a Davi: Contra este filisteu, não poderás ir a pelejar com ele. Pois tu ainda és moço; e ele, homem de guerra desde sua mocidade.
- Então disse Davi a Saul: Teu servo apascentava as ovelhas de seu pai. E vinha o leão, outra vez também o urso, e tomava uma ovelha do rebanho.
- E eu saía após ele, e feria-o, e livrava-a de sua boca. E levantando-se ele contra mim, lançava-lhe mão da barba, e feria-o, e matava-o.
- Assim ao leão como ao urso feria teu servo. Assim será este incircunciso como um deles, porquanto afrontou aos esquadrões do Deus vivente.
- Disse mais Davi: O Senhor que me livrou da mão do leão, e da do urso, ele me livrará da mão deste filisteu. Então disse Saul a Davi: Vai, e o Senhor seja contigo.
- E Saul vestiu a Davi de suas vestes, e pôs-lhe sobre a cabeça um capacete de bronze. E vestiu-lhe uma couraça.
- E Davi se cingiu sua espada sobre suas vestes, e começou a andar – porque nunca o havia experimentado. Então disse Davi a Saul: Não posso andar com isto, pois nunca o experimentei. E Davi tirou aquilo de sobre si.
- E tomou seu cajado em sua mão, e escolheu-se cinco seixos do ribeiro, e pô-los no alforge pastoril que trazia, isto é, no surrão, e lançou mão de sua funda. E foi-se chegando ao filisteu.
- O filisteu também veio, e se vinha chegando a Davi; e seu pajem de escudo ia diante dele.
- E olhando o filisteu, e vendo a Davi, desprezou-o; porquanto ainda era rapaz, ruivo, e formoso de vista.
- Disse pois o filisteu a Davi: Sou eu cão, que te vens a mim com paus? E o filisteu amaldiçoou a Davi por seus deuses.
- Disse mais o filisteu a Davi: Vem-te a mim, e darei tua carne às aves do céu, e aos animais do campo!
- Davi porém disse ao filisteu: Tu te vens a mim com espada, e com lança, e com escudo. Porém eu me venho a ti em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos esquadrões de Israel, a quem tens afrontado.
- No dia de hoje o Senhor te fechará em minha mão; e ferir-te-ei, e a cabeça te tirarei, e os corpos do arraial dos filisteus no dia de hoje darei às aves do céu, e aos animais da terra. E toda a terra saberá que há Deus em Israel.
- E toda esta congregação há de saber que, nem com espada, nem com lança, o Senhor salva. Porque do Senhor é a guerra; e dar-vos-á em nossas mãos.
- E foi que, levantando-se o filisteu, e indo a encontrar-se com Davi, Davi se apressou, e correu ao combate, a encontrar-se com o filisteu.
- E Davi meteu sua mão no alforge, e tomou dali uma pedra, e com a funda lha atirou; e feriu ao filisteu na testa. E a pedra se lhe encravou na testa, e caiu sobre seu rosto em terra.
- Assim Davi sobrepujou ao filisteu, com uma funda e uma pedra, e feriu ao filisteu, e matou-o: sem que Davi tivesse espada alguma na mão.
- Pelo que correu Davi, e pôs-se sobre o filisteu; e tomou sua espada, e arrancou-a de sua bainha; e matou-o, e cortou-lhe com ela a cabeça. Vendo então os filisteus que seu valentão era morto, fugiram.
- Então os varões de Israel e Judá se levantaram, e deram alarido, e seguiram aos filisteus, até chegares ao vale, e até as portas de Ecrom. E caíram feridos dos filisteus pelo caminho de Saaraim até Gate, e até Ecrom.
- Então os filhos de Israel se tornaram de tão furiosamente perseguirem aos filisteus; e despojaram seus arraiais.
- E Davi tomou a cabeça do filisteu, e trouxe-a a Jerusalém; porém suas armas pôs em sua tenda.
- Vendo porém Saul sair a Davi a encontrar-se com o filisteu, disse a Abner, o maioral do exército: Filho de quem é este rapaz, ó Abner? E disse Abner: Vive tua alma, ó rei, que o não sei.
- Disse então o rei: Pergunta, pois, de quem é filho este rapaz.
- Tornando pois Davi de ferir ao filisteu, Abner o tomou consigo, e trouxe-o perante Saul: trazendo ele em sua mão a cabeça do filisteu.
- E disse-lhe Saul: De quem és filho, rapaz? E disse Davi: Filho de teu servo Jessé, belemita.
Capítulo 18
- E foi que, acabando ele de falar com Saul, a alma de Jônatas se ligou com a alma de Davi; e amou-o Jônatas, como à sua própria alma.
- E Saul o tomou consigo naquele dia, e não o deixou tornar à casa de seu pai.
- E Jônatas e Davi fizeram aliança; porquanto Jônatas o amava como à sua própria alma.
- E Jônatas tirou de si a capa que trazia, e deu-a a Davi; como também suas vestes, até sua espada, e seu arco, e seu cinto.
- E saía Davi para onde quer que Saul o enviava, e portava-se prudentemente; e Saul o pôs sobre sua gente de guerra. E agradava aos olhos de todo o povo, e até aos olhos dos servos de Saul.
- Sucedeu porém que, vindo eles, e tornando Davi de ferir ao filisteu, as mulheres de todas as cidades de Israel saíram ao encontro ao rei Saul, cantando, e em danças: com adufes, com alegria, e com bandurrilhas.
- E tangendo as mulheres, umas às outras se respondiam, e diziam: Saul feriu seus milhares, porém Davi seus dez milhares.
- Então Saul se indignou muito, e aquela palavra pareceu mal aos seus olhos, e disse: Dez mil deram a Davi, e a mim somente mil. Em verdade que também o reino será para ele.
- E desde aquele dia em diante, Saul esteve de olho em Davi.
- E aconteceu no dia seguinte que o mau espírito da parte de Deus investiu a Saul, e profetizava em meio da casa; e Davi tocava com sua mão o instrumento musical, como de dia em dia. Saul, porém, tinha na mão uma lança.
- E Saul atirou com a lança, dizendo consigo mesmo: Encravarei a Davi na parede. Porém Davi se desviou dele por duas vezes.
- E temia Saul a Davi; porquanto Senhor era com ele, e se havia apartado de Saul.
- Pelo que Saul o desviou de si, e pô-lo por maioral de mil. E saía e entrava diante do povo.
- E Davi se havia prudentemente em todos seus caminhos; e o Senhor era com ele.
- Vendo então Saul que tão prudentemente se havia, temia a ele.
- Porém todo Israel e Judá amava a Davi, porquanto saía e entrava diante deles.
- Pelo que Saul disse a Davi: Eis que a Merabe, minha filha maior, te darei por mulher: tão somente me sê filho valoroso, e guerreira as guerras do Senhor – porquanto Saul dizia consigo mesmo: Não minha mão, senão a dos filisteus seja contra ele.
- Mas Davi disse a Saul: Quem sou eu, e que é minha vida, e a família de meu pai em Israel, para ser genro do rei?
- Sucedeu porém que, ao tempo que Merabe, filha de Saul, se devia dar a Davi, ela se deu por mulher a Adriel, meolatita.
- Mas Mical, a outra filha de Saul, amava a Davi; o que, sendo denunciado a Saul, pareceu isto reto aos seus olhos.
- E Saul disse consigo mesmo: Dar-lha-ei para que lhe seja por laço, e a mão dos filisteus venha contra ele. Pelo que Saul disse a Davi: Com a outra serás hoje meu genro.
- E Saul mandou a seus servos: Falai em segredo a Davi, dizendo: Eis que o rei te está mui afeiçoado, e todos seus servos te amam. Agora, pois, aceita ser genro do rei.
- E os servos de Saul falaram todas estas palavras aos ouvidos de Davi. Então disse Davi: Pouco vos parece aos vossos olhos vir a ser genro do rei, sendo eu homem pobre e desprezível?
- E os servos de Saul lhe anunciaram isto, dizendo: Tais palavras falou Davi.
- Então disse Saul: Assim direis a Davi: O contentamento do rei não está no dote, senão em cem prepúcios de filisteus, para que se tome vingança dos inimigos do rei – porquanto Saul pensava em fazer cair a Davi por mãos dos filisteus.
