Capítulo 1
- Começo do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.
- Como está escrito nos profetas: Eis que eu envio meu anjo diante de tua face, que prepare teu caminho diante de ti.
- Voz do que brada no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas.
- Batizava João no deserto, e pregava o batismo de arrependimento para remissão dos pecados.
- E saía a ele toda a província da Judeia, e os de Jerusalém; e eram todos batizados por ele no rio do Jordão, confessando seus pecados.
- E andava João vestido de pelos de camelo, e com um cinto de couro ao redor de seus lombos; e comia gafanhotos, e mel montesinho.
- E pregava, dizendo: Após mim vem aquele que é mais forte que eu, do qual eu não sou digno de, curvando-me, desatar a correia de seus sapatos.
- Eu vos tenho, em verdade, batizado com água; mas ele vos batizará com Espírito Santo.
- E aconteceu naqueles dias que veio Jesus desde Nazaré, da Galileia, e foi batizado por João no Jordão.
- E logo subindo da água, viu abrirem-se os céus, e o Espírito que, como pomba, descia sobre ele.
- E ouviu-se uma voz dos céus: Tu és meu filho amado, em quem tenho meu contentamento.
- E logo o Espírito o levou ao deserto.
- E esteve ali no deserto quarenta dias; e era tentado por Satanás, e estava com as feras, mas os anjos o serviam.
- Porém depois que João foi entregue, veio Jesus a Galileia, pregando o evangelho do reino de Deus;
- E dizendo: O tempo é cumprido, e o reino de Deus está perto; convertei-vos, e crede no evangelho.
- E passando junto ao mar da Galileia, viu a Simão, e a André, seu irmão, os quais lançavam a rede ao mar; porque eram pescadores.
- E disse-lhes Jesus: Vinde após mim, e farei que sejais pescadores de homens.
- E eles, deixando logo suas redes, o seguiram.
- E passando dali um pouco mais adiante, viu a Tiago, filho de Zebedeu, e a João, seu irmão, que também estavam no barco arranjando suas redes.
- E logo os chamou; e eles, deixando a seu pai Zebedeu no barco com os empregados, foram após ele.
- E entraram em Cafarnaum. E logo no sábado, entrando ele na sinagoga, ensinava.
- E espantavam-se acerca de sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas.
- E havia na sinagoga deles um homem com espírito imundo, o qual bradou,
- Dizendo: Ah! Que tens conosco, ó Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Bem sei quem és: o santo de Deus!
- E repreendeu-o Jesus, dizendo: Emudece, e sai dele!
- E despedaçando-o o espírito imundo, e bradando com grande voz, saiu dele.
- E de tal maneira se maravilharam todos, que inquiriram entre si, dizendo: Que é isto? Que nova doutrina é esta que, com autoridade, até aos espíritos imundos manda, e lhe obedecem?
- E logo sua fama saiu por toda a província ao redor da Galileia.
- E saindo logo da sinagoga, vieram à casa de Simão, e de André, com Tiago e João.
- E a sogra de Simão estava deitada, com febre; e disseram-lhe logo a respeito dela.
- Então chegando ele, tomou-a pela mão, e levantou-a; e logo a febre a deixou, e servia-lhes.
- E quando já entardecia, sendo o sol já posto, traziam-lhe a todos os que tinham algum mal, e aos endemoninhados.
- E toda a cidade se ajuntou à porta.
- E sarou a muitos que estavam enfermos de diversas enfermidades, e lançou fora a muitos demônios; e não deixava os demônios dizer, porque o conheciam.
- E levantando-se bem de manhã, sendo ainda de noite, saiu e foi-se a um lugar deserto; e ali orava.
- E seguiu-o Simão, e também os que com ele estavam.
- E achando-o, disseram-lhe: Todos te andam buscando.
- E ele lhes disse: Vamos às aldeias vizinhas, para que pregue ali também; porque para isto eu vim.
- E pregava nas sinagogas deles, em toda a Galileia; e lançava fora aos demônios.
- E veio um leproso a ele, rogando-lhe. E posto de joelhos diante dele, disse-lhe: Se quiseres, tu podes me limpar!
- E Jesus, , estendeu sua mão, e tocou-o. E disse-lhe: Quero, sê limpo!
- E havendo ele dito isto, logo a lepra se foi embora dele; e ele ficou limpo.
- E censurando-o rigorosamente, logo o despediu de si.
- E disse-lhe: Olha que não digas nada a ninguém; mas vai, mostra-te ao sacerdote, e oferece por tua limpeza aquilo que Moisés mandou, para que lhes seja por testemunho.
- Mas ele, tendo saído, começou a pregar muitas coisas, e a divulgar o negócio; de maneira que já não podia entrar publicamente na cidade, mas estava do lado fora, em lugares desertos. E de todas as partes, vinham a ele.
Capítulo 2
- E passados alguns dias, entrou outra vez em Cafarnaum; e ouviu-se que estava em casa.
- E logo se ajuntaram tantos, que já não cabiam nem mesmo junto ao lugar perto da porta; e falava-lhes a palavra.
- Então vieram a ele uns que traziam um paralítico, às costas de quatro homens.
- E como não puderam chegar a ele, por causa da multidão, descobriram o telhado onde ele estava; e fazendo um buraco, abaixaram por ele o leito em que o paralítico estava deitado.
- E vendo Jesus a fé deles, disse ao paralítico: Filho, os teus pecados te são perdoados.
- E estavam ali assentados alguns dos escribas, os quais, pensando em seus corações, diziam:
- Por que fala este blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão só Deus?
- E conhecendo logo Jesus, em seu espírito, que pensavam isto entre si, disse-lhes: Por que pensais estas coisas em vossos corações?
- Qual é mais fácil? Dizer ao paralítico “teus pecados te são perdoados”, ou dizer-lhe “levanta-te, e toma teu leito, e anda”?
- Pois, para que saibais que o Filho do homem tem poder na terra para perdoar pecados, disse então ao paralítico:
- A ti te digo: Levanta-te, e toma teu leito, e vai-te para tua casa.
- Então ele se levantou logo e, tomando seu leito, saiu-se diante de todos; de tal maneira que todos se espantaram, e glorificaram a Deus, dizendo: Nunca tal vimos!
- E tornou-se a sair para o mar; e todo o povo vinha a ele, e ele os ensinava.
- E indo ele passando, viu a Levi, o filho de Alfeu, assentado na alfândega. E disse-lhe: Segue-me; e levantando-se ele, seguiu-o.
- E aconteceu que, estando Jesus à mesa em sua casa, muitos publicanos e pecadores estavam também à mesa juntamente com Jesus, e com seus discípulos; porque havia muitos, e o tinham seguido.
- E os escribas e os fariseus, vendo-o comer com os publicanos e pecadores, disseram a seus discípulos: Que é isso, que come e bebe com os publicanos, e com os pecadores?
- E ouvindo-o Jesus, disse-lhes: Os sãos não necessitam de médico, mas sim os que estão mal. Eu não vim a chamar aos justos, senão aos pecadores, a que se arrependam.
- E os discípulos de João, bem como os dos fariseus, jejuavam. E vieram, e disseram-lhe: Por que os discípulos de João e os dos fariseus jejuam, e teus discípulos não jejuam?
- E Jesus lhes disse: , enquanto o esposo com eles está? Enquanto têm consigo o esposo, não podem jejuar.
- Mas dias virão, quando o esposo lhes será tirado; e então naqueles dias jejuarão.
- Ninguém deita remendo de pano novo em veste velha. Doutra maneira, o próprio remendo novo tira do velho, e faz-se pior rotura.
- Nem ninguém deita vinho novo em odres velhos. Doutra maneira, o vinho novo rompe os odres, e derrama-se o vinho, e os odres se perdem; mas o vinho novo, em odres novos se há de deitar.
- E aconteceu que, passando ele por uns semeados em dia de sábado, indo seus discípulos andando, começaram a arrancar espigas.
- Então os fariseus lhe disseram: Vês isto? Por que fazem o que em sábado não é lícito?
- Mas ele lhes disse: Nunca lestes o que fez Davi, quando tinha necessidade, e teve fome, ele e os que com ele estavam?
- Como entrou na Casa de Deus, sendo Abiatar o sumo pontífice, e comeu os pães da proposição, dos quais não é lícito comer, senão aos sacerdotes? E também deu aos que com ele estavam?
- E dizia-lhes: O sábado por causa do homem foi feito, e não o homem por causa do sábado.
- Assim que o Filho do homem até do sábado é Senhor.
Capítulo 3
- E outra vez entrou na sinagoga; e havia ali um homem que tinha uma mão ressequida.
- E estavam atentando para ele, se em dia de sábado o sararia, para o acusarem.
- Então disse ao homem que tinha a mão ressequida: Levanta-te no meio.
- E disse-lhes: É lícito fazer o bem em sábados, ou fazer o mal? Salvar uma pessoa, ou matá-la? Mas eles se calavam.
- E olhando para eles ao redor com indignação, e condoendo-se pela dureza do seu coração, disse ao homem: Estende tua mão. E ele a estendeu; e sua mão foi restituída sã, como a outra.
- Então saindo-se os fariseus, tomaram conselho com os herodianos contra ele, para o matarem.
- Mas Jesus se retirou para o mar com seus discípulos. E seguiu-o grande multidão da Galileia e da Judeia.
- E também de Jerusalém, e da Idumeia, e da outra margem do Jordão. E grande multidão, dos que habitavam ao redor de Tiro e de Sidom, ouvindo quão grandes coisas fazia, vieram a ele.
- E disse a seus discípulos que o barquinho lhe estivesse sempre pronto, por causa da multidão, para que não o oprimissem.
- Porque tinha sarado a muitos; de tal maneira que todos quantos tinham algum mal, caíam sobre ele, para o tocar.
- E os espíritos imundos, tão logo o viam, prostravam-se diante dele. E davam gritos, dizendo: Tu és o filho de Deus!
- Mas ele censurava-os rigorosamente, para que não o manifestassem.
- E subiu ao monte; e chamou a si aos que ele quis, e vieram a ele.
