E sucedeu nos dias de Assuero – este é o Assuero que reinou desde a Índia até a Etiópia, sobre cento e vinte e sete províncias –,
Naqueles dias, assentando-se o rei Assuero sobre o trono de seu reino que está na fortaleza de Susã,
No ano terceiro de seu reinado, que fez um banquete a todos seus príncipes, e a seus servos; de modo que todo o poder da Pérsia e Média, e os maiores senhores das províncias, estavam perante ele;
Para mostrar as riquezas da glória de seu reino, e o esplendor do ornato de sua grandeza. E isto por muitos dias, a saber, cento e oitenta dias.
E acabados aqueles dias, fez o rei um banquete a todo o povo que se achou na fortaleza de Susã, desde o maior até o menor, por espaço de sete dias: no pátio do jardim do palácio real.
As tapeçarias eram de branco, verde e azul celeste, pendentes de cordões de linho fino e púrpura, e argolas de prata, e colunas de mármore; os leitos de ouro e prata, em campo de pórfiro, e de mármore, e de alabastro, e de pedra de várias cores.
E dava-se de beber em vasos de ouro, e os vasos eram diferentes uns dos outros; e havia muito vinho real, segundo a faculdade do rei.
E o beber era, por lei, que ninguém forçasse a outrem; porque assim o mandara o rei expressamente, a todos os grandes de sua casa, que fizessem conforme à vontade de cada um.
Também a rainha Vasti fez um banquete às mulheres, na casa real que tinha o rei Assuero.
E ao sétimo dia, estando já o coração do rei alegre do vinho, mandou a Meumã, Biztá, Harboná, Bigtá, e Abagtá, Zetar, e a Carcás, que eram os sete eunucos que serviam perante o acatamento do rei Assuero,
Que trouxessem a Vasti, a rainha, com a coroa real, perante o acatamento do rei; para mostrar aos povos e aos príncipes sua formosura, porque era formosa de vista.
Porém a rainha Vasti recusou de vir ao mandado do rei por mão dos eunucos; pelo que o rei muito se enfureceu, e sua ira se acendeu nele.
Então disse o rei aos sábios, que entendiam dos tempos – porque assim se deviam tratar os negócios do rei, em presença de todos os que sabiam a lei e o direito;
E os mais chegados a ele eram Carsená, Setar, Admatá, Tarsis, Merês, Marsená, Memucã; que eram os sete príncipes dos persas e dos medos, que viam a face do rei, e se assentavam os primeiros no reino –,
Que era o que, segundo a lei, se devia fazer da rainha Vasti; porquanto não fizera o mandado do rei Assuero por mão dos eunucos.
Então disse Memucã em presença do rei e dos príncipes: Não somente pecou contra o rei a rainha Vasti; porém também contra todos os príncipes, e contra todos os povos que há em todas as províncias do rei Assuero.
Porque a notícia deste feito da rainha sairá a todas as mulheres, de modo que desprezarão a seus maridos em seus olhos, quando se disser “mandou o rei que trouxessem a rainha Vasti perante seu acatamento, porém ela não veio”.
Então neste mesmo dia as princesas da Pérsia e da Média dirão o mesmo a todos os príncipes do rei, ouvindo o feito da rainha; e assim haverá assaz de desprezo e indignação.
Se bem parecer ao rei, saia de sua parte um mandado real, e escreva-se nas leis dos persas e dos medos, e não se quebrante: que Vasti não mais entre perante o acatamento do rei Assuero, e o rei dê o reino dela à sua companheira que melhor que ela é.
E ouvindo-se o mando, que o rei mandar em todo seu reino (ainda que é grande), todas as mulheres darão honra a seus maridos, desde a maior até a menor.
E pareceu bem esta palavra aos olhos do rei e dos príncipes; e fez o rei conforme à palavra de Memucã.
Então enviou cartas a todas as províncias do rei, a cada província segundo sua escrita, e a cada povo segundo sua língua: que cada varão fosse senhor em sua casa, e falasse conforme à língua de seu povo.
