Capítulo 1
- Palavras do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém.
- Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades, tudo é vaidade!
- Que vantagem tem o homem, de todo seu trabalho com que trabalha debaixo do sol?
- Geração vai, e geração vem; porém a terra para sempre permanece.
- E sai o sol, e põe-se o sol; e aspira a seu lugar, de onde nasceu.
- Vai ao sul, e rodeia para o norte; continuamente vai rodeando o vento, e a seus rodeios torna o vento.
- Todos os ribeiros vão ao mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar aonde os ribeiros vão, em lá chegando, se tornam eles.
- Todas estas coisas se cansam tanto, que ninguém o pode declarar: os olhos não se fartam de ver, nem se enchem os ouvidos de ouvir.
- O que foi, isso será, e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há novo debaixo do sol.
- Há coisa alguma de que se possa dizer: Vês isto, pois é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós outros.
- Já não há lembrança das coisas que precederam; e das coisas que hão de ser, também delas não haverá lembrança nos que houverem de ser depois de nós.
- Eu, o pregador, fui rei sobre Israel em Jerusalém.
- E dei meu coração a esquadrinhar, e me informar com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu. Esta enfadonha ocupação deu Deus aos filhos dos homens, para nela os entreter.
- Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol; e eis que tudo era vaidade, e aflição de espírito.
- O torcido não se pode endireitar; o defeituoso não se pode contar.
- Falei eu com meu coração, dizendo: Eis que eu me engrandeci, e aumentei em sabedoria, sobre todos os que houve antes de mim em Jerusalém. E meu coração viu multidão de sabedoria e ciência.
- E dei meu coração a entender sabedoria e ciência, como também desvarios e doidices; e por fim, vim a saber que também isto era aflição de espírito.
- Porque na muita sabedoria, há muito enfadamento; e o que se aumenta em ciência, aumenta para si moléstia.
Capítulo 2
- Disse eu também em meu coração: Agora eia, que provar-te-ei com alegria; pelo que atenta para o bem! Porém eis que também isto era vaidade.
- Ao riso eu disse: Estás doido! E à alegria: De que serve esta?
- Busquei em meu coração, como me daria ao vinho – regendo porém meu coração com sapiência – e como reteria a loucura, até ver o que seria melhor que os filhos dos homens fizessem debaixo do céu, durante o número dos dias de sua vida.
- Fiz para mim obras magníficas; edifiquei-me casas, plantei-me vinhas.
- Fiz-me hortas e jardins, e plantei nelas árvores de toda sorte de fruta.
- Fiz-me tanques de águas, para regar com eles o bosque em que reverdeciam as árvores.
- Adquiri servos e servas, e filhos de minha casa tive. Também tive grande possessão de vacas e ovelhas, mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém.
- Ajuntei-me também prata e ouro, e jóias de reis e províncias; provi-me de cantores e cantoras, e delícias de filhos de homens, de instrumentos de música, e de toda sorte de semelhantes instrumentos.
- E mais me engrandeci e aumentei que todos quantos houve antes de mim em Jerusalém. Mais que isso, minha sabedoria ficou comigo.
- E tudo quanto desejaram meus olhos, não lhes neguei. Nem retive meu coração de alegria alguma, mas meu coração se alegrou de todo meu trabalho; e esta foi minha parte de todo meu trabalho.
- E atentei eu para todas as obras que fizeram minhas mãos, como também para o trabalho de obrei trabalhando; e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que satisfação nenhuma havia debaixo do sol.
- Então atentei eu a ver a sabedoria, e também os desvarios e a doidice. Porque que homem haverá que possa seguir ao rei no que já está feito?
- Então vi eu que a sabedoria é mais excelente do que a loucura, como a luz mais excelente é que as trevas.
- Os olhos do sábio estão em sua cabeça, mas o louco anda em trevas. Também então entendi eu que o mesmo sucedido lhes sucede a todos.
- Pelo que eu disse em meu coração: Como suceder ao louco, assim me sucederá a mim; por que, então, eu mais busquei a sabedoria? Então disse em meu coração que também isto era vaidade.
- Porque nunca haverá mais lembrança do sábio que do louco. Porquanto de tudo quanto agora há, nos dias futuros totalmente esquecimento haverá; e como morre o sábio com o louco!?