- E ordenou a doze, para que estivessem com ele, e para mandá-los a pregar.
- E que tivessem poder para sarar enfermidades, e para lançar fora demônios:
- A Simão, a quem pôs por nome Pedro.
- E a Tiago, filho de Zebedeu, e a João, irmão de Tiago; e pôs-lhes por nome “Boanerges”, que quer dizer “Filhos do Trovão”.
- E a André, e a Filipe, e a Bartolomeu, e a Mateus; e a Tomé, e a Tiago, filho de Alfeu, e a Tadeu, e a Simão, o cananeu.
- E a Judas Iscariotes, aquele que o entregou.
- E foram para casa. E outra vez se ajuntou a multidão, de tal maneira que nem mesmo podiam comer pão.
- E ouvindo isto os seus, vieram para o prenderem. Porque diziam: Está fora de si!
- E os escribas, que tinham vindo de Jerusalém, diziam que ele tinha a Belzebu; e que pelo príncipe dos demônios, lançava fora aos demônios.
- E chamando-os, disse-lhes por parábolas: Como pode Satanás lançar fora a Satanás?
- E se um reino contra si mesmo estiver dividido, não pode o tal reino permanecer.
- E se uma casa estiver dividida contra si mesma, não pode permanecer a tal casa.
- E se Satanás se levantar contra si mesmo, e estiver dividido, não pode permanecer, mas tem o seu fim.
- Ninguém pode roubar os bens do valente, entrando em sua casa, se antes não prender ao valente; e só então roubará sua casa.
- Em verdade vos digo que todos os pecados serão perdoados aos filhos dos homens; e todas e quaisquer blasfêmias com que blasfemarem.
- Porém qualquer que blasfemar contra o Espírito Santo, para sempre não tem perdão; mas está obrigado ao eterno juízo;
- Porque diziam: Ele tem espírito imundo.
- Vieram, pois, seus irmãos e sua mãe; e estando do lado de fora, mandaram o chamar.
- E o povo estava assentado ao redor dele. E disseram-lhe: Eis que tua mãe e teus irmãos te buscam lá fora.
- E ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe? E quem, meus irmãos?
- E olhando em derredor, para os que à volta dele estavam assentados, disse: Eis aqui minha mãe, e meus irmãos!
- Porque qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe.
Capítulo 4
- E começou outra vez a ensinar junto ao mar, e ajuntou-se a ele grande multidão; em tanta maneira que, entrando num barco, assentou-se nele, no mar, e todo o povo estava em terra, junto ao mar.
- E ensinava-lhes por parábolas muitas coisas, e dizia-lhes em sua doutrina:
- Ouvi vós: eis que o semeador saiu a semear.
- E aconteceu que, semeando ele, caiu uma parte junto ao caminho; e vieram os pássaros do céu, e tragaram-na.
- E outra parte caiu em pedregais, onde não tinha muita terra; e logo saiu, porque não tinha profundidade de terra.
- Mas saindo o sol, queimou-se; e porque não tinha raiz, secou-se.
- E outra parte caiu entre espinhos; e subiram os espinhos, e sufocaram-na, e não deu fruto.
- E outra parte caiu em boa terra, e deu fruto que subiu, e cresceu; e trouxe um até trinta, e outro até sessenta, e outro até cem.
- Então disse-lhes: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
- E quando esteve só, perguntaram-lhe os que estavam com ele, juntamente com os doze, acerca da parábola.
- E disse-lhes: A vós outros vos é dado saber o mistério do reino de Deus; mas aos que estão de fora, por parábolas acontecem todas estas coisas.
- ; e ouvindo, ouçam e não entendam. De modo que não se convertam, e lhes sejam perdoados os pecados.
- E disse-lhes: Não sabeis esta parábola? Como, pois, entendereis todas as parábolas?
- O semeador é o que semeia a palavra.
- E estes são os que se semeiam junto ao caminho: nos quais a palavra se semeia, mas havendo-a ouvido, vem logo Satanás, e tira a palavra que foi semeada em seus corações.
- E assim mesmo, são estes os que se semeiam entre pedras: os que, havendo ouvido a palavra, logo a tomam com regozijo.
- Mas não têm em si mesmos raiz. Antes, são temporais, de modo que, levantando-se a tribulação, ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam.
- E estes são os que se semeiam entre espinhos: os que ouvem a palavra;
- Mas os cuidados deste mundo, e o engano das riquezas, e as cobiças que há nas outras coisas, entrando, sufocam a palavra; e fica sem fruto.
- E estes são os que foram semeados em boa terra: os que ouvem a palavra, e a recebem, e dão fruto, um até trinta, outro até sessenta, outro até cem.
- Disse-lhes também: Vem a candeia para se pôr debaixo do alqueire, ou debaixo da cama? Não vem, antes, para se pôr sobre o candeeiro?
- Porque não há nada encoberto que não haja de vir a ser revelado; nem tão secreto que não haja de vir a ser descoberto.
- Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.
- Disse-lhes também: Olhai bem o que ouvis. Com a medida com que medirdes, vos medirão outros; e ser-vos-á acrescentado a vós outros, os que ouvis.
- Porque ao que tem, ser-lhe-á dado; e ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.
- Dizia mais: Assim é o reino de Deus como se um homem lançasse uma semente na terra.
- E então dormisse, e se levantasse de noite, e de dia; e a semente brotasse, e crescesse, não sabendo ele como.
- Porque de si mesma frutifica a terra: primeiro a erva, logo a espiga, logo o grão cheio na espiga.
- E sendo já o fruto produzido, logo se mete a foice, porque chegada é a sega.
- Dizia mais: A que faremos semelhante o reino de Deus? Ou com que parábola o compararemos?
- Com o grão de mostarda; o qual, quando se semeia na terra, é o mais pequeno, dentre todas as sementes que há na terra.
- Mas sendo já semeado, sobe, e faz-se a maior de todas as hortaliças; e cria grandes ramos, de tal maneira que os pássaros do céu possam fazer ninhos debaixo de sua sombra.
- E com outras muitas tais parábolas lhes falava a palavra, conforme o que podiam ouvir.
- E sem parábola, nada lhes falava; mas a seus discípulos declarava tudo em particular.
- E disse-lhes naquele mesmo dia, quando já entardecia: Passemos à outra margem.
- E deixando a multidão, tomaram-no como estava no barco; e havia também com ele outros barquinhos.
- E levantou-se uma grande tempestade de vento; e lançava as ondas sobre o barco, de tal maneira que já se ia enchendo.
- E ele estava na popa, dormindo sobre uma almofada. Então despertaram-no, e disseram-lhe: Mestre, não te importa que nos perdemos?
- E levantando-se ele, repreendeu ao vento, e disse ao mar: Cala-te, emudece! E cessou o vento; e fez-se grande bonança.
- E a eles lhes disse: Por que sois assim tão temerosos? Como não tendes fé?
- E temeram com grande temor. E diziam uns aos outros: Quem é este, que até o vento e o mar lhe obedecem?
Capítulo 5
- E vieram à outra margem do mar, à província dos gadarenos.
- E saindo ele do barco, logo lhe saiu ao encontro um homem desde as sepulturas, com um espírito imundo.
- O qual tinha sua morada nas sepulturas, e nem mesmo com cadeias podia alguém prendê-lo.
- Porque muitas vezes fora preso com grilhões e cadeias; mas as cadeias foram por ele feitas em pedaços, e os grilhões em migalhas, e ninguém o podia amansar.
- E sempre, de dia e de noite, andava dando gritos nos montes e nas sepulturas; e ferindo-se com pedras.
- E assim que viu a Jesus de longe, correu e adorou-o.
- E bradando com grande voz, disse: Que tens comigo, ó Jesus, Filho do Deus altíssimo? Conjuro-te, por Deus, que não me atormentes!
- Porque lhe dizia: Sai deste homem, espírito imundo!
- E perguntou-lhe: Como te chamas? E respondeu, dizendo: Legião me chamo, porque somos muitos.
- E rogava-lhe muito que não o lançasse fora daquela província.
- E estava ali, perto dos montes, uma grande manada de porcos pastando.
- E rogaram-lhe todos aqueles demônios, dizendo: Manda-nos aos porcos, para que neles entremos.
- E permitiu-lho logo Jesus. E saindo aqueles espíritos imundos, entraram nos porcos; e a manada se lançou d’alto abaixo no mar – e eram como dois mil –, e afogaram-se no mar.
- E os que apascentavam os porcos fugiram, e deram aviso na cidade e nos campos; e saíram a ver o que era aquilo que tinha acontecido.
- E vieram a Jesus; e então viram ao que fora atormentado pelo demônio, assentado e vestido; e viram em seu juízo o que tivera a legião. E tiveram medo.
- E contaram-lhes os que aquilo tinham visto o que acontecera ao que tivera o demônio, e acerca dos porcos.
- E começaram a rogar-lhe que se fosse embora de seus termos.
- E entrando ele no barco, rogava-lhe o que fora atormentado pelo demônio que o deixasse estar com ele.
- Mas Jesus não lho permitiu, mas disse-lhe: Vai-te à tua casa, e aos teus, e conta-lhes quão grandes coisas o Senhor contigo fez, e como de ti misericórdia teve.
- E foi-se, e começou a pregar em Decápolis quão grandes coisas Jesus com ele fez; e todos se maravilhavam.
- E passando Jesus outra vez num barco para a outra margem, ajuntou-se a ele grande multidão; e estava junto ao mar.
- E veio um dos príncipes da sinagoga, chamado Jairo; e tão logo o viu, prostrou-se a seus pés.
- E rogava-lhe muito, dizendo: Minha filha está à morte! Vem, e põe as mãos sobre ela, para que sare; e viverá!
- E foi com ele. E seguia-o grande multidão, e apertavam-no.
- E uma mulher, que estava com um fluxo de sangue havia doze anos;
- E que havia padecido muito, de muitos médicos, e gastado tudo quanto tinha, e nada lhe aproveitara; antes lhe ia ainda pior.