Capítulo 2
Passadas estas coisas, e apaziguado já o furor do rei Assuero, lembrou-se de Vasti, e do que fizera, e do que se concluíra sobre ela.
Então disseram os mancebos do rei, que lhe serviam: Busquem-se para o rei moças donzelas, formosas de vista.
E o rei ponha comissários em todas as províncias do seu reino, que ajuntem a todas as moças donzelas, formosas de vista, na fortaleza de Susã, na casa das mulheres, debaixo da mão de Hegê, eunuco do rei, guarda das mulheres; e dêem-se-lhes seus enfeites.
E a moça que parecer bem aos olhos do rei, reine em lugar de Vasti. E isto pareceu bem aos olhos do rei, e assim o fez.
Havia então um varão judeu na fortaleza de Susã, cujo nome era Mardoqueu, filho de Jair, filho de Simei, filhos de Quis, varão de Jemini;
Que fora transportado de Jerusalém, com os transportados que foram transportados com Jeconias, rei de Judá; ao qual transportara Nabucodonosor, rei da Babilônia.
E este é o que criara Hadassa – que é Ester, filha de seu tio –, porque não tinha pai nem mãe. E era moça bela de parecer, e formosa de vista; e morrendo seu pai e sua mãe, Mardoqueu a tomara por sua filha.
Sucedeu pois que, divulgando-se o mandado do rei e sua lei, e ajuntando-se muitas moças na fortaleza de Susã, debaixo da mão de Hegai; também levaram a Ester à casa do rei, debaixo da mão de Hegai, guarda das mulheres.
E a moça lhe pareceu formosa aos seus olhos, e alcançou graça perante ele; pelo que logo se apressou com seus enfeites, e com suas partes lhe dar, como também a sete moças de respeito da casa do rei lhe dar. E passou-a com suas moças ao melhor da casa das mulheres.
Ester, porém, não declarou seu povo e sua parentela; porque Mardoqueu lhe mandara que o não declarasse.
E passeava Mardoqueu cada dia diante do pátio da casa das mulheres, para informar-se de como Ester passava e do que lhe sucederia.
E chegando já a vez de cada moça para vir ao rei Assuero, desde que se houvesse usado com ela segundo a lei das mulheres, por doze meses (porque assim se cumpriam os dias de seus enfeites: seis meses com óleo de mirra, e seis meses com especiarias e outros enfeites de mulheres,
De modo que assim a moça vinha ao rei), tudo quanto dizia, se lhe dava, para ir-se com aquilo da casa das mulheres à casa do rei.
À tarde entrava, e pela manhã se tornava à segunda casa das mulheres, debaixo da mão de Saasgaz, eunuco do rei, guarda das concubinas. Não tornava mais ao rei, salvo se o rei a desejasse, e fosse chamada pelo nome.
Chegando, pois, a vez de Ester, filha de Abiail, tio de Mardoqueu – que a tomara por sua filha –, para ir ao rei, coisa nenhuma pediu, senão o que disse Hegai, eunuco do rei, guarda das mulheres. E alcançava Ester graça aos olhos de todos quantos a viam.
Assim Ester foi levada ao rei Assuero, à sua casa real, no mês décimo, que é o mês de Tebete; no ano sétimo de seu reinado.
E o rei amou a Ester mais que a todas as mulheres, e alcançou perante ele graça e benevolência mais que todas as donzelas. E pôs a coroa real em sua cabeça, e fê-la rainha em lugar de Vasti.
Então o rei fez um grande banquete a todos seus príncipes e a seus servos, que era o banquete de Ester; e deu repouso às províncias, e fez presentes segundo a faculdade do rei.
E ajuntando-se pela segunda vez as donzelas, Mardoqueu estava assentado à porta do rei.
Ester, porém, não declarara sua parentela e seu povo, como Mardoqueu lhe mandara; porque ainda Ester fazia o mandado de Mardoqueu, como quando a criara.