- Pelo que aborreci esta vida, porque a obra que se faz debaixo do sol me parece má; porque tudo é vaidade e aflição de espírito.
- Também eu aborreci todo meu trabalho, em que eu trabalhei debaixo do sol; porquanto o deixarei a outro homem, que virá depois de mim.
- Porque quem sabe se será sábio, ou louco? E todavia se fará senhor sobre todo meu trabalho em que trabalhei, e que sabiamente adiante levei debaixo do sol. Também isto é vaidade.
- Pelo que eu me apliquei a fazer que meu coração perdesse a esperança: a esperança de todo o trabalho em que trabalhei debaixo do sol.
- Porque há homem que trabalha com sabedoria, e ciência, e destreza. E todavia deixará seu trabalho, como sua parte, a homem que não trabalhou nele: também isto é vaidade e grande enfadamento.
- Porque que mais tem o homem de todo seu trabalho e fadiga de seu coração, em que ele anda trabalhando debaixo do sol?
- Porque todos seus dias são dores; e sua ocupação, moléstia; até de noite não descansa seu coração. Também isto é vaidade.
- Não é, pois, bom para o homem que coma e beba, e que faça a sua alma desfrutar do bem de seu trabalho? Também eu vi que isto vem da mão de Deus.
- (Porque quem disto comeria melhor, ou quem se apressaria a isso melhor do que eu?)
- Porque, para o homem que é bom perante sua face, Deus dá sabedoria, e ciência, e alegria. Porém ao pecador, dá ocupação, para ajuntar e recolher, para o dar ao que é bom perante sua face; também isto é vaidade e aflição de espírito.
Capítulo 3
- Tudo tem seu tempo determinado; e todo intento debaixo do céu tem seu tempo.
- Tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que foi plantado.
- Tempo de ferir, e tempo de curar; tempo de derribar, e tempo de edificar.
- Tempo e chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar.
- Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar.
- Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora.
- Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de calar, e tempo de falar.
- Tempo de amar, e tempo de aborrecer; tempo de guerra, e tempo de paz.
- Que mais vantagem tem o que obra, daquilo em que trabalha?
- Tenho visto a ocupação que Deus deu aos filhos dos homens, para com ela os afligir.
- Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs os séculos no coração deles, sem que contudo o homem possa alcançar a obra que Deus fez desde o princípio até o fim.
- Já bem tenho advertido, que não há coisa melhor para eles: coisa melhor do que alegrar-se, e fazer o bem em sua vida.
- Como também que todo homem coma e beba, e goze do bem de todo seu trabalho: isto é particular dom de Deus.
- Bem sei eu que tudo quanto Deus faz, isso durará eternamente; nada se lhe deve acrescentar, e nada dele se deve diminuir. E isto faz Deus, para que haja temor perante sua face.
- O que houve outrora, ainda o há agora; e o que houver de ser, já foi. E Deus torna a buscar ao que já foi empurrado.
- Vi mais debaixo do sol que, no lugar do juízo, havia ali impiedade; e que no lugar da justiça, ali também havia impiedade.
- Eu disse em meu coração: Ao justo e ao ímpio há de julgar Deus. Porque ali há de ser o tempo para o julgar de todo intento, e sobre toda obra.
- Disse eu também em meu coração, acerca do estado dos filhos dos homens, que Deus lhes declararia; sim, que eles bem o veriam que são como as bestas em si mesmos.
- Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede às bestas, e o mesmo sucede a eles ambos: como morre um, assim morre o outro; e todos a mesma respiração têm. E a vantagem dos homens sobre as bestas é nenhuma; porque todos são vaidade.
- Todos vão a um mesmo lugar: foram todos tomados do pó, e ao pó todos se tornarão.
- Quem adverte que a respiração dos filhos dos homens para cima sobe, e que a respiração das bestas desce para debaixo da terra?
- Assim que bem tenho visto que não há coisa melhor do que alegrar-se o homem acerca de suas próprias obras, porque essa é sua parte. Porque quem o levará a ver o que será depois dele?
Capítulo 4
- Depois me virei, e atentei para todas as opressões que se fazem debaixo do sol. E eis que vi as lágrimas dos oprimidos, e dos que não têm consolador; e a força estava do lado de seus opressores, porém eles não tinham consolador.
- Pelo que eu louvei aos mortos que já morreram: louvei-os mais do que aos vivos, que vivem ainda.