- Esta, tendo ouvido falar de Jesus, veio entre a multidão, por detrás, e tocou sua veste.
- Porque dizia: Se tão somente eu tocar sua veste, sararei.
- E logo a fonte de seu sangue se secou; .
- E reconhecendo Jesus logo, em si mesmo, a virtude que dele saíra, virando-se para o povo, disse: Quem tocou em minhas vestes?
- E disseram-lhe seus discípulos: Eis que a multidão te aperta, e dizes: Quem me tocou!?
- E ele olhava ao redor, para ver a que isto fizera.
- Então a mulher, temendo e tremendo, sabendo o que em si fora feito, veio e prostrou-se diante dele; e disse-lhe toda a verdade.
- Então ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou. Vai-te em paz, e sara do teu açoite!
- Estando ele ainda falando, vieram alguns do príncipe da sinagoga, dizendo: Tua filha já está morta; para que ainda cansas o mestre?
- Mas Jesus, tão logo ouvindo esta razão que se dizia, disse ao príncipe da sinagoga: Não temas; crê somente.
- E não permitiu que alguém viesse após ele, senão a Pedro e a Tiago, e a João, o irmão de Tiago.
- E veio à casa do príncipe da sinagoga; e viu o alvoroço, e os que estavam chorando, e fazendo grande pranto.
- E entrando, disse-lhes: Por que vos alvoroçais, e estais chorando? A moça não está morta, mas dorme.
- E faziam zombaria dele. Mas ele, havendo-os lançado a todos fora, tomou consigo o pai e a mãe da moça, e os que estavam com ele, e entrou lá onde a moça estava deitada.
- E tomando a mão da moça, disse-lhe: “Talitá cumi”, que traduzido é “Moça, a ti te digo, levanta-te”.
- E logo a moça se levantou; e andava, porque já era de doze anos. E espantaram-se com grande espanto.
- Mas ele lhes mandou muito que ninguém o soubesse; e disse que dessem de comer à moça.
Capítulo 6
- E saiu dali, e veio à sua pátria; e seguiram-no seus discípulos.
- E chegando o sábado, começou a ensinar na sinagoga. E muitos, ouvindo-o, estavam atônitos, dizendo: Donde lhe vêm a este tais coisas? E que sabedoria é esta que lhe foi dada? E tais maravilhas que por suas mãos são feitas?
- Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, e de José, e de Judas, e de Simão? Não estão aqui também conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele.
- Mas Jesus lhes dizia: Não há profeta sem honra, senão em sua terra, e entre os seus parentes, e em sua própria casa.
- E não podia ali fazer nenhuma maravilha; sarou somente a uns poucos enfermos, impondo sobre eles as mãos.
- E estava maravilhado da incredulidade deles; mas rodeava as aldeias ao redor, ensinando.
- E chamou aos doze, e passou a enviá-los de dois em dois; e deu-lhes poder contra os espíritos imundos.
- E mandou-lhes que não levassem nada para o caminho, senão somente um bordão: nem alforges, nem pão, nem dinheiro na cinta.
- Mas que calçassem alparcas; e não se vestissem de duas vestes.
- E dizia-lhes: Em qualquer casa que entrardes, pousai ali, até que saiais dali.
- E todos quantos não vos receberem, nem vos ouvirem, saindo dali, sacudi o pó que estiver debaixo de vossos pés, em testemunho contra eles. Em verdade vos digo que mais toleravelmente serão tratados os de Sodoma e os de Gomorra, no dia do juízo, do que aquela cidade.
- E saindo eles, pregavam que se arrependessem.
- E lançavam fora a muitos demônios; e ungiam com azeite a muitos enfermos, e saravam-nos.
- E ouviu-o o rei Herodes – porque já seu nome era notório –, e disse: João, aquele que batizava, ressurgiu dos mortos; e por isso tais virtudes operam nele.
- Outros diziam: Elias é! E outros diziam: Profeta é, ou como algum dos profetas.
- E ouvindo Herodes isto, disse: Este é João, o mesmo que eu degolei. Ressuscitado é dentre os mortos!
- Porque o mesmo Herodes havia mandado prender a João; e o tinha preso no cárcere por causa de Herodias, mulher de Filipe, seu irmão, porque a tomara por mulher.
- Porque João dizia a Herodes: Não te é lícito ter a mulher de teu irmão.
- Mas Herodias o espreitava, e desejava matá-lo; mas não podia.
- Porque Herodes temia a João, sabendo que era varão justo e santo, e o estimava; e dando-lhe ouvidos, fazia muitas coisas, e ouvia-o de boa mente.
- E vindo um dia oportuno, em que Herodes, na festa de seu aniversário, fazia ceia a seus príncipes e tribunos, e aos principais da Galileia;
- E entrando a filha de Herodias, e dançando, e agradando a Herodes, e aos que estavam com ele à mesa, disse o rei à moça: Pede-me o que quiseres, que eu to darei.
- E jurou-lhe: Tudo o que me pedires te darei, até a metade de meu reino.
- E saindo ela, disse à sua mãe: Que pedirei? E ela disse: A cabeça de João Batista.
- Então ela entrou apressadamente junto ao rei, e pediu, dizendo: Quero que agora logo me dês, num prato, a cabeça de João Batista!
- E o rei se entristeceu muito; mas por causa do juramento, e dos que estavam com ele à mesa, não lho quis negar.
- E logo o rei, enviando o algoz, mandou que trouxessem sua cabeça; o qual foi, e o degolou na prisão.
- E trouxe sua cabeça num prato, e deu à moça; e a moça a deu à sua mãe.
- E ouvindo-o seus discípulos, vieram, e tomaram seu corpo já morto; e puserem-no num sepulcro.
- E os apóstolos tornaram juntamente a Jesus, e contaram-lhe tudo o que tinham feito, e o que tinham ensinado.
- E ele lhes disse: Vinde vós outros aqui, à parte, a um lugar deserto, e repousai um pouco. Porque havia muitos que iam, e que vinham, de modo que não tinham oportunidade nem de comer.
- E foram-se em um barco ao lugar deserto, à parte.
- E viram-nos ir as multidões, e muitos o reconheceram; e concorreram lá muitos a pé das cidades todas, e vieram antes que eles, e ajuntaram-se a ele.
- E saindo Jesus, viu uma grande multidão, e teve íntima misericórdia deles, porque eram como ovelhas sem pastor; e começou a ensinar-lhes muitas coisas.
- E como já era avançava a hora, seus discípulos chegaram a ele, dizendo: O lugar é deserto, e já vai avançada a hora.
- Deixa-os ir aos lugares e aldeias ao redor, e comprem para si pão; porque não têm o que comer.
- E respondendo ele, disse-lhes: Dai-lhes vós mesmos de comer. E eles lhe disseram: Quer que vamos, e compremos duzentos denários de pão, e lhes demos de comer?
- E ele lhes disse: Quantos pães tendes? Ide, e vede-o. E eles, sabendo-o, disseram: Cinco, e também dois peixes.
- E mandou-lhes que fizessem assentar a todos, por mesas, sobre a erva verde.
- E assentaram-se repartidos por mesas de cem em cem, e de cinquenta em cinquenta.
- E tomando ele os cinco pães, e os dois peixes, e levantando os olhos ao céu, abençoou e partiu os pães; e deu-os a seus discípulos, para que lhos apresentassem, e os dois peixes repartiu a todos.
- E comeram todos, e fartaram-se.
- E levantaram dos pedaços, e dos peixes, doze cestos cheios.
- E eram os que comeram cinco mil homens.
- E logo deu pressa a seus discípulos a subir no barco, e ir diante dele à Betânia, à outra margem, enquanto ele despedia a multidão.
- E depois de tê-los despedido, foi-se ao monte, a orar.
- E quando já entardecia, estava o barco no meio do mar; e ele só, em terra.
- E viu-os, que se cansavam navegando, porque o vento lhes era contrário. E perto da quarta vela da noite, veio a eles, andando sobre o mar; e queria passar ao largo deles.
- E vendo-o eles a andar sobre o mar, julgaram que era um fantasma, e deram gritos.
- Porque todos o viam, e turbaram-se. Mas logo falou com eles, e disse-lhes: Estai seguros, sou eu; não tenhais medo.
- E subiu junto deles no barco, e o vento repousou; e em grande maneira estavam atônitos, e se maravilhavam.
- Pois ainda não tinham entendido a maravilha dos pães; .
- E quando já estavam da outra margem, vieram à terra de Genesaré, e tomaram ali porto.
- E saindo eles do barco, logo o reconheceram.
- E percorrendo toda a terra ao redor, começaram a trazer de todas as partes os enfermos, em leitos, onde quer que ouviam que ele estava.
- E onde quer que entrava – em aldeias, ou cidades, ou lugares –, punham nos mercados aos enfermos, e rogavam-lhe que tão somente tocassem a borda de sua veste; e todos quantos o tocavam, saravam.
Capítulo 7
- E ajuntaram-se a ele os fariseus, e alguns dos escribas que tinham vindo de Jerusalém.
- Vendo que alguns de seus discípulos , isto é, por lavar, repreendiam-nos.
- Porque os fariseus, e todos os judeus, guardando a tradição dos antigos, se muitas vezes não lavarem as mãos, não comem.
- E tornando da praça, se não se lavarem, não comem. E outras muitas coisas há que tomaram para guardar, como o lavar dos copos de beber, e dos jarros, e dos vasos de metal, e das camas.
- E perguntaram-lhe os fariseus e os escribas: Por que teus discípulos não andam conforme a tradição dos antigos, mas comem pão com as mãos por lavar?
- E respondendo ele, disse-lhes: Hipócritas, bem profetizou Isaías acerca de vós outros, como está escrito: Este povo com os lábios me honra; mas seu coração, longe está de mim.
- Porém em vão me honram, ensinando por doutrinas os mandamentos de homens.
- Porque, deixando o mandamento de Deus, tendes a tradição dos homens, isto é, o lavar dos jarros, e dos copos de beber. E fazeis outras muitas coisas semelhantes a estas.
- Dizia-lhes também: Bem invalidais o mandamento de Deus, para guardar a vossa própria tradição.