Naqueles dias, assentando-se Mardoqueu ainda à porta do rei, dois eunucos do rei, dos guardas da porta – Bigtã e Terês –, grandemente se indignaram, e procuraram pôr as mãos no rei Assuero.
E foi isto entendido por Mardoqueu, e ele o fez saber à rainha Ester; e Ester o disse ao rei, em nome de Mardoqueu.
E inquirida a causa, assim se achou; e ambos foram enforcados numa forca. E foi isto escrito nas crônicas perante o rei.
Capítulo 3
Depois destas coisas, o rei Assuero engrandeceu a Hamã, filho de Hamedatá, agagita, e exaltou-o; e pôs sua cadeira mais acima das de todos os príncipes que estavam com ele.
E todos os servos do rei, que estavam à porta do rei, se inclinavam e se prostravam perante Hamã; porque assim o rei o mandara acerca dele. Porém Mardoqueu não se inclinava, nem se prostrava.
Então os servos do rei, que estavam à porta do rei, disseram a Mardoqueu: Por que traspassas o mandado do rei?
Sucedeu pois que, dizendo-lhe eles isto de dia em dia, e não lhes dando ele ouvidos; fizeram-no saber a Hamã, para verem se as palavras de Mardoqueu subsistiriam, porque já ele lhes tinha declarado que era judeu.
Vendo pois Hamã que Mardoqueu se não inclinava nem se prostrava a ele, Hamã se encheu de furor.
Porém aos seus olhos em pouco teve de pôr as mãos só em Mardoqueu (porque já lhe haviam declarado o povo de Mardoqueu); mas Hamã procurou destruir a todos os judeus que havia em todo o reino de Assuero, a saber, ao povo de Mardoqueu.
No mês primeiro, que é o mês de Nisã, aos doze anos do rei Assuero, se lançou “pur” – isto é, sorte – perante Hamã, de dia em dia, e de mês em mês, até o mês doze, que é o mês de Adar.
Porque Hamã dissera ao rei Assuero: Há um povo espalhado e dividido entre os povos, em todas as províncias de teu reino; cujas leis são diferentes das leis de todos os outros povos, e tampouco fazem as leis do rei, pelo que não convém ao rei de os deixar ficar assim.
Se bem parecer ao rei, escreva-se que os lancem a perder; e eu dez mil talentos de prata porei nas mãos dos que fizerem a obra, para que se metam nos tesouros do rei.
Então o rei tirou seu anel de sua mão; e deu-o a Hamã, filho de Hamedatá, agagita, adversário dos judeus.
E disse o rei a Hamã: Essa prata te é dada; como também esse povo, para fazeres dele o que bem parecer aos teus olhos.
Então chamaram aos escrivães do rei no mês primeiro, aos treze do mesmo; e conforme a tudo quanto Hamã mandou, se escreveu aos príncipes do rei, e aos governadores que havia sobre cada província, e aos principais de cada povo: a cada província segundo sua escrita, e a cada povo segundo sua língua. Em nome do rei Assuero se escreveu, e com o anel do rei se selou.
E as cartas se enviaram por mão dos correios a todas as províncias do rei, em que se continha que destruíssem, matassem e lançassem a perder a todos os judeus, desde o moço até o velho, até crianças e mulheres, em um dia: aos treze do mês doze, que é o mês de Adar. E que saqueassem seu despojo.
A substância do escrito era que se anunciasse uma lei em todas as províncias, em público, a todos os povos; para que estivessem apercebidos para aquele dia.
Assim os correios, impelidos pela palavra do rei, saíram, e a lei se anunciou na fortaleza de Susã. E o rei e Hamã se assentaram a banquetear; porém a cidade de Susã estava confusa.
Capítulo 4
Entendendo pois Mardoqueu tudo quanto havia passado, rasgou Mardoqueu suas vestes, e vestiu-se de um saco com cinza; e saiu-se pelo meio da cidade, e clamou com grande e amargo clamor.