- E ainda melhor que estes ambos é aquele que ainda não foi; que não viu as más obras que se fazem debaixo do sol.
- Também vi eu que todo o trabalho, e toda a destreza em obras, atrai ao homem a inveja de seu próximo: também isto é vaidade, e aflição de espírito.
- O louco ajunta suas mãos, e come sua própria carne.
- Porém melhor é uma mão cheia, com descanso; do que ambos os punhos cheios, com trabalho e aflição de espírito.
- Outra vez me tornei a virar, e vi outra vaidade debaixo do sol:
- Que homem há que está só, e não tem sucessor, nem tampouco filho, nem irmão; e de todo seu trabalho não há fim, nem seus olhos se fartam de riquezas. Nem diz: Para quem trabalho eu, e faço ter falta a minha alma de tanto bem? Também isto é vaidade, e enfadonha ocupação.
- Melhores são dois, do que um; porque têm melhor paga de seu trabalho.
- Porque se vierem a cair, um levanta ao outro. Mas ai do que é só, pois caindo, não haverá segundo que o levante.
- Também se dois dormirem juntos, ambos se aquentarão; mas o que é só, como se aquentará?
- E se alguém prevalecer contra um, os dois bastarão contra ele; porque o cordão de três dobras não se quebra tão depressa.
- Melhor é o rapaz pobre e sábio, do que o rei velho e louco que não se deixa admoestar.
- Porque tal homem há que sai do cárcere para reinar; e outro tal há que, nascendo em seu reino, por fim empobrece.
- Também vi a todos os viventes andar debaixo do sol, após o rapaz sucessor que o sucederá em seu lugar.
- Não tem fim todo o povo, todo o que houve antes deles; tampouco os descendentes se alegrarão acerca dele. Na verdade que também isto é vaidade, e aflição de espírito.
Capítulo 5
- Guarda bem teu pé, quando entrares na casa de Deus; e chega-te antes para ouvir, do que para oferecer sacrifícios de loucos. Pois não sabem estes que fazem mal.
- Não te precipites com tua boca, nem teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma perante a face de Deus. Porque Deus está nos céus, e tu estás sobre a terra; pelo que tuas palavras sejam poucas.
- Porque como da muita ocupação vêm os sonhos, assim também a voz do louco da multidão das palavras.
- Quando a Deus votares algum voto, não tardes em pagá-lo; porque não se agrada de loucos. Assim que, o que votares, cumpre.
- Melhor é que não votes, do que votares e não cumprires.
- Não consintas que a tua boca faça pecar a tua carne; nem digas perante a face do anjo que o voto foi erro. E por que farias irar tanto a Deus com tua voz, de modo que ele destruísse a obra de teus mãos?
- Porque como na multidão dos sonhos há muitas vaidades, assim também nas muitas palavras; mas teme a Deus.
- Se opressão de pobres, e violência do direito e da justiça, vires nalguma província, não te maravilhes de semelhante caso. Porque aquele que mais alto é que os tais altos, nisso atenta; e há mais altos que eles.
- O proveito da terra é para todos, e até o rei se serve do campo.
- O que amar o dinheiro, nunca se fartará do dinheiro; e quem amar a abundância, nunca se contentará com a renda. Também isto é vaidade.
- Lá onde a fazenda de multiplica, ali se multiplicam também os que a comem. Que mais proveito, pois, têm seus donos, do que a verem com seus olhos?
- Doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco, quer muito; porém a fartura do rico não o deixa dormir.
- Há outro mal que vi debaixo do sol, e que atrai enfermidades: as riquezas que seus donos guardam para seu próprio mal.
- Porque as mesmas riquezas se perdem com enfadonhas ocupações; e gerando algum filho, nada lhe fica em sua mão.
- Como saiu do ventre de sua mãe, assim nu se tornará, indo-se como veio; e nada tomará de seu trabalho, para levar em sua mão.
- Assim que também isto é um mal, que atrai enfermidades: que infalivelmente, como o homem veio, assim se vai. E que proveito lhe vem de trabalhar ao vento?
- E de haver comido todos seus dias em trevas? E de padecer tanto enfadamento, e enfermidade, e cruel furor?
- Eis aqui o que eu vi ainda, uma boa e formosa coisa: o homem comer e beber, e desfrutar do bem de todo seu trabalho, em que trabalhou debaixo do sol, durante o número dos dias de sua vida, que Deus lhe deu. Porque está é sua parte.