- E seus servos anunciaram a Davi estas palavras, e este negócio pareceu reto aos olhos de Davi, de que fosse genro do rei. Porém ainda os dias se não haviam cumprido.
- Então Davi se levantou, e ele se partiu com seus varões, e feriu dentre os filisteus duzentos homens; e Davi trouxe seus prepúcios, e por em cheio os entregaram ao rei, para que fosse genro do rei. Então Saul lhe deu a sua filha Mical por mulher.
- E viu Saul, e notou, que o Senhor era com Davi. E Mical, filha de Saul, o amava.
- Então Saul temeu ainda muito mais a Davi; e foi Saul todos seus dias inimigo de Davi.
- E saindo os príncipes dos filisteus, sucedeu que, saindo eles, Davi se houve mais prudentemente que todos os servos de Saul, de modo que seu nome era mui estimado.
Capítulo 19
- E falou Saul a Jônatas, seu filho, e a todos seus servos, para que matassem a Davi. Porém Jônatas, filho de Saul, estava mui afeiçoado a Davi.
- E Jônatas o denunciou a Davi, dizendo: Meu pai Saul procura matar-te. Assim que agora te guarda pela manhã, e fica-te em oculto, e esconde-te.
- E sairei eu, e me estarei à mão de meu pai no campo em que estiveres, e falarei eu de ti a meu pai; e verei o que houver, e to anunciarei.
- Então falou Jônatas bem de Davi a Saul, seu pai. E disse-lhe: Não peque o rei contra seu servo Davi, pois não pecou contra ti, e porque seus feitos te são mui bons.
- Porque pôs sua alma em sua palma, e feriu ao filisteu, e fez o Senhor um grande livramento a todo Israel: tu mesmo o viste, e te alegraste. Por que, pois, pecarias contra sangue inocente, matando a Davi sem causa?
- E deu Saul ouvidos à voz de Jônatas. E jurou Saul: Vive o Senhor, que não morrerá.
- E chamou Jônatas a Davi, e notificou-lhe todas estas palavras. E Jônatas levou a Davi a Saul, e esteve perante ele como antes.
- E tornou a haver guerra. E saiu Davi, e pelejou contra os filisteus, e feriu-os de grande ferida; e fugiram diante dele.
- Porém o espírito mau da parte do Senhor se tornou sobre Saul, estando ele assentado em sua casa, e tendo sua lança em sua mão; e tangendo Davi com sua mão um instrumento musical.
- E procurava Saul encravar a Davi contra a parede; porém ele se desviou de diante de Saul, o qual feriu com a lança na parede. Então fugiu Davi, e se escapou naquela mesma noite.
- Porém Saul mandou mensageiros à casa de Davi, que o guardassem, e o matassem pela manhã. O que Mical, sua mulher, notificou a Davi, dizendo: Se não salvares tua vida, amanhã te matarão.
- Então Mical desceu a Davi por uma janela abaixo. E ele se foi, e fugiu, e se escapou.
- E Mical tomou uma estátua, e deixou-a sobre a cama, e pôs-lhe à cabeceira uma pele de cabra; e cobriu-a com uma coberta.
- E mandando Saul mensageiros que trouxessem a Davi, disse ela: Está enfermo.
- Então Saul mandou mensageiros que vissem a Davi, dizendo: Trazei-mo na cama, para que o matem.
- Vindo pois os mensageiros, eis a estátua na cama; e a pele de cabra à sua cabeceira.
- Então disse Saul a Mical: Por que assim me enganaste, e a meu inimigo deixaste ir e escapar-se? E disse Mical a Saul: Porque ele me disse: Deixa-me ir: por que te mataria eu?
- Assim Davi fugiu e se escapou, e se veio a Samuel a Ramá, e notificou-lhe tudo quanto Saul lhe fizera. E foram ele e Samuel, e ficaram-se em Naiote.
- E denunciaram-no a Saul, dizendo: Eis que Davi está em Naiote, junto a Ramá.
- Então enviou Saul mensageiros, a trazer a Davi, os quais viram profetizando uma congregação de profetas, onde estava Samuel, que presidia sobre eles. E o Espírito de Deus veio sobre os mensageiros de Saul, e também eles profetizaram.
- E denunciando-o a Saul, enviou outros mensageiros, e também estes profetizaram. Então enviou Saul ainda aos terceiros mensageiros, os quais também profetizaram.
- Então também ele mesmo se foi a Ramá, e chegou ao poço grande, que estava lá em Secu. E perguntando, disse: Onde estão Samuel e Davi? E disseram-lhe: Eis que estão em Naiote, junto a Ramá.
- Então se foi lá, a Naiote, junto a Ramá. E o mesmo Espírito de Deus veio sobre ele; e ia profetizando, até chegar a Naiote, junto a Ramá.
- E também ele se despiu de suas vestes, e também ele profetizou perante Samuel, e esteve caído desnudo todo aquele dia, e toda aquela noite. Pelo que se diz: Também Saul entre os profetas?
Capítulo 20
- Então fugiu Davi de Naiote, junto a Ramá. E veio, e disse perante Jônatas: Que fiz? Qual é meu crime? E qual é meu pecado perante teu pai, que me procura tirar a vida?
- E ele lhe disse: Tal não haja! Não morrerás: eis que meu pai não faz coisa nenhuma, grande nem pequena, que a não revele a meus ouvidos. Por que, pois, meu pai me encobriria este negócio? Tal não há.
- Então Davi tornou a jurar, e disse: Mui bem sabe teu pai que achei graça aos teus olhos, pelo que diria consigo mesmo: Não saiba isto Jônatas, para que não se magoe. E na verdade, vive o Senhor, e vive tua alma, que apenas um passo há entre mim e a morte.
- Então disse Jônatas a Davi: Como for tua vontade, ta farei.
- E disse Davi a Jônatas: Eis que amanhã é lua nova, em que me deveria assentar com o rei a comer. Tu, porém, deixa-me ir, e esconder-me-ei no campo, até à tarde terceira.
- Se teu pai notar minha falta, dirás: Muito me pediu Davi que o deixasse ir correndo a Belém, sua cidade, porquanto lá há sacrifício anual para toda a linhagem.
- Se assim disser: Bem está; então teu servo tem paz. Porém se muito se indignar, sabe que o mal já está totalmente concluído por ele.
- Usa, pois, de misericórdia com teu servo, pois trouxeste contigo a teu servo em aliança do Senhor. Se, porém, crime há em mim, mata-me tu mesmo a mim: por que me levarias a teu pai?
- Então disse Jônatas: Nunca tal te aconteça. Porém, se em alguma maneira notasse que já este mal estivesse totalmente concluído por meu pai, para que viesse sobre ti, não to revelaria eu?
- E disse Davi a Jônatas: Quem tal me fará saber, respondendo-te teu pai asperamente?
- Então disse Jônatas a Davi: Vem, pois, e saiamos ao campo. E ambos saíram ao campo.
- E disse Jônatas a Davi: O Senhor, Deus de Israel, se inquirindo eu a meu pai amanhã, a estas horas, ou depois de amanhã, e eis que há o que é bom para Davi; e eu então não enviar a ti, e o não revelar a teus ouvidos,
- O Senhor, digo, assim faça a Jônatas, e assim lho acrescente. Que se a meu pai aprouver o que é mal sobre ti, a teus ouvidos o revelarei, e te retirar deixarei, e em paz te irás. E o Senhor seja contigo, assim como foi com meu pai.
- E se não – vivendo eu então ainda –, se não, digo, usares comigo da beneficência do Senhor, para que não morra, assim te faça o Senhor.
- Nem tampouco rasgues tua beneficência de minha casa eternamente: nem ainda quando o Senhor desarraigar da terra a cada um dos inimigos de Davi.
- Assim fez Jônatas aliança com a casa de Davi, dizendo: O Senhor o requeira da mão dos inimigos de Davi.
- E prosseguiu Jônatas em fazer jurar a Davi, porquanto o amava; porque com o amor de sua alma o amava.
- E disse-lhe Jônatas: Amanhã é lua nova. E faltarás à mesa, pois teu assento se achará vazio.