E chegou até diante da porta do rei; porque ninguém vestido de saco podia entrar pelas portas do rei.
E em toda e cada província e lugar aonde chegava a palavra do rei, e sua lei, havia entre os judeus grande luto, com jejum, e choro, e lamentação; e muitos jaziam em sacos e em cinza.
Então vieram as donzelas de Ester, e seus eunucos, e fizeram-lho saber; do que a rainha muito se condoeu. E mandou vestes para vestir a Mardoqueu, e tirar-lhe seu saco; porém ele as não aceitou.
Então Ester chamou a Hatar – um dos eunucos do rei, a quem pusera a seu serviço –, e deu-lhe mandado para Mardoqueu; para saber que era aquilo, e para quê.
E saindo Hatar a ter com Mardoqueu, à praça da cidade que estava diante da porta do rei,
Mardoqueu lhe fez saber tudo quanto lhe sucedera; como também a oferta da prata que Hamã dissera que daria para os tesouros do rei, pelos judeus, para lançá-los a perder.
Também uma cópia da lei escrita, que se publicara em Susã, para os destruir, lhe deu para o mostrar a Ester, e lho fazer saber; e lhe mandasse que se fosse ter com o rei, para lhe pedir e suplicar, na sua presença, por seu povo.
Veio pois Hatar, e fez saber a Ester as palavras de Mardoqueu.
Então disse Ester a Hatar, e mandou-lhe dizer a Mardoqueu,
Que todos os servos do rei, e o povo das províncias do rei, bem sabem que todo varão ou mulher que entrar no pátio de dentro, junto ao rei, sem ser chamado, sua única sentença é que morra; salvo se o rei lhe apontar com o cetro de ouro, para que viva. E eu, estes trinta dias, não sou chamada para entrar junto ao rei.
E fizeram saber a Mardoqueu as palavras de Ester.
Então disse Mardoqueu que tornassem a dizer a Ester: Não imagines em teu ânimo que escaparás em casa do rei, mais que todos os demais judeus.
Porque se de todo te calares neste tempo, respiração e livramento de outra parte sairá para os judeus; mas tu e a casa de teu pai perecereis. E quem sabe se, para tal tempo como este, chegaste a este reino?
Então disse Ester que tornassem a dizer a Mardoqueu:
Vai, ajunta a todos os judeus que se acharem em Susã, e jejuai por mim; e não comais nem bebais em três dias, nem de dia nem de noite; e eu e minhas donzelas também assim jejuaremos. E assim entrarei a ter com o rei, ainda que não é segundo a lei; e perecendo, pereça.
Então Mardoqueu foi, e fez conforme a tudo quanto Ester lhe mandou.
Capítulo 5
Sucedeu pois que, ao dia terceiro, Ester se vestiu de vestidos reais, e se pôs no pátio de dentro da casa do rei, em fronte do aposento do rei. E o rei estava assentado em seu trono real, na casa real em fronte da porta do aposento.
E foi que, vendo o rei a rainha Ester, que estava no pátio, alcançou tanta graça aos seus olhos, que o rei apontou para Ester com o cetro de ouro que tinha em sua mão, e Ester chegou e tocou a ponta do cetro.
Então o rei lhe disse: Que é o que tens, rainha Ester? Ou qual é tua petição? Até metade do reino se te dará!
E disse Ester: Se bem parecer ao rei, venha o rei e Hamã hoje ao banquete que lhe tenho preparado.
Então disse o rei: Fazei apressar a Hamã, que faça o mandado de Ester. Vindo, pois, o rei e Hamã ao banquete que Ester preparara,
Disse o rei a Ester, no banquete do vinho: Qual é tua petição? E dar-se-te-á. E qual é teu petitório? E se fará, ainda até metade do reino.
Então respondeu Ester, e disse: Minha petição e petitório é que,
Se achei graça aos olhos do rei, e se bem parecer ao rei conceder-me minha petição, e outorgar-me meu petitório; venha o rei com Hamã ao banquete que lhes hei de preparar, e amanhã farei conforme ao mandado do rei.