- E todo homem a quem Deus deu riquezas e fazenda, e lhe deu poder para comer delas, e tomar sua parte, e assim desfrutar de seu trabalho; também isto é dom de Deus.
- Porque não se lembrará muito dos dias de sua vida, porquanto Deus lhe responde com a alegria do seu coração.
Capítulo 6
- Há ainda outro mal que vi debaixo do sol, e que mui frequente é entre os homens:
- Homem a quem Deus deu riquezas, fazenda e honra, e nada lhe falta de tudo quanto sua alma deseja; e Deus não lhe dá poder para daí comer; antes, o estranho lho come. Também isto é vaidade, e mal trabalhoso.
- Se o tal homem houvesse gerado cem filhos, e vivido muitos anos, e os dias de seus anos sido muitos, porém sua alma não se fartasse do bem, e também não tivesse sepultara; digo que o aborto é melhor que ele.
- Porquanto em vão veio, e às trevas se vai; e em trevas se encobre seu nome.
- E ainda que nunca viu o sol, nem o conheceu; contudo mais descanso tem que o tal.
- E ainda que vivesse mil anos duas vezes, e não visse o bem; porventura não vão todos ao mesmo lugar?
- Todo trabalho do homem é para sua boca; e contudo, nunca sua cobiça se enche.
- Porque, que mais tem o sábio do que o louco? E que mais tem o pobre, que sabe andar perante os vivos?
- Melhor é a vista de olhos, do que o vaguear da cobiça. Também isto é vaidade, e aflição de espírito.
- Seja lá o que qualquer for, já seu nome foi nomeado, e bem se sabe que é homem como os outros; e que não pode contender com o que é mais forte que ele.
- Na verdade que há muitas coisas que multiplicam a vaidade. E que mais tem o homem com elas?
- Porque quem sabe o que é bom nesta vida para o homem, durante o número dos dias da vida de sua vaidade, os quais gasta como sombra? Porque quem declarará ao homem o que é que se passará depois dele debaixo do sol?
Capítulo 7
- Melhor é a boa fama do que o melhor unguento, e o dia da morte do que o dia do nascimento de alguém.
- Melhor é ir à casa do pranto do que ir à casa do banquete, porque naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos o tomam em seu coração.
- Melhor é o luto que o riso; porque com a tristeza do rosto se emenda o coração.
- O coração dos sábios está na casa do pranto; mas o coração dos loucos, na casa da alegria.
- Melhor é ouvir a repreensão dos sábios, do que ouvir alguém a canção dos loucos.
- Porque qual é o ruído dos espinhos debaixo de uma panela, tal é também o riso do louco; e também isto é vaidade.
- Verdadeiramente, a opressão faria endoidecer até ao sábio; e o suborno corrompe o coração.
- Melhor é o fim das coisas do que o princípio delas; e melhor é o longânime do que o altivo de coração.
- Não te apresses em teu espírito, para te irares; porque a ira no seio dos loucos repousa.
- Nunca digas: Qual a razão por que os tempos passados foram melhores que estes? Porque nunca acerca disto perguntarias com sabedoria.
- Boa é a sabedoria com a herança; e os que ao sol vêem, tiram proveito dele.
- Porque de sombra serve a sabedoria, e de sombra serve o dinheiro; mas a excelência da ciência, é que a sabedoria dá vida a seus possuidores.
- Atenta para a obra de Deus; porque quem poderá endireitar o que ele entortou?
- No dia da prosperidade, desfruta do bem; mas no dia da adversidade, bem atenta. Porque também Deus faz a um diante do outro; para que o homem nada ache do que haverá depois dele.
- Tudo isto também vi nos dias de minha vaidade: que justo há que perece em sua justiça, e ímpio há que prolonga em sua maldade.
- Não sejas justo demasiado, nem sejas demasiadamente sábio: para que a ti mesmo te assolarias?
- Não sejas ímpio demasiado, nem sejas demasiado louco: para que morrerias antes de teu tempo?
- Bom é que retenhas isto, e também disto não retires tua mão; porque quem teme a Deus, escapa de tudo isto.
- A sabedoria fortalece ao sábio: fortalece-o mais do que dez dominadores que haja na cidade.
- Em verdade que não há homem tão justo sobre a terra; tão justo que faça o bem, e nunca peque.