- E ausentando-te tu três dias, desce apressadamente, e vai-te àquele lugar, onde te escondeste no dia deste negócio; e fica-te à pedra de Ezel.
- E eu atirarei três flechas para aquela banda, como se atirasse ao alvo.
- E eis que mandarei ao moço, dizendo: Anda, busca as flechas! Se eu disser expressamente ao moço: Vês ali as flechas mais para cá de ti. Toma-o contigo, e vem-te, porque paz há para ti, e coisa outra nenhuma: vive o Senhor.
- Porém, se disser ao moço assim: Eis ali as flechas mais para lá de ti. Vai-te embora, que o Senhor te deixa ir.
- E quanto ao negócio de que eu e tu falamos, eis que o Senhor está entre mim e ti eternamente.
- Escondeu-se, pois, Davi no campo. E sendo a lua nova, assentou-se o rei a comer pão.
- E assentando-se o rei em seu assento, esta vez como as outras, no lugar junto à parede, Jônatas se levantou, e Abner se assentou ao lado de Saul. E o lugar de Davi se achou vazio.
- Porém naquele dia Saul não falou nada. Porque dizia consigo: Aconteceu-lhe alguma coisa, de que não está limpo: certo é que não está limpo.
- Sucedeu também no dia seguinte, o segundo da lua nova, que o lugar de Davi se achou vazio. Disse, pois, Saul a Jônatas, seu filho: Por que o filho de Jessé não veio, nem ontem nem hoje, a comer pão?
- E Jônatas respondeu a Saul: Davi me pediu encarecidamente que pudesse ir a Belém,
- Dizendo: Peço-te que me deixes ir, porquanto nossa linhagem tem sacrifício na cidade, e meu irmão mesmo mo mandou; se pois agora tenho achado graça aos teus olhos, peço-te que me possa escapulir, para que veja a meus irmãos. Pelo que não veio à mesa do rei.
- Então a ira de Saul se acendeu contra Jônatas, e disse-lhe: Filho da perversa em rebeldia! Não sei eu que tens eleito ao filho de Jessé para tua vergonha, e para vergonha da nudeza de tua mãe?
- Porque todos os dias que o filho de Jessé viver sobre a terra, nem tu serás firme, nem teu reino. Pelo que envia agora, traze-o a mim; que é digno de morte.
- Então respondeu Jônatas a Saul, seu pai. E disse-lhe: Por que há de morrer? Que tem feito?
- Então Saul lhe atirou a lança, para feri-lo. Assim entendeu Jônatas que já estava totalmente concluído por seu pai de matar a Davi.
- Pelo que Jônatas, acendido em ira, se levantou da mesa. E ao segundo dia da lua nova, não comeu pão; porque se magoava por Davi, porquanto seu pai o tinha afrontado.
- E aconteceu pela manhã que Jônatas saiu ao campo, ao tempo apontado a Davi; e um moço pequeno se ia com ele.
- Então disse a seu moço: Corre a buscar as flechas que eu atirar. Correu, pois, o moço, e ele atirou uma flecha que fez passar dalém dele.
- E chegando o moço ao lugar da flecha que Jônatas havia atirado, bradou Jônatas após o moço, e disse: Não está porventura a flecha mais para lá de ti?
- Outra vez bradou Jônatas atrás do moço: Apressa-te, apressura-te, não te detenhas! E o moço de Jônatas apanhou as flechas, e veio-se a seu senhor.
- E o moço não entendeu coisa nenhuma: só Jônatas e Davi sabiam deste negócio.
- Então Jônatas deu suas armas ao moço que trazia. E disse-lhe: Anda, e leva-as à cidade.
- E indo-se o moço, Davi se levantou da banda do sul, e lançou-se sobre seu rosto em terra, e inclinou-se a ele três vezes. E beijaram-se um ao outro, e choraram um com o outro, até que Davi fez um grande pranto.
- E disse Jônatas a Davi: Vai em paz. Lembra-te do que nós temos jurado, ambos em nome do Senhor, dizendo: O Senhor seja entre mim e ti, e entre minha semente e tua semente, perpetuamente.
- Então Davi se levantou, e se foi. E Jônatas entrou na cidade.
Capítulo 21
- Então se veio Davi a Nobe, ao sacerdote Aimeleque. E Aimeleque, tremendo, saiu ao encontro a Davi, e disse-lhe: Por que vens só, e varão nenhum contigo?
- E disse Davi ao sacerdote Aimeleque: O rei me encomendou um negócio, e disse-me: Ninguém saiba deste negócio a que eu te enviei, e te mandei. Quanto aos rapazes, apontei-lhes o lugar de um tal.
- Agora, pois, que tens à mão? Dá-me cinco pães em minha mão; ou o que se achar.
- E respondeu o sacerdote a Davi, e disse: Não tenho pão comum à mão. Há, porém, pão sagrado, se é que ao menos os rapazes se abstiveram das mulheres.
- E respondeu Davi ao sacerdote, e disse-lhe: Sim, em boa-fé, as mulheres se nos vedaram desde ontem e anteontem, quando me saí; e os vasos dos rapazes também eram santos. E em alguma maneira, é pão comum; quanto mais que hoje se santificará outro pão nos vasos.
- Então o sacerdote lhe deu o pão sagrado. Porquanto não havia ali outro pão, senão os pães da proposição, que se tiraram de diante da face do Senhor, para pôr ali pão quente, no dia em que aquele se tirasse.
- Estava porém ali, naquele dia, um dos criados de Saul, retirado perante a face do Senhor, e era seu nome Doegue, edomeu: o mais possante entre os pastores que Saul tinha.
- E disse Davi a Aimeleque: Não tens aqui à mão lança ou espada alguma? Porque não tomei em minha mão nem minha espada, nem minhas armas; porquanto o negócio do rei era apressado.
- E disse o sacerdote: A espada de Golias, o filisteu que tu feriste no Vale do Carvalho, ei-la aqui, envolta num pano por detrás do éfode: se ta queres tomar, toma-a; porque nenhuma outra há aqui, senão aquela. E disse Davi: Não há outra semelhante: dá-ma.
- E Davi se levantou, e fugiu naquele dia de diante de Saul. E veio-se a Aquis, rei de Gate.
- Porém os criados de Aquis lhe disseram: Não é este Davi, o rei da terra? Não se cantava a respeito deste nas danças, dizendo: Saul feriu seus milhares, porém Davi seus dez milhares?
- E pôs Davi estas palavras em seu coração; e temeu muito diante de Aquis, rei de Gate.
- Pelo que mudou seu semblante perante os olhos deles, e fez-se de doido entre suas mãos; e esgravatava nas portas do portal, e deixava correr sua baba por sua barba.
- Então disse Aquis a seus criados: Eis que bem vedes que este homem está doido. Por que mo trouxestes a mim?
- Faltam-me a mim doidos, para que trouxésseis a este, a que fizesse doidices perante mim? Viria este à minha casa?
Capítulo 22
- Então Davi se retirou dali, e se escapou na caverna de Adulão. E ouviram-no seus irmãos, e toda a casa de seu pai, e desceram ali a ele.
- E ajuntaram-se a ele todo varão aflito, e todo varão endividado, e todo varão de alma agravada; e foi maioral deles. Assim que houve com ele como até quatrocentos homens.
- E foi-se Davi dali a Mispe dos moabitas. E disse ao rei dos moabitas: Deixa estar meu pai e minha mãe convosco, até que saiba o que Deus há de fazer de mim.
- E trouxe-os perante o rei dos moabitas; e ficaram com ele todos os dias que Davi esteve no lugar forte.
- Porém disse o profeta Gade a Davi: Não te fiques naquele lugar forte: vai-te, e entra na terra de Judá. Então Davi se foi, e se veio ao bosque de Herete.
- E ouviu Saul que já se sabia de Davi, e dos varões que com ele estavam. E estava Saul em Gibeá, debaixo de uma árvore em Ramá; e tinha sua lança em sua mão, e todos seus criados estavam com ele.
- Então disse Saul a todos seus criados que estavam com ele: Ouvi agora, vós benjamitas! Dar-vos-á também o filho de Jessé, a todos vós outros, terras e vinhas? Pôr-vos-á a todos vós outros por maiorais de milhares, e por maiorais de centenas?