Então saiu Hamã àquele dia alegre e de bom ânimo. Porém vendo Hamã a Mardoqueu à porta do rei, e que não se levantara nem se movera por ele, então Hamã se encheu de furor contra Mardoqueu.
Porém Hamã se refreou, e veio-se à sua casa. E enviou, e mandou vir a seus amigos, e a Zerês, sua mulher.
E contou-lhes Hamã a glória de suas riquezas, e a multidão de seus filhos; e tudo o em que o rei o engrandecera, e o em que o exaltara sobre os príncipes e servos do rei.
Disse mais Hamã: Tampouco a rainha Ester a ninguém fez vir com o rei ao banquete que preparara, senão somente a mim. E ainda para amanhã estou convidado dela, juntamente com o rei.
Porém tudo isto me não satisfaz, todo o tempo que vejo ao judeu Mardoqueu assentado à porta do rei.
Então lhe disse Zerês, sua mulher, e todos seus amigos: Faça-se uma forca de cinquenta côvados em alto, e amanhã dize ao rei que enforquem nela a Mardoqueu; e então entra com o rei alegre ao banquete. E este conselho pareceu bem a Hamã, e mandou fazer a forca.
Capítulo 6
Naquela mesma noite, o sono se fugiu do rei. Então mandou trazer o livro das memórias das crônicas, e leram-se em presença do rei.
E achou-se escrito que Mardoqueu dera notícia de Bigtaná e de Terês, dois eunucos do rei, dos da guarda da porta; de que procuraram pôr as mãos no rei Assuero.
Então disse o rei: Que honra e magnificência se fez por isto a Mardoqueu? E os rapazes do rei, seus servos, disseram: Coisa nenhuma se lhe fez.
Então disse o rei: Quem está no pátio? (E Hamã viera ao pátio de fora da casa do rei, para dizer ao rei que enforcassem a Mardoqueu na forca que lhe preparara).
E os rapazes do rei lhe disseram: Eis que Hamã está no pátio. E disse o rei que entrasse.
E entrando Hamã, o rei lhe disse: Que se fará ao varão de cujo honra o rei se agrada? Então Hamã disse em seu coração: De quem se agradará o rei para lhe fazer honra mais que a mim?
Pelo que disse Hamã ao rei: Ao varão de cuja honra o rei se agrada,
Tragam a veste real, de que o rei se costuma vestir; como também o cavalo em que o rei costuma cavalgar, e ponha-se-lhe a coroa real em sua cabeça.
E entregue-se a veste e o cavalo em mão de um dos príncipes do rei, dos maiores senhores, e vistam dele àquele varão de cuja honra o rei se agrada. E levem-no a cavalo pelas ruas da cidade, e apregoe-se diante dele: Assim se fará ao varão de cuja honra o rei se agrada!
Então disse o rei a Hamã: Apressa-te, pois, e toma a veste e o cavalo, como disseste, e faze-o assim para com o judeu Mardoqueu, que está assentado à porta do rei. E palavra nenhuma deixes faltar de tudo quanto disseste.
E Hamã tomou a veste e o cavalo, e vestiu a Mardoqueu. E levou-o a cavalo pelas ruas da cidade, e apregoou diante dele: Assim se fará ao varão de cuja honra o rei se agrada!
Depois disto, Mardoqueu se tornou à porta do rei. Porém Hamã se retirou correndo à sua casa, enlutado, e coberta a cabeça.
E contou Hamã a Zerês, sua mulher, e a todos seus amigos, tudo quanto lhe sucedera. Então seus sábios, e Zerês, sua mulher, lhe disseram: Se Mardoqueu, diante de quem já começaste a cair, é da semente dos judeus, não prevalecerás contra ele; antes, infalivelmente cairás perante ele.
Estando eles ainda falando com ele, chegaram os eunucos do rei; e apressaram-se a levar a Hamã ao banquete que Ester preparara.