- Porque Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe; e quem amaldiçoar ao pai ou à mãe, que morra de morte.
- Mas vós outros dizeis: Se um homem disser ao pai ou à mãe: É “corbã” – quer dizer, uma oferta – tudo o que de mim te puder aproveitar, este satisfaz a Lei.
- E não lhe deixais fazer mais nada por seu pai, ou por sua mãe.
- Invalidando assim a palavra de Deus, por vossa própria tradição, que vós mesmos ordenastes. E muitas outras coisas fazeis, semelhantes a estas.
- E chamando a si todo o povo, disse-lhes: Ouvi-me vós todos, e entendei:
- Não há fora do homem nada que nele entre, que o possa contaminar; mas o que dele sai, isso é o que ao homem contamina.
- Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.
- E entrando-se desde a multidão em casa, perguntaram-lhe seus discípulos acerca da parábola.
- E ele lhes disse: Assim também vós outros estais sem entendimento? Não entendeis que tudo o que de fora entra no homem, não o pode contaminar?
- Porque não entra em seu coração; senão no ventre, e sai para a privada, purgando assim todas as comidas.
- Mas dizia que, o que do homem sai, isso sim contamina ao homem.
- Porque de dentro dos corações dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as fornicações, os homicídios.
- E os furtos, as avarezas, as maldades, o engano, os desavergonhamentos, o mau olho, as injúrias, a soberba, a loucura.
- Todas estas maldades de dentro saem, e contaminam ao homem.
- E levantando-se dali, foi-se aos termos de Tiro e de Sidom. E entrando em casa, não quis que ninguém o soubesse; mas não pôde se esconder.
- Porque uma mulher, cuja filha tinha um espírito imundo, logo ouvindo falar dele, veio, e lançou-se aos seus pés.
- E a mulher era grega, siro-fenícia de nação; e rogava-lhe que lançasse fora de sua filha ao demônio.
- Mas Jesus lhe disse: Deixa primeiro fartarem-se os filhos; porque não é bom tomar o pão dos filhos, e lançá-lo aos cachorrinhos.
- Porém ela respondeu, e disse-lhe: Assim é, Senhor. Mas também os cachorrinhos comem, debaixo da mesa, das migalhas dos filhos.
- Então lhe disse ele: Por esta palavra, vai; já o demônio saiu de tua filha.
- E vindo ela à sua casa, achou que já o demônio havia saído, e a filha deitada sobre a cama.
- E tornando ele a sair dos termos de Tiro e de Sidom, veio ao mar da Galileia, por meio dos termos de Decápolis.
- E trouxeram-lhe um surdo e tartamudo; e rogaram-lhe que lhe pusesse a mão sobre ele.
- E tomando-o dentre a multidão, à parte, pôs-lhe os dedos nos ouvidos e, com saliva, tocou-lhe na língua.
- E levantando os olhos ao céu, suspirou, e disse: “Efatá”, que quer dizer: Abre-te!
- E logo seus ouvidos se abriram, e a atadura da língua se lhe desatou; e falava bem.
- E mandou-lhes que não o dissessem a ninguém. Mas quanto mais lhes mandava, tanto mais o divulgavam.
- E sobremaneira se maravilhavam, dizendo: Tudo este fez bem; pois aos surdos faz ouvir, e aos mudos, falar.
Capítulo 8
- Naqueles dias, havendo grande multidão, e não tendo o que comer, chamou Jesus a seus discípulos, e disse-lhes:
- Eu tenho íntima misericórdia do povo; porque já há três dias que estão comigo, e não têm o que comer.
- E se eu os mandar em jejum para suas casas, desfalecerão no caminho; porque alguns deles têm vindo de longe.
- Mas seus discípulos lhe responderam: Donde poderá alguém fartar a estes de pão aqui, no deserto?
- E perguntou-lhes: Quantos pães tendes? E eles disseram: Sete.
- Então mandou a multidão que se assentasse no chão. E tomando os sete pães, e havendo dado graças, partiu-os, e deu-os a seus discípulos, para que lhos apresentassem; e apresentaram-nos ao povo.
- Tinham também uns poucos peixinhos; e havendo dado graças, disse que também lhos apresentassem.
- E comeram, e fartaram-se; e levantaram dos pedaços que sobejaram sete cestos.
- E eram os que comeram como quatro mil. E então despediu-os.
- E logo entrando no barco com seus discípulos, veio às partes de Dalmanuta.
- E vieram os fariseus, e começaram a disputar com ele; pedindo-lhe um sinal do céu, tentando-o.
- E suspirando ele profundamente em seu espírito, disse: Por que pede sinal esta geração? Em verdade vos digo que sinal não se dará a esta geração.
- E deixando-os, tornou a entrar no barco; e foi-se para a outra margem.
- E seus discípulos tinham se esquecido de trazer pão, e não tinham senão um só pão consigo no barco.
- E mandou-lhes, dizendo: Olhai, guardai-vos do fermento dos fariseus, e do fermento de Herodes.
- E contendiam uns com os outros, dizendo: É porque não temos pão.
- E como Jesus o entendeu, disse-lhes: Que contendeis? Que não tendes pão? Não considerais, nem entendeis? Ainda tendes vosso coração endurecido?
- Tendo olhos, não vedes? E tendo ouvidos, não ouvis?
- E não vos lembrais de quando parti os cinco pães entre cinco mil? Quantos cestos cheios de pedaços levantastes? E eles disseram: Doze.
- E quando parti os sete entre quatro mil, quantos cestos cheios de pedaços levantastes? E eles disseram: Sete.
- E ele lhes disse: Como não entendeis, logo, ainda?
- E veio à Betsaida, e trouxeram-lhe um cego; e rogaram-lhe que o tocasse.
- Então tomando ao cego pela mão, tirou-o para fora da aldeia; e aplicando-lhe saliva aos olhos, e impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe se via alguma coisa.
- E ele, olhando, disse: Vejo os homens; porque vejo que andam como árvores.
- E pôs-lhe logo outra vez as mãos sobre os olhos, e fez-lhe com que visse; e este ficou são, e viu de longe e claramente a todos.
- E mandou-o para sua casa, dizendo: Não entres na aldeia, nem na aldeia o digas a ninguém.
- Então saiu Jesus e seus discípulos pelas aldeias de Cesareia de Filipe. E no caminho, perguntou a seus discípulos, dizendo-lhes: Quem dizem os homens que eu sou?
- E eles responderam: João Batista; e outros, Elias; e outros, algum dos profetas.
- Então ele lhes disse: E vós outros, quem dizeis que sou eu? E respondendo Pedro, disse-lhe: Tu és o Cristo.
- E censurava-os rigorosamente, que não dissessem a respeito dele a ninguém.
- E começou a ensinar-lhes que convinha que o Filho do homem padecesse muito, e fosse reprovado pelos anciãos, e pelos príncipes dos sacerdotes, e pelos escribas; e que fosse morto, e depois de três dias ressuscitasse.
- . Então Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo.
- E ele, virando-se, e olhando para seus discípulos, repreendeu a Pedro, dizendo: Vai-te atrás de mim, Satanás; porque não consideras as coisas que são de Deus, senão as que são dos homens.
- E chamando a si a multidão, juntamente com seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome sobre si sua cruz, e siga-me.
- Porque quem quiser salvar sua vida, perdê-la-á; e quem perder sua vida por causa de mim e do evangelho, esse a salvará.
- Porque, que aproveitaria ao homem se granjeasse todo o mundo, e perdesse sua alma?
- Ou que dará o homem pelo resgate de sua alma?
- Porque quem, nesta geração adulterina e pecadora, de mim e de minhas palavras se envergonhar; também o Filho do homem dele se envergonhará, quando vier na glória de seu Pai, com os santos anjos.
Capítulo 9
- Dizia-lhes também: Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui estão, que não provarão a morte, até que não tenham visto o reino de Deus, que vem com potência.
- E seis dias depois, tomou Jesus a Pedro, e a Tiago, e a João, e levou-os à parte, a sós, a um alto monte; e transfigurou-se diante deles.
- E suas vestes se tornaram resplandecentes, mui brancas, como a neve; quais lavandeiro algum na terra as poderia branquear.
- E apareceu-lhes Elias junto com Moisés, os quais falavam com Jesus.
- Então respondendo Pedro, disse a Jesus: Mestre, bom é que estejamos aqui. Façamos, pois, três cabanas: uma para ti, e para Moisés outra, e outra para Elias.
- Porque não sabia o que dizia, pois estavam fora de si.
- E veio uma nuvem, que os cobriu com sua sombra, e também uma voz da nuvem, que dizia: Este é meu amado filho; a ele dai ouvidos.
- E olhando logo ao redor, não viram mais a ninguém consigo, senão só a Jesus.
- E descendo eles do monte, mandou-lhes que a ninguém dissessem o que tinham visto; senão quando o Filho do homem já dos mortos houvesse ressuscitado.
- E eles retiveram o caso entre si, disputando o que seria o tal “ressuscitar dos mortos”.
- E perguntaram-lhe, dizendo: Que é pois aquilo que dizem os escribas, isto é, que é necessário que Elias venha primeiro?
- E respondendo ele, disse-lhes: Em verdade que primeiro Elias virá, e todas as coisas restaurará. E acontecerá como acerca do Filho do homem está escrito: .
- Eu, porém, vos digo que Elias já veio; e fizeram-lhe tudo quanto quiseram, como a respeito dele está escrito.
- E assim que veio aos discípulos, viu grande multidão ao redor deles; e alguns escribas também, os quais disputavam com eles.
- E logo todo o povo, vendo-o, se espantou; e correndo a ele, saudaram-no.
- E perguntou aos escribas: Que disputais com eles?
- E respondendo um dentre a multidão, disse: Mestre, trouxe-te meu filho, que tem um espírito mudo;
- O qual, onde quer que o toma, o despedaça; e então deita escumas pela boca, e morde os dentes, e se vai secando. E eu disse a teus discípulos que o lançassem fora, mas não puderam.