- Que todos vós outros tendes conspirado contra mim; e ninguém há que me revele ao ouvido que meu filho tem feito aliança com o filho de Jessé; e nenhum dentre vós há que se doa de mim, e mo revele ao ouvido. Pois meu filho tem despertado a meu servo contra mim, para armar-me ciladas, como se vê neste dia.
- Então respondeu Doegue, o edomeu, que também estava com os criados de Saul, e disse: Ao filho de Jessé vi vir a Nobe, a Aimeleque, filho de Aitube;
- O qual consultou por ele ao Senhor, e proveu-o de mantimento; e deu-lhe também a espada de Golias, o filisteu.
- Então o rei mandou chamar a Aimeleque, sacerdote, filho de Aitube, e a toda a casa de seu pai, os sacerdotes que estavam em Nobe. E todos eles vieram ao rei.
- E disse Saul: Ouve agora, filho de Aitube. E ele disse: Eis-me aqui, senhor meu.
- Então lhe disse Saul: Por que tendes conspirado contra mim, tu e o filho de Jessé? Pois deste-lhe pão e espada, e consultaste por ele a Deus, para que se levantasse contra mim a armar-me ciladas, como se vê neste dia.
- E respondeu Aimeleque ao rei, e disse: E quem, dentre todos teus criados, é tão fiel como Davi, e o genro do rei, prosseguindo em tua obediência, e honrado em tua casa?
- Comecei, porventura, hoje a consultar por ele a Deus? Nunca tal haja em mim! Não imponha o rei coisa nenhuma a seu servo, nem a toda a casa de meu pai; pois teu servo não soube coisa nenhuma de todas estas, nem grande nem pequena.
- Porém disse o rei: Aimeleque, certamente morrerás. Tu, e toda a casa de teu pai.
- E disse o rei aos de sua guarda, que estavam com ele: Virai-vos, e matai aos sacerdotes do Senhor; porquanto também sua mão é com Davi, e porquanto souberam que fugia, e não mo revelaram ao ouvido. Porém os criados do rei não quiseram estender suas mãos, para arremeter contra os sacerdotes do Senhor.
- Então disse o rei a Doegue: Vira-te tu, e arremete contra os sacerdotes. Então se virou Doegue, o edomeu, e ele mesmo arremeteu contra os sacerdotes; e matou naquele dia oitenta e cinco varões que vestiam éfode de linho.
- Também a Nobe, cidade destes sacerdotes, feriu a fio de espada: desde o varão até a mulher, desde os meninos até os de peito. E até aos bois, e asnos, e ovelhas, feriu a fio de espada.
- Porém escapou-se um dos filhos de Aimeleque, filho de Aitube, cujo nome era Abiatar; o qual fugiu após Davi.
- E Abiatar denunciou a Davi, que Saul tinha matado aos sacerdotes do Senhor.
- Então disse Davi a Abiatar: Bem sabia eu naquele dia que, estando ali Doegue, o edomeu, não deixaria de denunciá-lo a Saul. Eu me virei contra todas as almas da casa de meu pai.
- Fica-te comigo, não temas; que quem procurar minha morte, também procurará a tua. Pois comigo estarás guardado.
Capítulo 23
- E foi anunciado a Davi, dizendo: Eis que os filisteus pelejam contra Queilá, e saqueiam as eiras.
- E consultou Davi ao Senhor, dizendo: Irei eu, e ferirei a estes filisteus? E disse o Senhor a Davi: Vai, e ferirás aos filisteus, e livrarás a Queilá.
- Porém os varões de Davi lhe disseram: Eis que tememos aqui, em Judá. Quanto mais indo a Queilá, contra os esquadrões dos filisteus!
- Então tornou Davi a consultar ao Senhor; e o Senhor lhe respondeu. E disse: Levanta-te, desce a Queilá, que te dou em tua mão aos filisteus.
- Então Davi se partiu com seus varões a Queilá, e pelejou contra os filisteus; e levou seus gados, e fez grande estrago entre eles. E livrou Davi aos moradores de Queilá.
- E sucedeu que, acolhendo-se Abiatar, filho de Aimeleque, a Davi, a Queilá; desceu com o éfode em sua mão.
- E foi denunciado a Saul que Davi era vindo a Queilá. E disse Saul: Deus o entregou em minhas mãos; pois está encerrado, entrando em cidade de portas e ferrolhos.
- Então Saul mandou chamar a todo o povo à peleja: para que descessem a Queilá, a cercar a Davi e a seus varões.
- Entendendo, pois, Davi que Saul maquinava este mal contra ele, disse a Abiatar, sacerdote: Traze aqui o éfode.
- E disse Davi: Ó Senhor, Deus de Israel, teu servo de certo tem ouvido que Saul procura vir a Queilá: a destruir a cidade, por causa de mim.
- Entregar-me-ão os cidadãos de Queilá em sua mão? Descerá Saul, como teu servo tem ouvido? Ah Senhor, Deus de Israel, faze-o saber a teu servo! E disse o Senhor: Descerá.
- Disse mais Davi: Entregar-me-iam os cidadãos de Queilá a mim, e a meus varões, em mãos de Saul? E disse o Senhor: Entregariam.
- Então se levantou Davi com seus varões, como até seiscentos, e saíram-se de Queilá, e foram-se aonde puderam. E sendo denunciado a Saul que Davi escapara de Queilá, cessou de sair contra ele.
- E Davi se esteve no deserto, nos lugares fortes; e ficou-se em um monte no deserto de Zife. E Saul o buscava todos os dias, porém Deus não o entregou em sua mão.
- Vendo, pois, Davi que Saul saíra a lhe procurar a morte, e estando Davi no deserto de Zife em um bosque,
- Então Jônatas, filho de Saul, se levantou, e se foi a Davi, ao bosque; e confortou sua mão em Deus.
- E disse-lhe: Não temas, que a mão de Saul, meu pai, te não achará; porém tu reinarás sobre Israel, e eu serei contigo o segundo. O que também Saul, meu pai, bem sabe.
- E ambos fizeram aliança perante a face do Senhor. E Davi se ficou no bosque, e Jônatas se tornou à sua casa.
- Então subiram os zifeus a Saul, a Gibeá, dizendo: Não se escondeu Davi entre nós, nos lugares fortes no bosque, no outeiro de Haquila, que está à direita de Jesimom?
- Agora, pois, ó rei, desce apressadamente, conforme a todo o desejo de tua alma; que a nós nos cabe o entregar em mãos do rei.
- Então disse Saul: Benditos vós outros do Senhor! Que vos compadecestes de mim.
- Ide, pois, e apercebei tudo ainda mais, e sabei e notai seu lugar, onde tem seu caminho, quem o haja visto ali; porque me foi dito que é astutíssimo.
- Pelo que bem atentai, e informai-vos acerca de todos os esconderijos em que se esconde; e então vos tornai a mim com toda certeza, e ir-me-ei convosco. E será que, se estiver naquela terra, o buscarei entre todos os milhares de Judá.
- Então se levantaram, e se foram a Zife diante de Saul. Davi, porém, e seus varões, se estavam no deserto de Maom, na campanha, à direita de Jesimom.
- E Saul e seus varões se foram em busca dele, o que denunciaram a Davi, que desceu àquela penha, e se ficou no deserto de Maom; o que Saul ouvindo, perseguiu a Davi, ao deserto de Maom.
- E Saul ia desta banda do monte, e Davi e seus varões destoutra banda do monte. E foi que Davi se apressou a se escapar de Saul; Saul, porém, e seus varões, cercaram a Davi e a seus varões, para lançar mão deles.
- Então veio um mensageiro a Saul, dizendo: Apressa-te, e vem, que os filisteus com ímpeto entraram na terra.
- Pelo que Saul se tornou de seguir após a Davi, e foi-se ao encontro aos filisteus. Por esta razão aquele lugar se chamou Sela-Hamalecote.
Capítulo 24
- E subiu Davi dali; e ficou-se nos lugares fortes de En-Gedi.
- E sucedeu que, tornando-se Saul de ir após os filisteus, lhe denunciaram, dizendo: Eis que Davi está no deserto de En-Gedi.