Capítulo 7
Vindo, pois, o rei com Hamã, a banquetear-se com a rainha Ester,
Disse também o rei a Ester, no segundo dia, no banquete do vinho: Qual é tua petição, rainha Ester? E dar-se-te-á. E qual é teu petitório? Ainda que seja até metade do reino, se fará.
Então respondeu a rainha Ester, e disse: Se, ó rei, achei graça aos teus olhos, e se bem parecer ao rei; dê-se-me minha vida por minha petição, e meu povo por meu petitório.
Porque estamos vendidos, eu e meu povo, para nos destruírem, matarem, e lançarem a perder. Se ainda por servos e por servas nos vendessem, calar-me-ia; mas nem é bastante o opressor, a recompensar a perda do rei.
Então falou o rei Assuero, e disse à rainha Ester: Quem é esse, e onde está esse, que encheu seu coração para assim o fazer?
E disse Ester: O varão, o opressor e inimigo, é este mau Hamã. Então Hamã se perturbou perante o rei e a rainha.
E o rei, em seu furor, se levantou do banquete do vinho, e se foi ao jardim do palácio. E Hamã se ficou em pé, para rogar à rainha Ester por sua vida; porque bem viu que já o rei por inteiro tinha concluído o mal para com ele.
Tornando pois o rei, do jardim do palácio, à casa do banquete do vinho, Hamã se deixara cair sobre o leito em que estava Ester; então disse o rei: Porventura quereria ele ainda também forçar a rainha, perante mim, nesta casa? Saindo esta palavra da boca do rei, cobriram a Hamã o rosto.
Então disse Harboná, um dos eunucos que estava perante o acatamento do rei: Eis que também a forca que Hamã fizera para Mardoqueu, que falara bem do rei, está junto à casa de Hamã, de cinquenta côvados em altura. Então disse o rei: Enforcai-o nela.
Assim enforcaram a Hamã na forca que ele mesmo fizera preparar para Mardoqueu. Então o furor do rei se aplacou.
Capítulo 8
Naquele mesmo dia, deu o rei Assuero à rainha Ester a casa de Hamã, inimigo dos judeus. E Mardoqueu veio perante o rei; porque Ester lhe declarara quão aparentado lhe era.
E tirou o rei seu anel, que tomara a Hamã, e deu-o a Mardoqueu. E Ester ordenou a Mardoqueu sobre a casa de Hamã.
Falou mais Ester perante o rei, e lançou-se a seus pés; e chorou, e suplicou-lhe que revogasse a maldade de Hamã, agagita, e seu intento, que intentara contra os judeus.
E apontou o rei para Ester com o cetro de ouro. Então Ester se levantou, e se pôs em pé perante o rei;
E disse: Se bem parecer ao rei, e se eu achei graça perante ele, e se este negócio é reto diante do rei, e se eu lhe agrado aos seus olhos; escreva-se que se revoguem as cartas e intento de Hamã, filho de Hamedatá, o agagita, as quais ele escreveu para lançarem a perder os judeus que há em todas as províncias do rei.
Porque, como poderei ver o mal que sobrevirá a meu povo? E como poderei ver a perdição de minha geração?
Então disse o rei Assuero à rainha Ester, e ao judeu Mardoqueu: Eis que dei a Ester a casa de Hamã, e a ele o enforcaram numa forca, porquanto quisera pôr as mãos nos judeus.
Assim que escrevei pelos judeus como parecer bem aos vossos olhos, em nome do rei, e selai-o com o anel do rei. Porque a escritura que se escreve em nome do rei, e se sela com o anel do rei, não é para revogar.
Então foram chamados os escrivães do rei naquele mesmo tempo, e no mês terceiro, que é o mês de Sivã, aos vinte e três do mesmo, e escreveu-se conforme a tudo quanto mandou Mardoqueu aos judeus, como também aos sátrapas, e aos governadores, e aos maiorais das províncias, que se estendem da Índia à Etiópia – cento e vinte e sete províncias –, a cada província segundo sua escrita, e a cada povo conforme a sua língua; como também aos judeus, segundo sua escrita, e conforme a sua língua.