- E respondendo ele, disse-lhe: Ó geração infiel, até quando estarei convosco? Até quando vos hei de suportar? Trazei-mo.
- E trouxeram-lho. E assim que o viu, logo o espírito o começou a despedaçar; e caindo por terra, espojava-se, deitando escumas pela boca.
- E perguntou a seu pai: Quanto tempo há que lhe aconteceu isto? E ele disse: Desde menino.
- E muitas vezes o lançou no fogo, e na água, para o matar; mas se podes alguma coisa, ajuda-nos, tendo misericórdia de nós!
- E Jesus lhe disse: Se tu podes crer, ao que crê tudo é possível.
- E logo o pai do menino, clamando com lágrimas, disse: Creio, Senhor! Ajuda em minha incredulidade!
- E como Jesus viu que a multidão concorria, repreendeu ao espírito imundo, dizendo-lhe: Espírito mudo e surdo, eu te mando: Sai dele, e não entres nele mais!
- Então clamando, e despedaçando-o muito, saiu; e ficou o rapaz como morto, de modo que muitos diziam que tinha morrido.
- Mas Jesus, tomando-o pela mão, ergueu-o; e ele se levantou.
- E assim que entrou em casa, seus discípulos lhe perguntaram à parte: Por que não o pudemos nós lançar fora?
- E disse-lhes: Este gênero com nada pode sair, senão com oração e jejum.
- E tendo eles saído dali, caminharam juntos pela Galileia; e não queria que ninguém o soubesse.
- Porque ensinava a seus discípulos, e dizia-lhes: O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens, e matá-lo-ão; mas sendo morto, ressuscitará ao terceiro dia.
- Mas eles não entendiam esta palavra; e tinham medo de lhe perguntar.
- E veio a Cafarnaum. E chegando em casa, perguntou-lhes: Que disputáveis entre vós outros pelo caminho?
- Mas eles se calaram; porque uns com os outros disputaram pelo caminho qual deles havia de ser o maior.
- Então, sentando-se ele, chamou aos doze, e disse-lhes: Se alguém quiser ser o primeiro, será o último de todos, e de todos o servidor.
- E tomando a um menino, pô-lo no meio deles; e abraçando-o com seus braços, disse-lhes:
- O que receber em meu nome a um dos tais meninos, a mim me recebe; e o que a mim me recebe, não me recebe só a mim, mas também àquele que me enviou.
- E respondeu-lhe João, dizendo: Mestre, temos visto a um que, em teu nome, lançava fora os demônios, o qual não nos segue. E o censuramos, porque não nos segue.
- E Jesus lhe disse: Não o censurais; porque ninguém há que faça um milagre em meu nome, e que logo possa de mim dizer mal.
- Porque, quem não é contra nós, por nós é.
- Porque qualquer que vos der um jarro d’água em meu nome, porque sois discípulos de Cristo, em verdade vos digo que não perderá seu galardão.
- E qualquer que escandalizar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe seria que ao pescoço uma mó de atafona lhe pusessem, e que no mar fosse lançado.
- Mas se tua mão te escandalizar, corta-a: melhor te é entrar na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ir ao inferno, ao fogo que nunca se pode apagar.
- Lá onde seu bicho não morre, e seu fogo nunca se apaga.
- E se teu pé te escandalizar, corta-o: melhor te é entrar na vida manco do que, tendo dois pés, ser lançado no inferno, no fogo que nunca se pode apagar.
- Lá onde seu bicho não morre, e seu fogo nunca se apaga.
- E se teu olho te escandalizar, tira-o: melhor te é entrar no reino de Deus com um só olho do que, tendo dois olhos, ser lançado no fogo do inferno.
- Lá onde seu bicho não morre, e seu fogo nunca se apaga.
- Porque todo homem será salgado com fogo, e todo sacrifício será salgado com sal.
- Bom é o sal; mas se o sal se esvaecer, com que o temperareis? Tende sal em vós mesmos, e tende paz uns para com os outros.
Capítulo 10
- E partindo-se ele dali, veio aos termos da Judeia, por detrás do Jordão. E tornou a multidão a ajuntar-se a ele; e tornou a ensiná-los, como tinha por costume.
- E chegando-se a ele os fariseus, perguntaram-lhe se era lícito ao marido largar a sua mulher; tentando-o.
- Mas respondendo ele, disse-lhes: Que vos mandou Moisés?
- E eles disseram: Moisés permitiu escrever-lhe carta de desquite, e largá-la.
- E respondendo Jesus, disse-lhes: Pela dureza de vosso coração, vos escreveu ele esse mandamento.
- Porém desde o princípio da criação, macho e fêmea os fez Deus.
- Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e ajuntar-se-á à sua mulher.
- E os dois serão feitos uma só carne; de modo que já não são dois, senão uma só carne.
- Portanto, o que Deus ajuntou, não o aparte o homem.
- E em casa lhe tornaram os discípulos a perguntar acerca disto mesmo.
- E disse-lhes: Qualquer que largar a sua mulher, e se casar com outra, comete adultério contra ela.
- E se a mulher largar a seu marido, e se casar com outro, adultera.
- E apresentavam-lhe crianças, para que as tocasse; e os discípulos repreendiam aos que lhas apresentavam.
- E vendo-o Jesus, indignou-se muito, e disse-lhes: Deixai vir a mim as crianças; não as censurais, porque das tais é o reino de Deus.
- Em verdade vos digo que, o que não receber o reino de Deus como uma criança, de maneira nenhuma nele entrará.
- E tomando-as nos braços, e impondo-lhes as mãos, as abençoou.
- E saindo ele ao caminho, correu a ele um. E pondo-se de joelhos diante dele, perguntou-lhe: Bom mestre, que farei eu para possuir a vida eterna?
- E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há que seja bom, senão um só, isto é, Deus.
- Os mandamentos sabes: não adulteres, não mates, não furtes, não digas falso testemunho, não defraudes a ninguém, honra a teu pai e a tua mãe.
- Ele então respondendo, disse-lhe: Mestre, tudo isto guardei desde minha mocidade.
- Então Jesus, olhando para ele, amou-o, e disse-lhe: Uma coisa te falta: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres; e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me, tomando a cruz.
- Mas ele, entristecido por esta palavra, foi-se pesaroso; porque tinha muitas posses.
- Então Jesus, olhando ao redor, disse a seus discípulos: Quão dificilmente entrarão os que têm riquezas no reino de Deus!
- E os discípulos se espantaram por suas palavras. Mas respondendo Jesus, tornou-lhes a dizer: Filhos, quão difícil é entrar no reino de Deus para os que confiam nas riquezas.
- , do que entrar o rico no reino de Deus.
- Mas eles se espantavam ainda mais, dizendo entre si: E quem poderá se salvar?
- Então Jesus, olhando para eles, disse: Quanto aos homens, é impossível; mas quanto a Deus, não; porque todas as coisas são possíveis no tocante a Deus.
- Então Pedro começou a dizer-lhe: Eis que nós outros deixamos todas as coisas, e te seguimos.
- E respondendo Jesus, disse: Em verdade vos digo que não há ninguém que tenha deixado casa, ou irmãos ou irmãs, ou pai ou mãe, ou mulher ou filhos, ou herdades, por causa de mim e do evangelho,
- Que não receba, agora neste tempo, cem vezes mais casas, e irmãos e irmãs, e mães e filhos, e herdades, mesmo com perseguições; e no século vindouro, a vida eterna.
- Porém muitos primeiros serão últimos; e muitos últimos, primeiros.
- E iam de caminho, subindo a Jerusalém, e Jesus ia diante deles; e espantavam-se, e seguiam-no com temor. Então tornando a tomar os doze à parte, começou-lhes a dizer as coisas que lhe haviam de acontecer;
- Dizendo: Eis que subimos a Jerusalém; e o Filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes, e aos escribas. E condená-lo-ão à morte, e entregá-lo-ão às gentes;
- As quais o escarnecerão, e o açoitarão, cuspirão nele, e matá-lo-ão; mas ao terceiro dia, ressurgirá.
- Então Tiago e João, filhos de Zebedeu, se chegaram a ele, dizendo: Mestre, bem quiséramos que nos fizesses o que te pedirmos!
- E ele lhes disse: Que quereis que vos faça?
- E eles lhe disseram: Dá-nos que, em tua glória, nos assentemos um à tua direita, e outro à tua esquerda.
- Então Jesus lhes disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu bebo, e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado?
- E eles lhe disseram: Podemos. E ele lhes disse: Em verdade que o cálice que eu bebo, bebereis; e com o batismo com que sou batizado, sereis batizados.
- Mas que vos assenteis à minha direita, ou à minha esquerda, não cabe a mim dá-lo; mas se dará àqueles para quem está preparado.
- E assim que os dez ouviram isto, começaram a indignar-se contra Tiago e João.
- Mas chamando-os Jesus, disse-lhes: Já sabeis que os que são estimados por príncipes das gentes, têm domínio sobre elas; e os que entre elas são grandes, têm sobre elas autoridade.
- Mas entre vós outros não será assim. Antes, qualquer que entre vós se quiser fazer grande, será vosso servidor.
- E qualquer que dentre vós outros se quiser fazer o primeiro, de todos será servo.
- Porque tampouco veio também o Filho do homem para ser servido; mas para servir, e dar sua vida em resgate por muitos.
- Então vieram a Jericó. E saindo ele, e mais seus discípulos, e uma grande multidão, de Jericó; estava Bartimeu, o cego, filho de Timeu, assentado junto ao caminho, pedindo esmola.
- E ouvindo que era Jesus, o nazareno, começou a dar brados, e a dizer: Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim!
- E muitos o repreendiam, para que se calasse. Mas ele dava ainda maiores brados: Filho de Davi, tem misericórdia de mim!
- Então parando Jesus, mandou-o chamar. E chamaram ao cego, dizendo-lhe: Tem confiança! Levanta-te, que ele te chama!
- Ele então, largando sua capa, levantou-se, e veio a Jesus.
- E respondendo Jesus, disse-lhe: Que queres que te faça? E o cego lhe disse: Mestre, que eu recupere a vista.