- Então tomou Saul três mil varões escolhidos dentre todo Israel. E foi-se em busca de Davi e de seus varões, até sobre os cumes das penhas das cabras monteses.
- E chegou às malhadas de ovelhas no caminho, onde estava uma caverna; e entrou nela Saul, a fazer suas necessidades. E Davi e seus varões estavam aos lados da caverna.
- Então os varões de Davi lhe disseram: Vês aqui o dia em que o Senhor te diz: Eis que te dou a teu inimigo em tuas mãos; e far-lhe-ás como te parecer bem aos teus olhos. E levantou-se Davi, e mansamente cortou a borda da capa de Saul.
- Sucedeu, porém, que depois o coração a Davi picou; porquanto cortara a borda da capa de Saul.
- E disse a seus varões: O Senhor me guarde de fazer tal coisa a meu senhor, o ungido do Senhor, de que estenda minha mão contra ele. Pois é o ungido do Senhor.
- E Davi distraiu a seus varões com palavras, e não lhes permitiu que se levantassem contra Saul. E Saul se levantou da caverna, e se foi ao caminho.
- Depois também Davi se levantou, e saiu da caverna; e clamou após Saul, dizendo: Rei, meu senhor! E olhando Saul atrás de si, Davi se inclinou com o rosto em terra, e se prostrou.
- E disse Davi a Saul: Por que escutas as palavras dos homens que dizem: “Eis que Davi procura teu mal”?
- Eis que, neste dia, teus próprios olhos viram que o Senhor hoje te deu em minhas mãos nesta caverna; e disseram que te matasse, porém minha mão te perdoou. Porque disse: Não estenderei minha mão contra meu senhor, pois é o ungido do Senhor.
- Olha, pois, pai meu; sim, olha a borda de tua capa em minha mão! Porque, cortando-te eu a borda da capa, te não matei: atenta, pois, e vê que não há em minha mão nem mal, nem prevaricação nenhuma, e não pequei contra ti; porém tu te andas à caça de minha vida, para ma tirar.
- Julgue o Senhor entre mim e ti, e vingue-me o Senhor de ti; que minha mão não será contra ti.
- Como diz o provérbio dos antigos: “Dos ímpios procede a impiedade”. Porém minha mão não será contra ti.
- Após quem tem saído o rei de Israel? A quem persegues? A um cão morto? A uma pulga?
- O Senhor, porém, será juiz, e julgará entre mim e ti; e atentará, e pleiteará meu pleito, e me defenderá de tua mão.
- E foi que, acabando Davi de falar a Saul todas estas palavras, disse Saul: É esta tua voz, filho meu Davi? Então Saul alçou sua voz, e chorou.
- E disse a Davi: Mais justo és do que eu. Pois tu me recompensaste com bem, e eu te recompensei com mal.
- E tu mostraste hoje que me fizeste bem; pois o Senhor me tinha dado em tuas mãos, e tu a mim me não mataste.
- Porque, quem encontrará a seu inimigo, e o deixará ir por bom caminho? O Senhor, pois, te pague com bem pelo que me fizeste o dia de hoje.
- Agora, pois, eis que bem sei que certamente hás de reinar; e que o reino de Israel há de ser firme em tua mão.
- Portanto, agora me jura pelo Senhor, que não desarraigarás minha semente depois de mim; nem desfarás meu nome da casa de meu pai.
- Então jurou Davi a Saul. E Saul se foi à sua casa; porém Davi e seus varões se subiram ao lugar forte.
Capítulo 25
- E faleceu Samuel; e todo Israel se ajuntou, e prantearam-no, e sepultaram-no em sua casa, em Ramá. E Davi se levantou, e desceu ao deserto de Parã.
- E havia um varão em Maom que tinha seu trato no Carmelo; e era este varão mui poderoso, e tinha três mil ovelhas, e mil cabras. E estava então tosquiando suas ovelhas no Carmelo.
- E era o nome deste varão, Nabal; e o nome de sua mulher, Abigail. E era a mulher de bom entendimento, e formosa de vista; porém o varão era áspero, e maligno de obras; e era calebita.
- E ouvindo Davi no deserto que Nabal tosquiava suas ovelhas,
- Enviou Davi a dez rapazes; e disse aos rapazes: Subi ao Carmelo, e vindo a Nabal, perguntai-lhe em meu nome como está.
- E assim lhe direis: Vivas! E tenhas paz, e tua casa tenha paz, e tudo o mais que tens, tenha paz!
- Agora, pois, tenho ouvido que tens tosquiadores. Ora, os pastores que tens estiveram conosco: agravo nenhum lhes fizemos, nem coisa alguma lhes faltou, todos os dias em que estiveram no Carmelo.
- Pergunta a teus rapazes, e eles to dirão; estes rapazes, pois, achem graça aos teus olhos, porquanto em tão bom dia viemos. Dá, pois, a teus servos, e a Davi, teu filho, o que tua mão achar.
- Chegando, pois, os rapazes de Davi e falando a Nabal todas aquelas palavras em nome de Davi, pararam.
- E Nabal respondeu aos criados de Davi, e disse: Quem é Davi? E quem, o filho de Jessé? Muitos servos há hoje, que cada um se arranca de seu senhor.
- Tomaria eu, pois, meu pão, e minha água, e minha degolada rês, que degolei para meus tosquiadores; e o daria a varões que não sei donde são?
- Então os rapazes de Davi se tornaram a seu caminho. E voltaram, e vieram, e denunciaram-lhe tudo, conforme a todas estas palavras.
- Pelo que disse Davi a seus varões: Cada qual se cinja sua espada. E cada qual se cingiu sua espada; e cingiu também Davi a sua. E subiram após Davi como até quatrocentos varões; e duzentos se ficaram com a bagagem.
- Porém um rapaz dentre os rapazes o denunciou a Abigail, mulher de Nabal, dizendo: Eis que Davi enviou mensageiros desde o deserto, a saudar nosso amo; porém ele os agravou.
- Todavia, mui bons varões estes nos foram. E nunca fomos agravados deles, e nunca nada nos faltou em todos os dias que conversamos com eles, quando estávamos no campo.
- De muro ao redor nos serviram, assim de dia como de noite: todos os dias que andamos com eles, apascentando as ovelhas.
- Atenta pois agora, e vê o que hás de fazer; que já de todo concluído está o mal contra nosso amo, e contra toda sua casa. E ele é tão grande filho de Belial, que não há quem lhe possa falar.
- Então Abigail se apressou, e tomou duzentos pães, e dois odres de vinho, e cinco ovelhas guisadas, e cinco medidas de trigo tostado, e cem cachos de uvas passas, e duzentas massas de figos secos; e pô-los sobre asnos.
- E disse a seus rapazes: Ide adiante de mim: eis que logo após vós outros me vou. O que, porém, a seu marido, Nabal, não declarou.
- E foi que, subindo ela num asno, desceu ao encoberto do monte; e eis que Davi e seus varões lhe vinham ao encontro. E encontrou com eles.
- E dissera Davi: Na verdade que em vão tenho guardado tudo quanto este tem no deserto, e nunca lhe faltou nada de tudo quanto tem. Mas ele me pagou mal por bem.
- Assim faça Deus aos inimigos de Davi, e assim lhes acrescente: que não deixarei, até de manhã, de tudo quanto tem, nem o que urine à parede.
- Vendo, pois, Abigail a Davi, apressou-se, e desceu do asno; e lançou-se perante a face de Davi sobre seu rosto, e inclinou-se à terra.
- E lançou-se a seus pés, e disse: Ah, senhor meu, minha seja a prevaricação! Deixa, pois, falar tua serva a teus ouvidos, e ouve as palavras de tua serva.
- Ó senhor meu, não ponha seu coração neste varão de Belial, em Nabal, porque tal é ele, qual seu nome é: Nabal é seu nome, e a doidice está com ele. E eu, tua serva, não vi aos rapazes de meu senhor, que enviaste.
- Agora, pois, senhor meu, vive o Senhor, e vive tua alma, que o Senhor te impediu de vires com sangue, e de que tua própria mão te salvasse. E agora, tais qual Nabal sejam teus inimigos, e os que procuram o mal contra meu senhor.