- Tampouco apliques teu coração a todas as palavras que te falarem; para que não venhas a ouvir que teu servo te amaldiçoa.
- Porque teu coração bem sabe; bem sabe que também tu muitas vezes amaldiçoaste a outros.
- Tudo isto inquiri com sabedoria. E disse: Sabedoria adquirirei; mas ela ainda estava longe de mim.
- O que longe está; longe, e profundíssimo, quem o achará?
- Eu rodeei, e também meu coração, para saber, e inquirir, e buscar a sabedoria e a razão; e para saber a impiedade da loucura, e a doidice dos desvarios.
- E eu achei uma coisa mais amarga que a morte: a mulher cujo coração são redes e laços, e suas mãos ataduras. Quem for bom perante a face de Deus, escapará dela; mas o pecador virá a ser preso por ela.
- Eis que isto achei, diz o pregador; olhando as coisas uma a uma, para assim achar a razão delas.
- O que ainda busca minha alma, porém ainda não o achei: um homem entre mil achei, mas uma mulher entre todas estas não achei.
- Eis que tão somente isto achei: que Deus fez ao homem reto. Porém eles buscaram muitas invenções.
Capítulo 8
- Quem semelhante ao sábio é? E quem sabe a interpretação das coisas? A sabedoria do homem ilumina sua face, e a aspereza de seu rosto se muda por meio dela.
- Eu digo, atenta para a boca do rei; porém segundo a palavra do juramento que fizeste a Deus.
- Não te apresses a te ires de diante de sua face, nem persistas nalguma coisa má; porquanto tudo quanto quer, faz.
- Onde quer que há palavra do rei, aí está o senhorio. E quem lhe dirá: Que fazes?
- Quem guardar o mandamento, não experimentará nenhum mal; e o tempo e o modo, bem o saberá o coração do sábio.
- Porque para todo intento há tempo e modo; porquanto o mal do homem é muito sobre ele.
- Porque não sabe o que há de suceder; e quando haja de suceder, quem lho dará a entender?
- Nenhum homem há que tenha domínio sobre seu espírito, para reter ao mesmo espírito; nem tampouco domínio sobre o dia da morte, como também nem armas nesta peleja. Nem tampouco a impiedade livrará a seus donos.
- Tudo isto vi quando pus meu coração em toda obra que se faz debaixo do sol. Tempo há também em que um homem se faz senhor do outro, para seu mal.
- Assim também vi aos ímpios sepultados, como também aos que vinham e saíam do lugar santo; que foram esquecidos na cidade, em que fizeram bem. Também isto é vaidade.
- Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra; por isso o coração dos filhos dos homens está cheio neles, para fazer o mal.
- Ainda que o pecador faça mal cem vezes, e os dias se lhe prolonguem; contudo, bem sei eu que há de ir bem aos que temem a Deus, aos que temerem perante sua face.
- Porém ao ímpio, não irá bem, e não prolongará os dias, e será como a obra; porquanto perante a face de Deus não teme.
- Ainda há outra vaidade que se faz sobre a terra: que há justos a quem sucede segundo as obras dos ímpios, e há ímpios a quem sucede segundo as obras dos justos. Digo, pois, que também isto é vaidade.
- Assim que louvei eu a alegria, porquanto o homem não tem coisa nenhuma melhor debaixo do sol, do que comer e beber, e alegrar-se; porque isso se lhe apegará de seu trabalho durante os dias de sua vida, que Deus lhe dá debaixo do sol.
- Dando eu meu coração a entender sabedoria, e a ver a ocupação que se faz sobre a terra; que nem de dia, nem de noite, vê o homem sono em seus olhos;
- Então vi, acerca de toda a obra de Deus, que o homem não pode alcançar a obra que se faz debaixo do sol; pela qual trabalha o homem para a buscar, porém não a achará. E ainda que diga o sábio que a virá a saber, nem por isso a poderá alcançar.
Capítulo 9
- De fato, tudo isto pus em meu coração, para claramente entender tudo isto: que os justos, e os sábios, e suas obras, estão nas mãos de Deus. Como também que não conhece o homem nem o amor, nem o ódio, por tudo o que passa perante sua face.