E escreveu-se em nome do rei Assuero, e selou-se com o anel do rei; e enviaram-se as cartas por mãos de correios a cavalo, e que cavalgavam sobre ginetes, e sobre mulos, filhos de éguas:
Que o rei, aos judeus que havia em cada cidade, concedia se ajuntassem, e se pusessem em defesa de sua vida, para destruírem, matarem e lançarem a perder todas as forças de povo e província que com eles apertassem, assim a crianças como a mulheres; e de seus bens os despojassem.
E isto num mesmo dia, em todas as províncias do rei Assuero: aos treze do mês doze, que é o mês de Adar.
Era a substância da carta que uma ordem se anunciaria em todas as províncias, publicamente, a todos os povos; para que os judeus estivessem preparados aquele dia, para se vingarem de seus inimigos.
Assim os correios sobre ginetes e mulos apressadamente saíram, impelidos pela palavra do rei; e foi publicada esta ordem na fortaleza de Susã.
Então Mardoqueu saiu de diante do rei com uma veste real de azul celeste e branco, como também com uma grande coroa de ouro, e com uma capa de linho fino e púrpura; e a cidade de Susã rejubilou e se alegrou.
E para os judeus houve luz e alegria; e gozo e honra.
Também em toda e cada qual província, e em toda e cada qual cidade, aonde chegava a palavra do rei e sua ordem, havia entre os judeus alegria e gozo, banquetes e dias de folguedo; e muitos dos povos da terra se tornavam judeus, porque o temor dos judeus caíra sobre eles.
Capítulo 9
E no mês doze, que é o mês de Adar, aos treze dias do mesmo, em que chegou a palavra do rei e sua ordem para a executar; no dia em que os inimigos dos judeus esperavam ensenhorear-se deles, o contrário sucedeu, porque os judeus foram os que se ensenhorearam de seus aborrecedores.
Porque os judeus, em suas cidades em todas as províncias do rei Assuero, se ajuntaram para pôr as mãos naqueles que procuravam seu mal; e ninguém parou diante deles, porque seu terror caiu sobre todos aqueles povos.
E todos os maiorais das províncias, e os sátrapas, e os governadores, e os que faziam a obra do rei, exaltavam aos judeus; porque caíra sobre eles o temor de Mardoqueu.
Porque Mardoqueu era grande na casa do rei, e sua fama saía por todas as províncias; porque o varão Mardoqueu se ia engrandecendo.
Assim que os judeus feriram a todos seus inimigos, às cutiladas da espada, e da matança, e da perdição; e fizeram de seus aborrecedores o que quiseram.
E na fortaleza de Susã mataram e destruíram os judeus quinhentos varões;
Como também a Parsandatá, e a Dalfom, e a Aspatá;
E a Poratá, e a Adaliá, e a Aridatá;
E a Parmastá, e a Arisai, e a Aridai, e a Vaizatá.
Os dez filhos de Hamã, filho de Hamedatá, o inimigo dos judeus, mataram; porém no despojo não meteram suas mãos.
No mesmo dia veio perante o rei a quantia dos mortos na fortaleza de Susã.
E disse o rei à rainha Ester: Na fortaleza de Susã mataram e lançaram a perder os judeus a quinhentos homens, e aos dez filhos de Hamã; nas demais províncias do rei, que fariam? Qual é, pois, tua petição? E dar-se-te-á. Ou qual é ainda teu petitório? E far-se-á.
Então disse Ester: Se bem parecer ao rei, conceda-se também amanhã aos judeus que há em Susã, que façam conforme ao mandado de hoje. E enforquem aos dez filhos de Hamã numa forca.
Então disse o rei que assim se fizesse; e deu-se mandado em Susã. E enforcaram aos dez filhos de Hamã.