- E agora, esta é a bênção que tua serva trouxe a meu senhor: dê-se aos rapazes que andam após as pegadas de meu senhor.
- Perdoa, pois, à tua serva esta prevaricação. Porque certamente fará o Senhor casa firme a meu senhor; porquanto meu senhor guerreia as guerras do Senhor, e mal se não tem achado em ti, desde teus dias.
- E levantando-se varão algum a perseguir-te, e a procurar tua morte; então a vida de meu senhor será atada no feixe dos que vivem com o Senhor, teu Deus, porém a vida de teus inimigos se lançará ao longe, desde o meio do côncavo da funda.
- E será que, usando o Senhor com meu senhor conforme a todo o bem que já tem dito de ti, e que te mandar que sejas guia em Israel;
- Então, senhor meu, não te será por tropeço, nem por bater do coração, o sangue que sem causa derramares, nem tampouco o haver-se salvado meu senhor a si mesmo. E quando o Senhor fizer bem a meu senhor, então lembra-te de tua serva.
- Então disse Davi a Abigail: Bendito o Senhor, Deus de Israel, que te enviou, no dia de hoje, a encontrar comigo.
- E bendito teu conselho, e bendita tu; que no dia de hoje me estorvaste de vir com sangue, e de que minha própria mão me salvasse.
- Porque na verdade, vive o Senhor, Deus de Israel, que me impediu de fazer-te mal; que se te não houveras apressado, e me não vieras ao encontro, a Nabal, até à luz da manhã, não lhe ficara nem o que urine à parede.
- Então Davi tomou de sua mão o que lhe trouxe. E disse-lhe: Sobe em paz à tua casa; vês que tenho dado ouvidos à tua voz, e te tenho respeitado.
- E vindo Abigail a Nabal, eis que tinha banquete em seu casa, como banquete de rei; e o coração de Nabal estava alegre nele, e ele já mui embriagado. Pelo que não lhe deu a entender nem uma só palavra, pequena nem grande, até à luz da manhã.
- Sucedeu, pois, que, pela manhã, havendo há saído o vinho de Nabal, sua mulher lhe deu a entender aquelas palavras; e seu coração se amorteceu nele, e ele se ficou como pedra.
- E aconteceu que, passados quase dez dias, o Senhor feriu a Nabal, e este morreu.
- E ouvindo Davi que Nabal morrera, disse: Bendito seja o Senhor, que litigou o litígio de minha afronta da mão de Nabal, e a seu servo deteve do mal; e o Senhor fez tornar o mal de Nabal sobre sua cabeça. E mandou Davi falar a Abigail, para tomá-la por sua mulher.
- Vindo, pois, os criados de Davi a Abigail, ao Carmelo, falaram-lhe, dizendo: Davi nos tem mandado aqui, a tomar-te por sua mulher.
- Então ela se levantou, e se inclinou com o rosto à terra. E disse: Eis que tua serva servirá de criada, para lavar os pés dos criados de meu senhor.
- E Abigail se apressou, e se levantou; e subiu a um asno, com cinco moças suas, que seguiam suas pisadas. E ela seguiu aos mensageiros de Davi; e foi sua mulher.
- Também tomou Davi a Ainoã, de Jezreel; e também ambas foram suas mulheres.
- Porque Saul havia dado sua filha Mical, mulher de Davi, a Palti, filho de Lais, o qual era de Galim.
Capítulo 26
- E os zifeus vieram a Saul, a Gibeá, dizendo: Não se tem Davi escondido no outeiro de Haquila, à entrada de Jesimom?
- Então Saul se levantou, e desceu ao deserto de Zife, e com ele três mil homens escolhidos de Israel: a buscar a Davi no deserto de Zife.
- E Saul assentou seu arraial no outeiro de Haquila, que está à entrada de Jesimom, junto ao caminho. Porém Davi ficou no deserto; e viu que Saul vinha após ele ao deserto.
- Porquanto Davi enviara espias; e entendeu que Saul vinha, de certo.
- E Davi se levantou, e veio ao lugar onde Saul acampava; e Davi viu o lugar onde jazia Saul, com Abner, filho de Ner, maioral de sua armada. E Saul jazia na carruagem, e o povo estava pelo campo ao redor dele.
- E respondeu Davi, e falou a Aimeleque, o heteu, e a Abisai, filho de Zerua, irmão de Joabe, dizendo: Quem descerá comigo a Saul ao arraial? E disse Abisai: Eu descerei contigo.
- Assim vieram Davi e Abisai, de noite, ao povo; e eis que Saul estava deitado, dormindo na carruagem; e sua lança afincada na terra, à sua cabeceira. E Abner e o povo jaziam ao redor dele.
- Então disse Abisai a Davi: Hoje encerrou Deus a teu inimigo em tuas mãos! Deixa-mo, pois, agora, encravar com a lança, duma vez, contra a terra; e não o ferirei segunda vez.
- E disse Davi a Abisai: Nenhum dano lhe faças. Porque, quem pôs suas mãos no ungido do Senhor, e ficou impune?
- Disse mais Davi: Vive o Senhor, que se o Senhor o não ferir; ou seu dia não chegar, para que morra, ou não descer em batalha, e ali não acabar;
- O Senhor me guarde de que ponha as mãos no ungido do Senhor. Agora, porém, toma lá a lança que está à sua cabeceira, e a botija de água, e vamo-nos.
- Tomou, pois, Davi a lança e a botija de água da cabeceira de Saul, e foram-se. E ninguém houve que o visse, nem o advertisse, nem acordasse; porque todos estavam dormindo, porquanto um profundo sono do Senhor havia caído sobre eles.
- E passando Davi da outra banda, pôs-se sobre o cume do monte, de tão longe, que entre eles havia grande distância.
- E Davi bradou ao povo, e a Abner, filho de Ner, dizendo: Não responderás, Abner? Então Abner respondeu, e disse: Quem és tu, que bradas ao rei?
- Então disse Davi a Abner: Porventura, não és varão? E quem é teu igual em Israel? Por que, pois, não guardaste ao rei, teu senhor? Porque um do povo veio a destruir ao rei, teu senhor.
- Não é bom isto que tens feito; vive o Senhor, que dignos de morte sois, vós outros que não guardastes a vosso senhor, o ungido do Senhor. Vede pois agora onde está a lança do rei, e a botija de água, que tinha à sua cabeceira.
- Então reconheceu Saul a voz de Davi, e disse: Não é esta tua voz, filho meu Davi? E disse Davi: Minha voz é, ó rei, meu senhor.
- Disse mais: Por que meu senhor persegue assim a seu servo? Porque, que fiz eu? E que mal há em minhas mãos?
- Agora, pois, praza ao rei, meu senhor, ouvir as palavras de seu servo. Se o Senhor te incita contra mim, cheire ele a oferta de manjares; porém se filhos de homens, malditos são perante a face do Senhor; pois expelido me têm eles hoje de me ficar apegado à herança do Senhor, dizendo: Vai, serve a outros deuses.
- Agora, pois, meu sangue não caia em terra de diante da face do Senhor; pois o rei de Israel tem saído em busca de uma pulga, como quem persegue à galinhola pelos montes.
- Então disse Saul: Pequei; torna-te, filho meu Davi, que mal nenhum te farei mais; porquanto hoje minha vida foi preciosa aos teus olhos. Eis que fiz loucamente, e errei grandissimamente.
- Davi então respondeu, e disse: Eis aqui a lança do rei: passe cá um dos rapazes, e tome-a.
- O Senhor, porém, pague a cada qual sua justiça, e sua lealdade; pois o Senhor te tinha dado hoje em minha mão, porém não quis estender minha mão ao ungido do Senhor.
- E eis que, assim como tua vida, no dia de hoje, foi de tanta estima aos meus olhos; de outra tanta estima seja minha vida aos olhos do Senhor, e livre-me de toda angústia.
- Então Saul disse a Davi: Bendito sejas tu, filho meu Davi; assim tudo aperfeiçoarás, como certamente prevalecerás. Então Davi se foi seu caminho, e Saul se tornou a seu lugar.