- Tudo sucede a uns como a todos os outros; o mesmo sucede ao justo, e ao ímpio; ao bom e ao puro, como ao impuro; tanto ao que sacrifica, como ao que não sacrifica. Tanto ao bom, como ao pecador; tanto ao que jura, como ao que teme o juramento.
- Este mal há também entre tudo quanto se faz debaixo do sol: que a todos suceda o mesmo. E que também o coração dos filhos dos homens esteja cheio de maldade, e que haja desvarios em seu coração durante sua vida; e depois se vão aos mortos.
- Porque, para o que se acompanha com todos os vivos, ainda há esperança – porque melhor é o cão vivo, do que o leão morto.
- Porque os vivos bem sabem que hão de morrer. Mas os mortos, estes não sabem coisa alguma, nem tampouco mais têm paga; mas já não há lembrança em sua memória.
- Até seu amor, até seu ódio, e até sua inveja já pereceu; e já não têm parte nenhuma neste século, em tudo quanto se faz debaixo do sol.
- Vai pois, e come com alegria teu pão, e bebe com bom coração teu vinho; pois já Deus se agrada de tuas obras.
- Em todo tempo sejam alvas tuas vestes, e nunca falte óleo sobre tua cabeça.
- Desfruta da vida, com a mulher que amas, todos os dias da vida de tua vaidade, que Deus te deu debaixo do sol: todos os dias de tua vaidade. Porque esta é tua parte nesta vida, como também de teu trabalho, em que tu trabalhaste debaixo do sol.
- Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme a tuas forças; porque já na sepultura, para onde tu vais, não há obra, nem invento, nem ciência, nem sabedoria alguma.
- Voltei-me ainda, e vi debaixo do sol que não é dos ligeiros a corrida, nem dos heróis a peleja, nem tampouco dos sábios o pão, nem tampouco dos prudentes as riquezas, nem tampouco dos entendidos a graça; mas que tempo e ocorrência sucede a todos estes.
- Como também que o homem não sabe seu tempo, como os peixes que se pescam com a maligna rede, e como os passarinhos que se prendem com o laço. Assim como estes, se enlaçam também os filhos dos homens no tempo mau, quando cai de repente sobre eles o laço.
- Também vi esta sabedoria debaixo do sol, que foi para comigo grande:
- E é que houve uma pequena cidade, em que havia poucos homens; e veio contra ela um grande rei, e cercou-a, e levantou contra ela grandes tranqueiras.
- E se achou nela um homem pobre sábio, que livrou aquela cidade com sua sabedoria; e ninguém se lembrava daquele pobre homem.
- Então disse eu: Melhor é a sabedoria do que a força. Ainda que a sabedoria do pobre foi desprezada, e suas palavras não foram ouvidas.
- As palavras dos sábios com quietude se devem ouvir, mais que o clamor do que domina sobre os loucos.
- Melhor é a sabedoria do que as armas de guerra; porém um só pecador destrói muitos bens.
Capítulo 10
- Como as moscas mortas fazem feder e evaporar o unguento do perfumador, assim o faz ao célebre em sabedoria e em honra um pouco de loucura.
- O coração do sábio está à sua destra; mas o coração do louco, à sua esquerda.
- E até quando o louco vai pelo caminho, seu coração lhe falta; e diz a todos que é louco.
- Levantando-se contra ti o espírito do que domina, não deixes teu lugar; porque é medicina que aquieta grandes pecados.
- Ainda um mal há que vi debaixo do sol, como o erro que procede da face do que domina:
- Ao louco assentam em grandes alturas, mas os ricos estão assentados na baixeza.
- Vi servos a cavalo, e príncipes que andavam a pé como servos sobre a terra.
- Quem cavar cova, nela cairá; e quem romper muro, cobra o morderá.
- Quem transportar pedras, padecerá dores por elas; e o que fender lenha, perigará por ela.
- Se alguém embotou o ferro, e ele não amolar o corte, então se devem pôr mais forças; mas excelente coisa é a sabedoria para endireitar alguma coisa.
- Se a cobra morder, não encantada; já então remédio nenhum se espera do encantador, por mais eloquente que seja.
- As palavras da boca do sábio agradam, porém os lábios do louco o devoram.
- O princípio das palavras de sua boca é loucura; e o fim de suas razões, um desvario bem ruim.
- O louco bem multiplica as palavras. Porém o homem não sabe o que é que há de ser; e quem lhe fará saber o que será depois dele?