- E Jesus lhe disse: Vai-te; tua fé te salvou. E logo recobrou a vista. E seguia a Jesus pelo caminho.
Capítulo 11
- E quando já estavam perto de Jerusalém, em Betfagê e Betânia, junto ao Monte das Oliveiras, mandou dois de seus discípulos.
- E disse-lhes: Ide à aldeia que está diante de vós. E assim que nela entrardes, achareis um poldro atado, sobre o qual homem algum se assentou; desatai-o, e trazei-o.
- E se alguém vos disser: Por que fazeis isso? Dizei que o Senhor necessita dele; e logo o mandará para cá.
- E foram, e acharam o poldro atado à porta, do lado fora, entre dois caminhos; e soltaram-no.
- E uns dos que estavam ali lhes disseram: Que fazeis, soltando ao poldro?
- Eles então lhes disseram como Jesus havia mandado; e deixaram-nos ir.
- E trouxeram o poldro a Jesus, e puseram sobre ele suas vestes; e assentou-se sobre ele.
- E muitos estendiam suas vestes pelo caminho; e outros cortavam ramos das árvores, e espalhavam-nos pelo caminho.
- E os que iam diante, e os que seguiam, clamavam, dizendo: Hosana! Bendito o que vem em o nome do Senhor!
- Bendito seja o reino de nosso pai Davi, o que vem em o nome do Senhor! Hosana nos altíssimos céus!
- E entrou o Senhor em Jerusalém, no templo. E havendo visto ao redor todas as coisas, e sendo já tarde, saiu-se para Betânia com os doze.
- E no dia seguinte, saindo eles de Betânia, teve fome.
- E vendo de longe uma figueira que tinha folhas, veio a ver se porventura acharia nela alguma coisa. E assim que chegou a ela, não achou senão folhas; porque não era tempo de figos.
- Então Jesus, respondendo, disse à figueira: Nunca de ti coma ninguém mais fruto, para sempre. E isto ouviram seus discípulos.
- Vieram, pois, a Jerusalém. E entrando Jesus no templo, começou a lançar fora aos que no templo vendiam e compravam; e transtornou as mesas dos cambistas, e as cadeiras dos que vendiam pombas.
- E não consentia que ninguém levasse vaso algum pelo templo.
- E ensinava-os, dizendo: Porventura não está escrito que minha casa, casa de oração será chamada para todas as gentes? Mas vós outros a tendes feito covil de ladrões.
- E ouvindo os escribas e os príncipes dos sacerdotes isto, buscavam como o matariam; porque o temiam, porquanto toda a multidão estava fora de si com sua doutrina.
- Mas como já entardecia, saiu-se Jesus da cidade.
- E passando pela manhã, viram que a tal figueira tinha se secado desde as raízes.
- Então Pedro, lembrando-se, disse-lhe: Mestre, eis que a figueira que amaldiçoaste tem se secado.
- E respondendo Jesus, disse-lhes: .
- Porque em verdade vos digo que, qualquer que disser a este monte: Ergue-te, e lança-te no mar; e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará o que diz, tudo quanto disser lhe será feito.
- Portanto vos digo que, tudo o que, orando, pedirdes; crede que recebereis, e vos será feito.
- E quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém; para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe também a vós outros as vossas ofensas.
- Porque se vós outros não perdoardes, tampouco vosso Pai que está nos céus vos perdoará vossas ofensas.
- E tornaram a Jerusalém. E andando ele pelo templo, vieram a ele os príncipes dos sacerdotes, e os escribas, e os anciãos.
- E disseram-lhe: Com que autoridade fazes estas coisas? E quem te deu esta autoridade, para estas coisas fazeres?
- E Jesus então, respondendo, disse-lhes: Eu vos perguntarei também uma palavra, e respondei-me. E então vos direi com que autoridade faço estas coisas:
- O batismo de João era do céu, ou dos homens? Respondei-me.
- Então eles pensaram entre si, dizendo: Se dissermos “do céu”, dir-nos-á: Por que, pois, não lhe destes crédito?
- E se dissermos “dos homens”, tememos ao povo; porque todos tinham de João que verdadeiramente era profeta.
- E respondendo, disseram a Jesus: Não sabemos. Então, respondendo Jesus, disse-lhes: Tampouco eu vos direi com que autoridade faço estas coisas.
Capítulo 12
- E começou a lhes dizer por parábolas: Plantou um homem uma vinha; e cercou-a com valado, e cavou-lhe um lagar. Edificou-lhe uma torre, e arrendou-a a uns lavradores; e então partiu-se para longe.
- E chegado o tempo, mandou um servo aos lavradores; para que dos lavradores recebesse do fruto da vinha.
- Mas eles, tomando-o, feriram-no; e mandaram-no vazio.
- E tornou a mandar-lhes outro servo. Mas eles, apedrejando-o, feriram-no na cabeça; e tornaram-no a mandar afrontado.
- E tornou a mandar outro, e àquele mataram. E a outros muitos; e a uns feriram, e a outros mataram.
- Tendo, pois, ele ainda um filho seu, amado, mandou-lhes também, por fim, a este, dizendo: Pelo menos terão em reverência a meu filho.
- Mas aqueles lavradores disseram entre si: Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, e será nossa a herdade.
- E pegando-o, mataram-no; e lançaram-no fora da vinha.
- Que, pois, fará o senhor da vinha? Virá, e destruirá a estes lavradores, e dará sua vinha a outros.
- Nem mesmo esta Escritura tendes lido? A pedra que os que edificavam reprovaram, esta é posta por cabeça de esquina.
- Pelo Senhor foi feito isto, e é coisa maravilhosa aos nossos olhos.
- E procuraram prendê-lo, mas temiam a multidão; porque entendiam que acerca deles dizia aquela parábola. E deixando-o, foram-se.
- E mandaram-lhe alguns dos fariseus, e dos herodianos, para que o apanhassem em alguma palavra.
- E vindo eles, disseram-lhe: Mestre, bem sabemos que és homem verdadeiro, e não fazes caso de ninguém, porque não atentas para a aparência dos homens; antes, com verdade ensinas o caminho de Deus. É lícito dar tributo a César, ou não? Daremos, ou não daremos?
- Então ele, entendendo sua hipocrisia, disse-lhes: Por que me tentais? Trazei-me a moeda, para que a veja.
- E eles lha trouxeram. E disse-lhes: De quem é esta imagem, e a inscrição? E eles disseram: De César.
- E respondendo Jesus, disse-lhes: Pagai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. E maravilharam-se dele.
- Então vieram a ele os saduceus, que dizem não haver ressurreição; e perguntaram-lhe, dizendo:
- Mestre, Moisés nos escreveu que, se o irmão de alguém morresse, e deixasse mulher, e não deixasse filhos; que seu irmão tome sua mulher, e desperte semente a seu irmão.
- Foram, pois, sete irmãos; e o primeiro tomou mulher e, morrendo, não deixou semente.
- E tomou-a o segundo, e morreu; e nem aquele tampouco deixou semente. E o terceiro da mesma maneira.
- E tomaram-na os sete, e tampouco deixaram semente. E por fim, morreu também a mulher.
- Na ressurreição, pois, quando ressuscitarem, mulher de qual deles será? Porque os sete a tiveram por mulher.
- Então respondendo Jesus, disse-lhes: Porventura não errais vós outros, porquanto não sabeis as Escrituras, nem a potência de Deus?
- Porque, quando ressurgirem dentre os mortos, nem maridos tomam mulheres, nem mulheres, maridos; mas são como os anjos que estão nos céus.
- E acerca dos mortos, que hajam de ressuscitar, não tendes lido no livro de Moisés, como Deus lhe falou na sarça, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó?
- Deus não é Deus de mortos, senão Deus de vivos. Assim que mui errados andais.
- E chegando-se um dos escribas, que os ouvira disputar, e sabia que lhes tinha respondido bem, perguntou-lhe: Qual é, de todos, o primeiro mandamento?
- E Jesus lhe respondeu: O primeiro mandamento de todos é: Ouve, Israel: o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor.
- Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo teu coração, e de toda tua alma, e de todo teu pensamento, e de todas tuas forças. Este é o primeiro mandamento.
- E o segundo, semelhante a este, é: Amarás a teu próximo, como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior que estes.
- Então o escriba lhe disse: Mui bem, mestre; e com verdade disseste que um só Deus há, e além dele não há outro.
- E que amá-lo de todo coração, e de todo entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças; e amar ao próximo como a si mesmo, mais é que todos os holocaustos e sacrifícios.
- Jesus então, vendo que havia respondido sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do reino de Deus. E já ninguém lhe ousava mais perguntar nada.
- E respondendo Jesus, dizia, ensinando no templo: Como dizem os escribas que o Cristo é filho de Davi?
- Porque o próprio Davi disse, pelo Espírito Santo: Disse o Senhor a meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que ponha a teus inimigos por estrado de teus pés.
- Logo, chamando-lhe o próprio Davi seu Senhor, como então é seu filho? E a multidão do povo o ouvia de boa vontade.
- E dizia-lhes em sua doutrina: Guardai-vos dos escribas, que gostam de andar com vestes compridas, e amam as saudações nas praças.
- E as primeiras cadeiras têm nas sinagogas, e os primeiros assentos nas ceias.
- Que engolem as casas das viúvas, com o pretexto de que fazem longa oração. Estes receberão mais grave condenação.
- E estando Jesus assentado diante da arca da oferta, estava olhando como o povo lançava dinheiro na arca. E muitos ricos lançavam muito nela.
- E vindo também uma pobre viúva, lançou dois ceitis, que é um quarto.
- Então, chamando Jesus a seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva lançou mais que todos os que lançaram na arca.
- Porque todos lançaram nela do que lhes sobeja; mas esta, de sua pobreza, lançou nela tudo quanto tinha, todo o seu sustento.
Capítulo 13
- E saindo ele do templo, disse-lhe um de seus discípulos: Mestre, olha que pedras, e que edifícios estes!