Capítulo 27
- Disse porém Davi em seu coração: Ora, ainda algum dia acabarei à mão de Saul. Nada melhor me será do que apressadamente me escapar à terra dos filisteus, para que Saul perca a esperança de mim, para não mais me buscar nos termos de Israel; e assim me escaparei de suas mãos.
- Então Davi se levantou, e passou-se ele, com os seiscentos varões que com ele estavam, a Aquis, filho de Maoque, rei de Gate.
- E Davi se ficou com Aquis em Gate, ele e seus varões, cada qual com sua casa: Davi com ambas suas mulheres – Ainoã, a jezreelita, e Abigail, a ex-mulher de Nabal, o carmelita.
- E sendo denunciado a Saul que Davi se acolhera a Gate, não continuou mais em o buscar.
- E disse Davi a Aquis: Se é que tenho achado graça aos teus olhos, dê-se-me algum lugar, em alguma das cidades da terra, para que habite nele. Porque, por que razão habitaria teu servo contigo na cidade real?
- Então lhe deu Aquis naquele dia a cidade de Ziclague; pelo que foi Ziclague dos reis de Judá, até o dia de hoje.
- E foi o número dos dias que Davi habitou na terra dos filisteus, um ano e quatro meses.
- E subia Davi com seus varões, e davam sobre os gesuritas, e os gersitas, e os amalequitas; porque desde a antiguidade estes foram os moradores da terra, desde onde vais a Sur, até a terra do Egito.
- E Davi feria aquela terra, e não dava vida nem a homem, nem a mulher. E tomava ovelhas, e vacas, e asnos, e camelos, e roupas; e tornava-se, e vinha a Aquis.
- E dizendo Aquis: Sobre onde destes hoje? Davi dizia: Sobre o sul de Judá, e sobre o sul dos jerameleus, e sobre o sul dos queneus.
- E Davi não dava vida nem a homem, nem a mulher, para trazê-los a Gate, dizendo: Para que, porventura, de nós não denunciem, dizendo: Assim Davi o fez. E este era seu costume, todos os dias em que habitou na terra dos filisteus.
- E Aquis cria a Davi, dizendo: Muito aborrecível se tem feito para com seu povo, em Israel, pelo que me será por servo perpetuamente.
Capítulo 28
- E aconteceu naqueles dias que, ajuntando os filisteus seus exércitos à peleja, para fazer guerra a Israel, disse Aquis a Davi: Saibas de certo que comigo sairás ao arraial, tu e teus varões.
- Então disse Davi a Aquis: Assim também tu saberás o que teu servo fará. E disse Aquis a Davi: Por isso te porei por guarda de minha cabeça, para sempre.
- E já Samuel era morto, e todo Israel o havia pranteado, e tinham-no sepultado em Ramá, que era sua cidade. E Saul havia desterrado aos adivinhos e aos encantadores.
- E ajuntaram-se os filisteus, e vieram, e assentaram seu arraial em Suném. E Saul ajuntou a todo Israel, e assentaram seu arraial em Gilboa.
- E vendo Saul o arraial dos filisteus, temeu, e seu coração muito se estremeceu.
- E perguntou Saul ao Senhor, porém o Senhor lhe não respondeu: nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas.
- Então disse Saul a seus criados: Buscai-me uma mulher que tenha espírito de adivinhar, para que vá a ela, e consulte por ela. E seus criados lhes disseram: Eis que em En-Dor há uma mulher que tem espírito de adivinhar.
- E Saul se disfarçou, e se vestiu outras vestes; e foi ele, e dois varões com ele, e de noite vieram à mulher. E disse: Peço-te que me adivinhes, pelo espírito de adivinhar, e me faças subir a quem eu te disser.
- Então a mulher lhe disse: Eis que tu sabes o que fez Saul, como tem destruído da terra aos adivinhos e encantadores. Por que, pois, pões tropeço à minha vida, para fazer-me matar?
- Então Saul lhe jurou pelo Senhor, dizendo: Vive o Senhor, que nenhum mal te sobrevirá por isto.
- A mulher então lhe disse: A quem te farei subir? E disse ele: A Samuel me faze subir.
- Vendo pois a mulher a Samuel, clamou em altas vozes. E a mulher falou a Saul, dizendo: Por que me tens enganado? Pois tu mesmo és Saul!
- E o rei lhe disse: Não temas; porém que é o que vês? Então a mulher disse a Saul: Deuses vejo, que sobem da terra.
- E ele lhe disse: Qual é seu parecer? E disse ela: Um varão ancião vem subindo, e está envolto numa capa. E entendendo Saul que Samuel era, se inclinou com o rosto à terra, e se prostrou.
- E Samuel disse a Saul: Por que me inquietaste, fazendo-me subir? Então disse Saul: Mui angustiado estou, porquanto os filisteus guerreiam contra mim; e Deus se tem desviado de mim, e mais me não responde, nem pelo ministério dos profetas, nem por sonhos; pelo que a ti te chamei, para que me faças saber o que hei de fazer.
- Então disse Samuel: Por que, pois, a mim me perguntas? Pois o Senhor se tem desviado de ti, e feito teu inimigo.
- Porquanto o Senhor tem feito para consigo como falou por meu ministério. E o Senhor tem rasgado o reino de tua mão, e o tem dado a teu companheiro Davi.
- Como tu não deste ouvidos à voz do Senhor, e não executaste o fervor de sua ira contra Amaleque; por isso o Senhor neste dia te fez isto.
- E o Senhor dará também a Israel, juntamente contigo, na mão dos filisteus, e amanhã tu e teus filhos estareis comigo. E até ao arraial de Israel dará o Senhor na mão dos filisteus.
- E naquele mesmo instante, Saul caiu estirado em terra, e grandemente temeu por aquelas palavras de Samuel. E força não ficou nele, porquanto todo aquele dia e toda aquela noite não havia comido pão.
- Então veio a mulher a Saul e, vendo que tão turbado estava, disse-lhe: Eis que tua criada deu ouvidos à tua voz, e pus minha alma em minha palma, e ouvi as palavras que me disseste.
- Agora, pois, ouve também tu as palavras de tua serva; e porei um bocado de pão diante de ti, e come. E haverá força em ti, para a caminho de pores.
- Ele porém o recusou, e disse “não comerei”; porém seus criados e a mulher porfiaram com ele; e deu ouvidos à sua voz. E levantou-se do chão, e assentou-se sobre uma cama.
- E tinha a mulher em casa uma bezerra cevada; e apressou-se, e degolou-a. E tomou farinha, e amassou-a, e cozeu dela bolos ázimos.
- E trouxe-os diante de Saul e de seus criados, e comeram. Depois disto se levantaram, e se foram naquela mesma noite.
Capítulo 29
- E já haviam ajuntado os filisteus todos seus exércitos em Afeca; e os israelitas assentaram seu arraial junto à fonte que está em Jezreel.
- E os príncipes dos filisteus se foram para lá com centenas, e com milhares; porém Davi e seus varões iam com Aquis na retaguarda.
- Disseram então os maiorais dos filisteus: Que fazem aqui estes hebreus? E disse Aquis aos maiorais dos filisteus: Não é este Davi, o criado de Saul, rei de Israel, que já há alguns dias, ou alguns anos, que esteve comigo? E coisa nenhuma achei nele, desde o dia em que se revoltou, até o dia de hoje.
- Porém os maiorais dos filisteus muito se indignaram contra ele; e disseram-lhe os maiorais dos filisteus: Faze tornar a este varão, e torne-se a seu lugar, aonde o constituíste; e não desça conosco à batalha, para que na batalha se nos não torne em adversário. Porque, com que agradaria este a seu senhor? Porventura, não seria com as cabeças destes varões?
- Não é este aquele Davi, de quem uns aos outros respondiam nas danças, dizendo: Saul feriu seus milhares, porém Davi seus dez milhares?
- Então Aquis chamou a Davi, e disse-lhe: Vive o Senhor, que reto és; e que tua entrada, e tua saída comigo no arraial, é boa aos meus olhos; porque mal nenhum em ti achei, desde o dia em que a mim vieste, até o dia de hoje. Porém, aos olhos dos príncipes, não agradas.
- Assim que agora te torna, e em paz te vai; para que não faças coisa alguma mal aceita aos olhos dos príncipes dos filisteus.