- O trabalho dos loucos a cada qual deles fadiga; porquanto não sabem ir à cidade.
- Ai de ti, ó terra, cujo rei é menino; e cujos príncipes já comem de manhãzinha.
- Bem-aventurada tu, ó terra, cujo rei é filho dos nobres; e cujos príncipes comem a seu tempo, para tomarem forças, e não para se embebedarem.
- Pela muita preguiça, desaba o teto; e pela frouxidão das mãos, goteja a casa.
- Para rir se fazem banquetes, e o vinho alegra aos vivos; e por tudo, o dinheiro responde.
- Nem ainda em teu pensamento amaldiçoes ao rei; nem tampouco no mais íntimo de tua recâmara amaldiçoes ao rico. Porque as aves dos céus viriam a levar a voz, e os que têm asas fariam saber a palavra.
Capítulo 11
- Lança teu pão sobre as águas; que depois de muitos dias, o acharás.
- Dá uma parte a sete, e mesmo até a oito; porque não sabes que mal haverá sobre a terra.
- Estando as nuvens cheias, vazam a chuva sobre a terra; ainda que então a árvore caia para o sul, ou para o norte. No lugar em que a árvore cair, ali ficará.
- Quem atentar para o vento, nunca semeará; e o que olhar para as nuvens, nunca segará.
- Como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se formam os ossos no ventre da mulher prenhe; assim também tu não sabes as demais obras de Deus, o qual faz todas as coisas.
- Pela manhã semeia tua semente, e à tarde não retires tuas mãos disso; porque tu não sabes qual será mais conveniente: se isto, se aquilo. Ou se ambas estas coisas serão igualmente boas.
- De fato, suave é a luz; e agradável aos olhos ver o sol.
- Porém se o homem viver muitos anos, e em todos eles se alegrar; também deve se lembrar dos dias das trevas, porque hão de ser muitos, e tudo quanto lhe sucedeu é vaidade.
- Alegra-te, rapaz, em tua adolescência; e recreie-te teu coração nos dias de tua mocidade; e caminha nos caminhos de teu coração, e na vista de teus olhos. Sabe porém que, por todas estas coisas, te trará Deus ao juízo.
- Assim que desvia a ira de teu coração, e tira de tua carne o mal; porque a adolescência e a juventude são vaidade.
Capítulo 12
- Lembra-te, portanto, de teu Criador nos dias de tua mocidade. Antes que venham os maus dias, e cheguem os ruins anos, dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento.
- Antes que se escureçam o sol, e a luz, e a lua, e as estrelas; e retornem as nuvens após a chuva.
- No dia em que tremerem os guardas da casa, e se encurvarem os fortes varões; e cessarem os moedores, porquanto já se tiverem diminuído, e se escurecerem os que olham pelas janelas.
- E as duas portas da rua se fecharem, por causa do baixo ruído da moedura; e ele se levantar à voz das aves, e todas as vozes do canto se lhe abaixarem.
- Como também quando temerem os lugares altos, e houver espantos nos caminhos; e florescer a amendoeira, e o gafanhoto se carregar a si mesmo, e perecer o apetite. Porque o homem se vai à sua eterna casa, e os pranteadores andarão rodeando pela praça.
- Assim que, antes que se afrouxe o cordão de prata, e se despedace a copa de ouro; e se quebre o cântaro sobre a fonte, e se despedace a roda junto ao poço;
- E o pó se torne à terra, como era outrora; e o espírito se torne a Deus, que o deu.
- Vaidade de vaidades, diz o pregador, tudo é vaidade.
- E quanto mais o pregador foi sábio; tanto mais sabedoria ao povo ensinou, e atentou, e esquadrinhou, e compôs muitos provérbios.
- Procurou o pregador achar palavras agradáveis; e o aqui escrito, é a própria retidão, e são palavras de verdade.
- As palavras dos sábios são como aguilhões, e como pregos, bem afixados pelos mestres das congregações; as quais nos foram dadas pelo único Pastor.
- E demais disso, filho meu, atenta: não há fim de fazer muitos livros; e o muito ler, enfadamento é da carne.
- De tudo o que se tem ouvido, o fim do discurso é: Teme a Deus, e guarda seus mandamentos, porque isto é o dever de todo o homem.
- Porque Deus há de trazer a juízo toda obra, e até tudo o que está encoberto; quer seja bem, quer seja mal.