- E respondendo Jesus, disse-lhe: Vês tu estes grandes edifícios? Não ficará pedra sobre pedra, que não seja derribada.
- E assentando-se ele no Monte das Oliveiras, perante o templo, perguntaram-lhe à parte Pedro e Tiago, e João e André:
- Dize-nos: Quando serão estas coisas? E que sinal haverá de quando todas estas coisas se hão de acabar?
- E respondendo-lhes Jesus, começou a dizer: Olhai que ninguém vos engane.
- Porque virão muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e a muitos enganarão.
- Mas quando ouvirdes de guerras, e de rumores de guerras, não vos turbeis; porque convém fazer-se assim, mas ainda não será o fim.
- Porque gente se levantará contra gente, e reino contra reino; e haverá tremores de terra em diversos lugares; e haverá fomes, e alvoroços. Estas coisas são somente princípios de angústias.
- Mas vós outros, olhai por vós mesmos; porque vos entregarão em conselhos e em sinagogas, e sereis açoitados, e ante presidentes e reis sereis apresentados, por causa de mim, .
- Mas entre todas as gentes importa que primeiro seja pregado o evangelho.
- E quando vos trouxerem para vos entregar, não vos preocupeis com o que haveis de dizer, nem o penseis; mas o que naquela hora vos for dado, isso falai. Porque não sois vós outros os que falais, senão o Espírito Santo.
- E entregará à morte o irmão ao irmão, e o pai ao filho; e levantar-se-ão os filhos contra os pais, e matá-los-ão.
- E sereis aborrecidos de todos, por causa de meu nome; mas o que perseverar até o fim, esse será salvo.
- Porém quando virdes a abominação da assolação, que foi dita pelo profeta Daniel, que está onde não deve (quem lê, entenda), então os que estiverem na Judeia, fujam aos montes.
- E o que estiver sobre o telhado, não desça à casa; nem entre para tomar alguma coisa de sua casa.
- E o que estiver no campo, não torne atrás para tomar sua capa.
- Mas ai das grávidas, e das que amamentarem naqueles dias!
- Orai, pois, para que não suceda vossa fuga no inverno.
- Porque serão aqueles dias de tal aflição, qual nunca foi, desde o princípio da criação das coisas que Deus criou, até este tempo; nem nunca será.
- E se o Senhor não abreviasse aqueles dias, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos escolhidos, os quais ele escolheu, abreviou aqueles dias.
- E então, se alguém vos disser “eis aqui o Cristo”, ou “ei-lo ali”, não o creiais.
- Porque se levantarão falsos cristos, e falsos profetas; e farão sinais e prodígios para enganar, se possível fosse, até mesmo aos escolhidos.
- Mas vós outros, olhai: eis que vos tenho dito tudo de antemão.
- Porém naqueles dias, depois daquela aflição, o Sol se escurecerá; e a Lua não mais dará seu resplendor.
- E as estrelas cairão do céu, e as virtudes que estão no céu serão comovidas.
- E então verão o Filho do homem, que virá nas nuvens com muito poder e glória.
- E ele então mandará seus anjos; e ajuntará seus escolhidos dos quatro ventos, desde a extremidade da terra, até a extremidade do céu.
- Da figueira aprendei a semelhança: quando já seu ramo se vai fazendo tenro, e brota folhas, bem sabeis que já está perto o verão.
- Assim também vós outros, quando virdes que estas coisas sucedem, sabei que já está perto, às portas.
- Em verdade vos digo que não passará esta geração, sem que todas estas coisas sejam feitas.
- O céu e a terra passarão, mas minhas palavras não passarão.
- Porém daquele dia, e daquela hora, ninguém sabe; nem mesmo os anjos que estão no céu, nem o próprio Filho, senão o Pai.
- Olhai, vigiai, e orai; porque não sabeis quando será o tempo.
- Como a um homem que, partindo-se para longe, deixou sua casa; e deu a seus servos autoridade, e a cada um sua obra, e ao porteiro mandou que vigiasse.
- Vigiai, pois; porque não sabeis quando virá o senhor da casa, se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã.
- Para que, quando vier de improviso, não vos ache dormindo.
- E as coisas que a vós outros vos digo, a todos as digo: Vigiai.
Capítulo 14
- E dali a dois dias era a Páscoa, e a festa dos pães ázimos; e buscavam os príncipes dos sacerdotes e os escribas como o prenderiam por cilada, e o matariam.
- E diziam: Não em dia de festa, para que não se faça alvoroço entre o povo.
- E estando ele em Betânia, na casa de Simão, o leproso, e assentado à mesa, veio uma mulher que trazia , de alto preço; e quebrando o alabastro, derramou-lho sobre sua cabeça.
- E houve alguns que se indignaram entre si, e disseram: Para que se fez tal desperdício do unguento?
- Porque bem se podia isto vender por mais de trezentos denários, e dar-se aos pobres. E bramavam contra ela.
- Mas Jesus lhes disse: Deixai-a; por que a importunais? Boa obra ela me tem feito.
- Que pobres, sempre os tendes convosco; e quando quiserdes, lhes podeis fazer o bem. Porém a mim, nem sempre me tereis.
- Esta, o que podia, fez; porque se adiantou a ungir meu corpo, como preparação da sepultura.
- Em verdade vos digo que, onde quer que, em todo o mundo, este evangelho for pregado; também isto, que esta fez, será dito em sua memória.
- Então Judas Iscariotes, um dos doze, foi aos príncipes dos sacerdotes para lhe entregar.
- E eles, ouvindo-o, contentaram-se, e prometeram dar-lhe dinheiro; e buscava desde então uma oportunidade de como o entregaria.
- E no primeiro dia dos pães ázimos, quando sacrificavam a Páscoa, seus discípulos lhe disseram: Onde queres que te vamos preparar para comeres a Páscoa?
- E mandou dois de seus discípulos, e disse-lhes: Ide à cidade, e encontrar-vos-á um homem que leva um cântaro de água; segui-o.
- E onde quer que ele entrar, dizei ao senhor da casa: O mestre diz: Onde está o aposento onde hei de comer a Páscoa com meus discípulos?
- E ele vos mostrará um grande cenáculo, ornado e já pronto; preparai-nos ali a Páscoa.
- E foram seus discípulos, e vieram à cidade; e acharam tal como lhes tinha dito, e prepararam a Páscoa.
- E chegada a tarde, veio com os doze.
- E como se assentassem à mesa, e comessem, disse Jesus: Em verdade vos digo que um dentre vós, que comigo está comendo, me há de entregar.
- Então eles começaram a entristecer-se, e a dizer-lhe cada um por si: Porventura sou eu? E outro: Porventura sou eu?
- E respondendo ele, disse-lhes: É um dos doze, o qual molha comigo no prato.
- Em verdade, o Filho do homem vai como acerca dele está escrito, mas ai daquele homem por quem o Filho do homem é traído: bom teria sido ao tal homem não haver nascido!
- E estando eles comendo, tomou Jesus o pão e, abençoando, partiu-o. E deu-lho, e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo.
- E tomando o cálice, e tendo dado graças, deu-lho; e beberam dele todos.
- E disse-lhes: Isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que por muitos se derrama.
- Em verdade vos digo que não mais beberei do fruto da vide, até aquele dia quando novo o beber no reino de Deus.
- E depois de cantarem o hino, saíram-se rumo ao Monte das Oliveiras.
- E Jesus lhes disse: Todos vós outros sereis escandalizados em mim esta noite. Porque escrito está: Ferirei ao pastor, e serão as ovelhas espalhadas.
- Mas depois de haver ressurgido, irei adiante de vós outros à Galileia.
- Então Pedro lhe disse: Ainda que todos se escandalizem, eu não serei escandalizado.
- E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje mesmo, nesta noite, antes que o galo cante duas vezes, tu me negarás três.
- Mas ele muito mais dizia: Se contigo me for necessário morrer, não te negarei. E todos diziam também o mesmo.
- E vieram ao lugar que se chama Getsêmani. E disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, até que ore.
- E tomou consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, e começou a se atemorizar e angustiar.
- E disse-lhes: Totalmente triste está a minha alma, até a morte. Esperai aqui, e vigiai.
- E indo-se um pouco mais adiante, prostrou-se em terra; e orou que, se fosse possível, passasse dele aquela hora.
- E disse: Aba, Pai, todas as coisas te são possíveis; passa de mim este cálice! Porém não o que eu quero, senão o que tu quiseres.
- E veio, e achou-os dormindo. E disse a Pedro: Simão, dormes? Não pudeste vigiar uma hora sequer?
- Vigiai, e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, em verdade, está pronto, mas a carne é fraca.
- E tornando-se a ir, orou; e então disse as mesmas palavras.
- E tornando, achou-os outra vez dormindo; porque seus olhos estavam carregados, e não sabiam o que lhe responder.
- E veio pela terceira vez, e disse-lhes: Podeis já dormir, e descansar. Basta, vinda é a hora: eis que o Filho do homem é entregue nas mãos dos pecadores.
- Levantai-vos, vamo-nos; eis que o que me trai está perto.
- E logo, estando ele ainda falando, veio Judas, que era um dos doze; e com ele muita companhia, com espadas e bastões, da parte dos príncipes dos sacerdotes, e dos escribas, e dos anciãos.
- E o que o traía lhes tinha dado um comum sinal, dizendo: Àquele que eu beijar, esse é; prendei-o, e levai-o a bom recato.
- E como veio, chegou-se logo a ele, e disse-lhe: Mestre, mestre; e beijou-o.
- Então lançaram as mãos nele, e prenderam-no.
- E um dos que ali presentes estavam, puxou da espada, e feriu ao servo do sumo pontífice; e cortou-lhe a orelha.
- E respondendo Jesus, disse-lhes: Como a ladrão, com espadas e com bastões, me saístes a prender?
- A cada dia estava convosco, ensinando no templo, e não me pegastes; mas assim convém, para que se cumpram as Escrituras.
- Então deixando-o, fugiram todos.
- Porém um certo rapazinho o ia seguindo, coberto com um lençol sobre o corpo nu; e pegaram dele os moços.