- Então disse Davi a Aquis: Por que? Que fiz? Ou que achaste em teu servo, desde o dia em que estive perante tua face, até o dia de hoje? Para que não vá, e peleje contra os inimigos do rei, meu senhor?
- Respondeu porém Aquis, e disse a Davi: Bem o sei; e na verdade que, aos meus olhos, és aceito como um anjo de Deus. Porém disseram os maiorais dos filisteus: Não suba este conosco à batalha.
- Agora, pois, amanhã de madrugada te levanta, com os criados de teu senhor que têm vindo contigo; e levantando-vos pela manhã, de madrugada, e vendo a luz, parti-vos.
- Então Davi de madrugada se levantou, ele e seus varões, para pela manhã se partirem, e à terra dos filisteus se tornarem. E os filisteus subiram a Jezreel.
Capítulo 30
- Sucedeu pois que, chegando Davi e seus varões, no terceiro, dia a Ziclague, já os amalequitas haviam dado com ímpeto na banda do sul, e em Ziclague, e ferido a Ziclague, e a posto a fogo.
- E as mulheres que estavam nela haviam levado prisioneiras, e a todos, desde o menor até o maior; porém a ninguém haviam matado: tão somente os haviam levado, e se ido seu caminho.
- E Davi e seus varões vieram à cidade, e eis que estava queimada a fogo; e que suas mulheres, e seus filhos, e suas filhas, eram levados presos.
- Então Davi e o povo que com ele estava alçaram sua voz, e choraram; até que neles não houve mais força para chorar.
- Também as duas mulheres de Davi foram levadas presas: Ainoã, a jezreelita, e Abigail, a ex-mulher de Nabal, o carmelita.
- E Davi muito se angustiou, porque o povo falava de apedrejá-lo; porque o ânimo de todo o povo estava em amargura, cada qual por seus filhos, e por suas filhas. Todavia Davi se fortaleceu no Senhor, seu Deus.
- E disse Davi a Abiatar, sacerdote, filho de Aimeleque: Traze-me ora aqui ao éfode. E Abiatar trouxe o éfode a Davi.
- Então consultou Davi ao Senhor, dizendo: Perseguirei a esta tropa? Alcançá-la-ei? E disse-lhe: Segue-a, que de certo a alcançarás, e tudo libertarás.
- E foi Davi, ele e os seiscentos varões que com ele estavam, e chegaram ao ribeiro de Besor: onde um resto se ficou.
- E persegui-os Davi, ele e os quatrocentos varões; porém duzentos varões se ficaram, por tão cansados estarem, que não puderam passar o ribeiro de Besor.
- E acharam um varão egípcio no campo, e trouxeram-no a Davi. E deram-lhe pão, e comeu; e deram-lhe de beber água.
- Deram-lhe também um pedaço de massa de figos secos, e dois cachos de passas; e comeu, e seu espírito se tornou a ele. Porque, em três dias e três noites, nem comera pão, nem bebera água.
- Então Davi lhe disse: De quem és? E donde és? E disse o moço egípcio: Sou servo de um varão amalequita, e meu senhor me deixou; porquanto hoje faz três dias que adoeci.
- Com ímpeto nós demos na banda do sul dos creteus, e no que é de Judá, e na banda do sul de Calebe; e a Ziclague queimamos a fogo.
- E disse-lhe Davi: Poder-me-ias tu, descendo, guiar a esta tropa? E disse ele: Por Deus me jura que me não matarás, nem me entregarás na mão de meu senhor; e descendo, te guiarei a esta tropa.
- E descendo, o guiou; e eis que estavam espalhados sobre a face de toda a terra: comendo, e bebendo, e dançando, por todo aquele grande despojo que haviam tomado da terra dos filisteus, e da terra de Judá.
- E feriu-os Davi desde o lusco-fusco até à tarde de seu dia seguinte; e nenhum deles escapou, senão só quatrocentos rapazes que subiram a camelos, e fugiram.
- Assim livrou Davi tudo quanto os amalequitas tomaram. Também a suas duas mulheres, livrou Davi.
- E ninguém lhes faltou, desde o menor até o maior, e até os filhos e filhas, e também desde o despojo até tudo quanto lhes tinham tomado: tudo Davi tornou a trazer.
- Também tomou Davi todas as ovelhas e vacas. E levaram-nas diante do demais gado, e diziam: Este é o despojo de Davi.
- E chegando Davi aos duzentos varões que tão cansados ficaram, que não puderam seguir a Davi, e que deixaram ficar ao ribeiro de Besor; estes saíram ao encontro de Davi, e ao povo que com ele vinha. E chegando-se Davi ao povo, perguntou-lhe como se achavam.
- Então todos os maus e filhos de Belial dentre os varões que haviam ido com Davi, responderam, e disseram: Porquanto não foram conosco, não lhes daremos do despojo que libertamos! Mas cada qual, sua mulher e seus filhos leve, e vá-se!
- Porém disse Davi: Assim não fareis, irmãos meus! Com o que o Senhor nos deu, e nos guardou; e entregou a tropa que contra nós vinha em nossas mãos.
- E quem em tal caso vos daria ouvidos? Porque, qual é a parte dos que desceram à peleja, tal também será a parte dos que ficaram com a bagagem: igualmente repartirão.
- O que assim foi desde aquele dia em diante; porquanto o pôs por estatuto e direito em Israel, até o dia de hoje.
- E chegando Davi a Ziclague, enviou do despojo aos anciãos de Judá, seus amigos, dizendo: Eis aí para vós outros uma bênção do despojo dos inimigos do Senhor.
- Convém a saber: aos de Betel, e aos de Ramote do Sul, e aos de Jatir.
- E aos de Aroer, e aos de Sifmote, e aos de Estemoa.
- E aos de Racal, e aos que estavam nas cidades dos jerameelitas, e nas cidades dos queneus.
- E aos de Horma, e aos de Corasã, e aos de Atace.
- E aos de Hebrom; e aos de todos os lugares em que andara Davi, ele e seus varões.
Capítulo 31
- Os filisteus, pois, pelejaram contra Israel. E os varões de Israel fugiram de diante dos filisteus, e caíram atravessados na montanha de Gilboa.
- E os filisteus alcançaram a Saul e a seus filhos; e mataram a Jônatas, e a Abinadabe, e a Malquisua, filhos de Saul.
- E a peleja se agravou contra Saul, e os flecheiros o alcançaram (quer dizer, os varões que atiravam com arco). E muito temeu aos flecheiros.
- Então disse Saul a seu pajem de armas: Arranca tua espada, e atravessa-me com ela; para que, porventura, não venham estes incircuncisos, e me atravessem, e de mim escarneçam; porém seu pajem de armas não quis, porquanto temia muito. Então tomou Saul a espada, e lançou-se sobre ela.
- Vendo, pois, seu pajem de armas que Saul já era morto, também ele se lançou sobre sua espada, e morreu juntamente com ele.
- Assim faleceu Saul, e seus três filhos, e seu pajem de armas, e também todos seus varões juntamente àquele dia.
- E vendo os varões de Israel que estavam desta banda do vale, e desta banda do Jordão, que os varões de Israel fugiram, e que Saul e seus filhos eram mortos; desampararam as cidades, e fugiram, e vieram os filisteus, e habitaram nelas.
- Sucedeu pois que, vindo os filisteus, no dia seguinte, a despojar os mortos, acharam a Saul e a seus três filhos, estirados na montanha de Gilboa;
- E cortaram-lhe a cabeça, e despojaram-no de suas armas; e enviaram mensageiros pela terra dos filisteus ao redor, a anunciá-lo no templo de seus ídolos, e entre o povo.
- E puseram suas armas no templo de Astarote; e seu corpo afixaram no muro de Bete-Seã.
- Ouvindo então os moradores de Jabes de Gileade as novas dele – isto é, o que os filisteus fizeram a Saul –,
- Todo varão valoroso se levantou; e caminharam toda a noite, e tiraram o corpo de Saul, e os corpos de seus filhos, do muro de Bete-Seã. E vindo a Jabes, os queimaram.
- E tomaram seus ossos, e sepultaram-nos debaixo de um arvoredo em Jabes; e jejuaram sete dias.