E ajuntaram-se os judeus que havia em Susã também aos catorze dias do mês de Adar, e mataram em Susã a trezentos homens; porém no despojo não meteram suas mãos.
Também os demais judeus que havia nas províncias do rei, se ajuntaram para se porem em defesa de sua vida, e terem repouso de seus inimigos; e mataram de seus aborrecedores a setenta e cinco mil. Porém no despojo não meteram suas mãos.
Sucedeu isto aos treze dias do mês de Adar; e repousaram aos catorze do mesmo, e fizeram aquele dia, dia de banquetes e de alegria.
Também os judeus que havia em Susã se ajuntaram aos treze e catorze do mesmo; e repousaram aos quinze do mesmo, e fizeram aquele dia, dia de banquetes e de alegria.
Pelo que os judeus das aldeias, que habitavam nas vilas, fizeram ao dia catorze do mês de Adar, dia de alegria e de banquetes, e dia de folguedo; e de mandarem uns aos outros presentes.
E Mardoqueu escreveu esses sucessos; e enviou cartas a todos os judeus que havia em todas as províncias do rei Assuero, assim aos de perto como aos de longe;
Ordenando-lhes que guardassem o dia catorze do mês de Adar, e o dia quinze do mesmo: em todos e em cada um dos anos;
Conforme aos dias em que os judeus tiveram repouso de seus inimigos, e ao mês que se lhes mudou de tristeza em alegria, e de luto em dia de folguedo; para que os fizessem dias de banquetes e de alegria, e de mandarem uns aos outros presentes, e aos pobres dádivas.
E aceitaram os judeus de fazerem o que já tinham começado; como também o que Mardoqueu lhes escrevera.
Porquanto Hamã, filho de Hamedatá, o agagita, de todos os judeus inimigo, intentara lançar a perder aos judeus; e lançara “pur” – isto é, sorte – para os assolar e lançar a perder.
Mas vindo isto perante o rei, mandou ele, por cartas, que seu mau intento, que intentara contra os judeus, tornasse sobre sua cabeça; pelo que enforcaram a ele e a seus filhos numa forca.
Por isso aqueles dias se chamam “purim”, do nome “pur”, pelo que também por causa de todas as palavras daquela carta; e do que viram sobre isso, e do que lhes sobreviera.
Confirmaram os judeus, e tomaram sobre si, e sobre sua semente, e sobre todos os que se achegassem a eles, que não se deixaria de guardarem estes dois dias, conforme ao que se escrevera deles, e segundo seu tempo determinado: em todos e em cada um dos anos.
E que estes dias seriam lembrados e guardados em toda e cada geração, cada família, cada província, e cada cidade; e que estes dias de “purim” se não traspassariam entre os judeus, e que sua lembrança nunca teria fim entre os de sua semente.
Depois disto, escreveu a rainha Ester, filha de Abiail, e Mardoqueu, o judeu, com toda força; para confirmarem segunda vez esta carta de “purim”.
E mandaram cartas a todos os judeus, às cento e vinte e sete províncias do reino de Assuero; com palavras de paz e fidelidade;
Para confirmarem estes dias de “purim” em seus tempos determinados, como Mardoqueu, o judeu, e a rainha Ester, lhes confirmara, e como eles mesmos já o confirmaram sobre si e sobre sua semente: acerca do jejum e de seu clamor.
E o mandado de Ester confirmou os sucessos daquele “purim”; e escreveu-se num livro.
Capítulo 10
Depois disto, pôs o rei Assuero tributo sobre a terra, e sobre as ilhas do mar.
E todas as obras de seu poder e de valor, e a declaração da grandeza de Mardoqueu, a quem o rei engrandeceu; porventura não estão escritas no livro das crônicas dos reis da Media e da Pérsia?
Porque o judeu Mardoqueu foi o segundo depois do rei Assuero, e grande para com os judeus, e agradável para com a multidão de seus irmãos; que procurava o bem de seu povo, e falava pela prosperidade de toda sua nação.