- Mas ele, largando o lençol, fugiu deles desnudo.
- E trouxeram a Jesus ao sumo pontífice; e ajuntaram a ele todos os príncipes dos sacerdotes, e os anciãos, e os escribas.
- Pedro, porém, o seguiu de longe, até dentro da sala do sumo pontífice; e estava assentado com os servidores, e aquentando-se junto ao fogo.
- E os príncipes dos sacerdotes, e todo o concílio, buscavam algum testemunho contra Jesus, para o entregarem à morte; mas não o achavam.
- Porque muitos diziam falso testemunho contra ele; mas seus testemunhos não concordavam entre si.
- Então, levantando-se uns, deram contra ele falso testemunho, dizendo:
- Nós lhe ouvimos dizer: Eu derribarei este templo, que é feito de mãos, e em três dias edificarei outro, feito sem mãos.
- Mas nem ainda assim concordava o testemunho destes.
- Levantando-se então no meio o sumo pontífice, perguntou a Jesus, dizendo: Não respondes coisa alguma? O que testificam estes contra ti?
- Mas ele se calava, e nada respondeu. O sumo pontífice lhe tornou a perguntar, e disse-lhe: És tu o Cristo, o filho do Deus bendito?
- E Jesus lhe disse: Eu o sou. E vereis ao Filho do homem assentado à destra da potência de Deus, e que vem nas nuvens do céu.
- Então o pontífice, rasgando suas vestes, disse: Que mais necessidade temos de testemunhas?
- Tendes ouvido a blasfêmia! Que vos parece? E todos o condenaram como culpado de morte.
- E começaram alguns a cuspir nele, e a cobrir-lhe o rosto, e dar-lhe murros, e a dizer-lhe: Profetiza! E os servidores lhe davam bofetadas.
- E estando Pedro embaixo, no pátio, veio uma das criadas do sumo pontífice.
- E assim que viu a Pedro, o qual estava se aquentando, atentou para ele, e disse: Também tu estavas com Jesus, o nazareno.
- Mas ele o negou, dizendo: Não o conheço, nem sei o que dizes. E saiu-se para fora, junto à entrada; e cantou o galo.
- E a criada, vendo-o outra vez, começou a dizer aos que ali estavam: É este um deles.
- Mas ele negou outra vez. E pouco depois, disseram os que ali estavam outra vez a Pedro: Verdadeiramente és um deles; pois também és galileu, e teu falar é semelhante.
- E ele começou a amaldiçoar, e a jurar: Não conheço a esse homem que dizeis!
- E cantou o galo pela segunda vez; então Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe tinha dito: Antes que o galo cante duas vezes, tu me negarás três. E retirando-se dali, chorou.
Capítulo 15
- E tão logo amanheceu, tiveram conselho os sumos pontífices com os anciãos, e com os escribas, e com todo o concílio; e amarrando a Jesus, o levaram, e entregaram-no a Pilatos.
- E perguntou-lhe Pilatos: És tu o rei dos judeus? E respondendo ele, disse-lhe: Tu o dizes.
- E acusavam-no os príncipes dos sacerdotes de muitas coisas; .
- E perguntou-lhe outra vez Pilatos, dizendo: Não respondes coisa alguma? Olha quantas coisas testificam contra ti!
- Mas Jesus nada mais respondeu; de maneira que Pilatos se maravilhava.
- Porém no dia da festa, lhes soltava um preso, qualquer que eles pedissem.
- E havia um que se chamava Barrabás, preso com seus companheiros, os da revolta; os quais numa revolta tinham cometido uma morte.
- E a multidão, dando brados, começou a pedir que ele fizesse como sempre lhes tinha feito.
- E Pilatos lhes respondeu, dizendo: Quereis que vos solte o rei dos judeus?
- Porque bem sabia ele que, por inveja, o tinham os príncipes dos sacerdotes entregue.
- Mas os príncipes dos sacerdotes incitaram a multidão; para que lhes soltasse, antes, a Barrabás.
- E respondendo Pilatos, disse-lhes outra vez: Que, pois, quereis que faça do que chamais “rei dos judeus”?
- E eles tornaram a dar brados: Crucifica-o!
- Mas Pilatos lhes dizia: Pois que mal fez? E eles gritavam ainda mais: Crucifica-o!
- E querendo Pilatos satisfazer ao povo, soltou-lhes a Barrabás; e entregou a Jesus, açoitado, para que fosse crucificado.
- Então os soldados o levaram adentro, à sala, isto é, à audiência; e ajuntaram toda a tropa.
- E vestiram-no de púrpura, e puseram-lhe uma coroa tecida de espinhos.
- E começaram a saudá-lo, dizendo: Salve, ó rei dos judeus!
- E feriam-no na cabeça com uma cana, e cuspiam nele; e adoravam-no, postos de joelhos.
- E depois de o terem escarnecido, despiram-lhe a púrpura, e vestiram-no de suas próprias vestes; e levaram-no fora, para o crucificarem.
- E constrangeram a um certo Simão, cireneu, que por ali passava, e vinha do campo – o pai de Alexandre e de Rufo –, para que levasse sua cruz.
- E levaram-no ao lugar de Gólgota, que traduzido quer dizer “o lugar da caveira”.
- E deram-lhe de beber vinho preparado com mirra; mas ele não o tomou.
- E depois de o terem crucificado, repartiram suas vestes, lançando sortes sobre elas; para ver o que levaria cada um.
- E era a hora das três, quando o crucificaram.
- E o título de sua causa estava sobre ele escrito: “o rei dos judeus”.
- E crucificaram com ele dois ladrões, um à sua direita, e outro à sua esquerda.
- E cumpriu-se assim a Escritura, que diz: E com os ímpios foi contado.
- E os que passavam, o injuriavam, meneando suas cabeças, e dizendo: Ah, tu que derribas o templo, e em três dias o edificas!
- Salva-te a ti mesmo, e desce da cruz!
- E da mesma maneira também os príncipes dos sacerdotes, juntamente com os escribas, diziam uns para os outros, zombando: A outros salvou, mas a si mesmo não se pode salvar!
- O Cristo, o rei de Israel, desça agora da cruz, para que o vejamos, e o creiamos! Também os que juntamente com ele estavam crucificados, o injuriavam.
- E vinda a hora sexta, fizeram-se trevas sobre toda a terra, até a hora nona.
- E à hora nona, exclamou Jesus com grande voz, dizendo: “Eloi, Eloi, lamma sabachtâni”; que traduzido quer dizer: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste”?
- E ouvindo-o uns dos que ali estavam, diziam: Eis que a Elias chama.
- E correu um, e encheu de vinagre uma esponja. E pondo-a em uma cana, deu-lhe de beber, dizendo: Deixai, vejamos se virá Elias a tirá-lo.
- Mas Jesus, dando um grande brado, expirou.
- Então o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo.
- E o centurião que ali diante dele estava, vendo que assim clamando havia expirado, disse: Verdadeiramente Filho de Deus era este homem.
- E também ali estavam algumas mulheres, olhando de longe; entre as quais estava Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José, e Salomé.
- As quais, estando ele ainda na Galileia, o seguiam, e lhe serviam; e também outras muitas que, juntamente com ele, tinham subido a Jerusalém.
- E sendo já tarde, porque era a preparação, isto é, a véspera do sábado;
- Veio José de Arimateia, senador honrado, o qual também esperava o reino de Deus; e ousadamente entrou junto a Pilatos, e pediu-lhe o corpo de Jesus.
- E Pilatos se maravilhou de que já estivesse morto. E chamando ao centurião, perguntou-lhe se já estava morrido havia muito.
- E havendo-o entendido do centurião, deu o corpo a José.
- O qual comprou um lençol fino e, tirando-o, envolveu-o no lençol fino; e pô-lo em um sepulcro lavrado numa penha, e revolveu uma pedra à porta do sepulcro.
- E Maria Madalena, e também Maria, mãe de José, olhavam pra ver onde o punham.
Capítulo 16
- E passado o sábado, Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram especiarias, para irem ungi-lo.
- E bem cedo de manhã, no primeiro dia da semana, vieram ao sepulcro, tendo já saído o sol.
- E diziam entre si: Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro?
- E atentando, viram a pedra já revolvida (porque era grande).
- E entrando no sepulcro, viram um rapaz assentado do lado direito, coberto de uma roupa comprida branca; e espantaram-se.
- Mas ele lhes disse: Não temais; buscais a Jesus Nazareno, que foi crucificado? Já está ressuscitado; não está mais aqui. Eis aqui o lugar onde o puseram.
- Mas ide, dizei a seus discípulos, e a Pedro, que ele vai adiante de vós outros à Galileia. Ali o vereis, como ele mesmo vos disse.
- E saindo-se elas apressadamente, fugiram do sepulcro. Porque tremor as tinha tomado, e espanto; nem diziam nada a ninguém, porque temiam.
- Mas quando Jesus ressurgiu pela manhã, ao primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha lançado fora sete demônios.
- Indo ela, fê-lo saber aos que haviam estado com ele; os quais estavam tristes, e chorando.
- E ouvindo eles que Jesus vivia, e que por ela havia sido visto, não o creram.
- Mas depois ele apareceu de outra forma a dois deles, que iam caminhando para o campo.
- E foram estes, e fizeram-no saber aos outros; mas nem assim estes creram.
- Finalmente apareceu aos onze, estando eles assentados à mesa; e censurou-os por sua incredulidade e dureza de coração, por não haverem crido nos que já o tinham visto ressuscitado.
- E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.
- Quem crer e for batizado, será salvo; mas quem não crer, será condenado.
- E estes sinais seguirão aos que crerem: por meu nome, lançarão fora aos demônios, falarão novas línguas;
- Tirarão serpentes, e se beberem coisa alguma mortífera, não lhes causará dano nenhum; sobre os enfermos porão as mãos, e serão curados.
- E havendo-lhes o Senhor falado, foi recebido acima no céu; e assentou-se à direita de Deus.
- E saindo eles, pregaram por todas as partes; operando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que após ela se seguiam. Amém.